Uma bebê de seis semanas precisou passar por uma cirurgia devido a um fenômeno raro. Chamado cientificamente de fetus in fetu (FIF), a condição pode ocorrer em um a cada 500 mil nascimentos. É como se um feto em desenvolvimento englobasse o outro que se mantém vivo no organismo do irmão, tornando-se um parasita.
A condição pode ocorrer nas três primeiras semanas no útero da mãe. O feto englobado, porém, não consegue desenvolver-se normalmente, nem sobreviver fora do organismo do hospedeiro. Ele não possui os órgãos essenciais desenvolvidos e nutre-se do sangue e da energia do irmão.
A retirada da massa embrionária ocorreu com sucesso na última quinta-feira (12/11), no Centro Cirúrgico do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). A bebê já recebeu alta hospitalar.
De acordo com o médico cirurgião pediátrico do Hmib Acimar Cunha Júnior, em casos assim, o gêmeo parasita não tem um corpo humano definido. No caso desse bebê, o feto estava próximo ao intestino delgado e foi retirado e analisado pela área de patologia da unidade que identificou o baço bem definido, fígado e articulações.
“É um caso raro. Tivemos apenas três casos assim no Distrito Federal”, relata Acimar Cunha Júnior. O médico explica que, no mundo, há conhecimento de cerca de cem casos. Os dois outros casos relatados no DF foram diagnosticados no próprio Hmib e no Hospital Universitário de Brasília (HUB).
A descoberta
A mãe da bebê, Micaela Alves da Silva, 25, percebeu que a filha Evelyn chorava bastante, vomitava um líquido verde e estava com semiobstrução intestinal. Ela levou a criança para o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) onde fez uma radiografia e uma tomografia de abdômen. Ao receber o diagnóstico veio o susto. “Foi um choque, nunca tinha visto isso na minha vida”, relata a mãe.
Os sintomas nesses casos são principalmente inchaço e dor no local. Inicialmente, os exames demonstraram a possibilidade de um tumor, mas com as características de ossificação dentro da massa, levantou-se a possibilidade diagnóstica de FIF. Por tratar-se de um caso complexo, a equipe do HRSM encaminhou à criança para o Hmib, que é o hospital referência em cirurgia pediátrica.
Uma equipe formada por quatro cirurgiões, um anestesista, enfermeiros e técnicos de enfermagem fizeram a retirada do feto parasita. O procedimento durou cerca de duas horas e transcorreu com tranquilidade.
“A massa embrionária estava envolvida no mesentério do intestino delgado. Existia um risco de lesão com comprometimento do intestino da paciente”, contaAcimar Cunha Júnior. Mesentério é um órgão que consiste em uma folha de tecido que envolve outros órgãos da cavidade abdominal e se dobra sobre si mesmo.
O médico conta que a não retirada dessa massa faz com que exista o risco de ela continuar crescendo e causar sintomas de obstrução intestinal devido a localização.
Conforto após a operação
Micaela conta que “quase desmaiou” quando recebeu a explicação do fenômeno. Ela esteve o tempo todo ao lado da filha e, aliviada, agradeceu os cuidados que recebeu da equipe do Hospital Materno Infantil de Brasília. “Graças a Deus, aqui no Hmib, fomos bem atendidas e ela está bem. O pior já passou”, comemora.
Mãe e bebê já estão em casa, em Santo Antônio do Descoberto (GO), e a pequena Evelyn poderá levar uma vida normal.
Com informações da SES-DF
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