Coronavírus

Especialistas alertam para segunda onda da pandemia de covid-19 no DF

Diante da possibilidade de mais um aumento da contaminação pelo novo coronavírus, o Distrito Federal e os brasilienses precisam estar preparados para enfrentá-lo. Seja redobrando os cuidados ou seguindo em isolamento, ações conjuntas podem evitar o que está acontecendo na Europa

Mariana Machado
Samara Schwingel
postado em 22/11/2020 07:00
 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)

Desde a segunda quinzena de agosto, a média de casos de covid-19 mostra uma tendência de queda na incidência da doença no Distrito Federal, segundo os dados da Secretaria de Saúde. Contudo, pode ser cedo para comemorar. Países como Estados Unidos, Japão e França estão em alerta com novos picos de casos, o que deixa as pessoas atentas para a possibilidade de uma segunda onda também no Brasil. O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), declarou que, caso esta possibilidade se concretize, a capital federal está pronta para enfrentá-la. Especialistas, no entanto, lembram que esta não é uma realidade distante e alertam para a necessidade de manter os protocolos de segurança sanitária ativos tanto para quem já foi infectado quanto para quem ainda não teve contato com o vírus.

O físico Tarcísio Rocha Filho explica que, no DF, cerca de 22% dos habitantes contraíram a doença. A imunidade de rebanho, isto é, a proteção adquirida por uma população quando um número suficiente de pessoas está imunizada, só é obtida quando a taxa de infecção está entre 60% e 70%. Isto quer dizer que ainda há uma grande margem para ação do coronavírus. “Em Brasília, o número de casos está diminuindo, com tendência a querer estabilizar um pouco. Mas, se as pessoas começarem a naturalizar a situação, e os contatos retomarem, pode haver um novo aumento dos casos em vários lugares.”

O pesquisador faz parte do Núcleo de Altos Estudos Estratégicos para o Desenvolvimento da Universidade de Brasília (UnB), que tem analisado e feito projeções da pandemia a nível nacional desde os primeiros casos. Os dados são obtidos em conjunto por professores da UnB, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), e Universidade do Estado da Bahia (Uneb).

O boletim epidemiológico divulgado ontem pela Secretaria de Saúde mostra que o Distrito Federal soma mais de 223,3 mil casos e mais de 3,8 mil mortes provocadas pelo novo coronavírus. É possível evitar uma segunda onda, porém, para isso, é preciso manter os protocolos de segurança e contar com apoio da população. Mesmo aqueles que já contraíram o vírus devem estar atentos, uma vez que possíveis casos de reinfecção já são detectados pelo mundo.

É o caso de Ana Márcia Cardoso, 52. No fim de agosto, a dentista foi diagnosticada com covid-19. Segundo ela, a princípio, os sintomas eram leves, mas ficaram piores com o passar do tempo. “Não cheguei a ficar internada, mas foi um período muito complicado e, até hoje, sofro com sequelas, como falta de ar e dores no corpo”, conta. Após vencer a doença, a servidora pública, mesmo apreensiva, precisou voltar ao trabalho presencial. “Como sou da área de saúde pública, não posso parar, a vida tem de continuar, pois as pessoas precisam de atendimento”, afirma.

Mesmo após a infecção, a moradora da Octogonal decidiu redobrar os cuidados e protocolos de segurança. Para ela, é uma questão de responsabilidade social. “Não quero que ninguém passe pelo que eu passei. Por isso, carrego álcool em gel para todo lugar que vou; troco de roupa no trabalho para não chegar com roupa suja em casa; e uso máscaras mais potentes”, destaca. Ana ainda conta que adotou protocolos de higienização dentro de casa. “Na porta, deixo um pano com água sanitária para higienizar os sapatos, tenho álcool na entrada e separo as roupas que uso no trabalho para serem lavadas separadamente”, completa.

Cuidados mantidos

Infectologista-chefe do Hospital Santa Lúcia, Werciley Júnior esclarece que o DF ainda vive o final do primeiro ciclo da doença. “Não temos certeza que (a segunda onda) chegará, mas é importante estarmos preparados”, considera. O especialista ainda explica que, não necessariamente, esta onda é pior do que a primeira. “Agora, já sabemos um pouco mais sobre o vírus e como enfrentá-lo. Por isso, é uma tendência que haja mais casos, porém menor letalidade”, completa.

O médico afirma que, para ter melhor controle da doença, é preciso que as pessoas não afrouxem as medidas de segurança. “Sabemos que as pessoas estão cansadas das máscaras, do distanciamento e da higienização constante, mas é preciso que elas continuem seguindo os protocolos”, diz. É o que tem feito o militar aposentado Dielson Freitas, 66 anos. Morador do Jardim Botânico, ele segue, desde março, cumprindo as indicações de higienização e distanciamento.

Recluso em casa, ele se limita a ir ao mercado e fazer caminhada antes mesmo do sol nascer. “Sou diabético, cardiopata grave, e resolvi tomar todo o cuidado possível para não ser acometido pela doença”, declara. “Esse vírus não perdoa nem velho nem novo, ninguém. É geral e irrestrito. Eu não acredito em segunda onda. Acredito em primeira. É tudo uma continuação do que já é”, argumenta. “O brasileiro é meio descrente. É a pessoa que só tranca a porta depois que a casa foi arrombada. Passou a primeira onda e não pegou, aí vai relaxando.” Enquanto isso, ele mantém todos os cuidados possíveis. “Cada um deve fazer a sua parte. Não sei se sou cauteloso demais, mas as pessoas deveriam se cuidar um pouco mais e ser mais responsáveis. O vírus está aí, existe, é real. Então, cuidado, e vamos tocar a vida.”

Prevenção

Passar pela segunda onda não é algo inevitável. Segundo o médico Hemerson Luz, caso o governo local mantenha a obrigatoriedade dos protocolos de segurança sanitária, é possível evitar um aumento descontrolado do número de casos. “Na Europa, houve uma liberação abrupta das atividades e as pessoas saíram sem seguir as medidas necessárias. Por isso, não houve controle”, considera. O especialista avalia o comportamento dos brasilienses em relação às reaberturas. “No DF, há uma liberação gradual de atividades, sempre com protocolos. Isso oferece um maior controle do andamento da doença. Caso a população continue seguindo as normas, o controle sobre a covid-19 se manterá”, explica.

Em relação à prevenção, a Secretaria de Saúde informou ao Correio que realizará um inquérito epidemiológico para avaliar o índice de transmissibilidade e a circulação da covid-19 no DF. Para esse inquérito, serão aplicados 10 mil testes. Em cada região administrativa serão sorteados 234 moradores para participar da testagem, assim, será possível saber se a pessoa tem os anticorpos do vírus ou se está infectada. Com essa medida, a pasta espera identificar eventuais riscos de uma segunda onda e adotar novas medidas de prevenção e combate à pandemia. A pasta também informou que 150 mil testes rápidos, entregues em novembro pelo Ministério da Saúde, serão disponibilizados para as unidades de saúde do DF. Além disso, o Laboratório Central (Lacen) é reabastecido mensalmente com 18 mil kits.

 

  • A dentista Ana Márcia Cardoso teve covid-19 em agosto:
    A dentista Ana Márcia Cardoso teve covid-19 em agosto: "Não cheguei a ficar internada, mas foi um período muito complicado e, até hoje, sofro com sequelas" Foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press
  • Dielson Freitas, militar aposentado; foto de arquivo, tirada antes da pandemia
    Dielson Freitas, militar aposentado; foto de arquivo, tirada antes da pandemia Foto: Arquivo pessoal
  • Máscara que deixa descobertos o nariz e a boca não protegem contra uma eventual contaminação; além disso, é preciso higienizar as mãos antes e depois de tocar o rosto
    Máscara que deixa descobertos o nariz e a boca não protegem contra uma eventual contaminação; além disso, é preciso higienizar as mãos antes e depois de tocar o rosto Foto: Ed Alves/CB/D.A Pres - 4/6/20
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