A fotografia capta mais que imagens: é capaz de registrar sensibilidade e humanidade pelo olhar do fotógrafo. Uma ação do projeto Diário da Inclusão Social (DIS) permitiu ao público conhecer, por meio de fotos, sentimentos a partir da perspectiva de 11 jovens com Síndrome de Down.
Com orientação, treino e disposição, eles saíram às ruas para fotografar pontos turísticos da capital federal. O grupo passou por lugares como Parque da Cidade, Pontão, Praça dos Cristais e Parque Olhos D’água. Em cada espaço, registraram belezas naturais e construídas.
As imagens resultaram na exposição Um olhar especial sobre a natureza, que esteve em shoppings, órgãos públicos e escolas do Distrito Federal. A mostra começou a rodar pelo DF em março de 2019 e, devido à pandemia, está parada no momento.
Os coordenadores do projeto estão em busca de parcerias para expor o talento desses novos profissionais em mais lugares, como outros shoppings. “É importante para nós, para eles e para a sociedade como um todo. Estamos de braços abertos à espera de novos convites”, informa a coordenadora do DIS, Maria de Lourdes Lima.
Para Vitória Mesquita, 22 anos, uma das participantes, a experiência foi o ponto de partida para se encantar pela fotografia e passar um tempo agradável com amigos. “De todos os lugares, gostei mais do Pontão. Lá é bem bonito. Mesmo depois daquele dia, eu ainda continuo tirando foto, sempre tiro”, diz.
Orgulhosa pela filha, a servidora pública Carmen Mesquita, 46, não se surpreendeu com a qualidade das fotos de Vitória porque sempre acreditou na capacidade dela. “Ela sempre apresenta potencial acima. Eles (jovens com Síndrome de Down) são muito espertos. Esse projeto mostra a importância da inclusão e que não há diferença entre as pessoas. A vida tem diversidade”, destaca.
O projeto foi uma oportunidade de integrar a filha e quebrar preconceitos. “Sempre quis fazer essa inclusão porque muitas pessoas têm visão distorcida sobre jovens com Síndrome de Down e precisamos dar um basta nisso. São pessoas com um potencial que poucos conhecem. Projetos assim dão oportunidade para eles se mostrarem”, afirma.
Como começou
A aposentada Maria de Lourdes Lima, 59 anos, é idealizadora do DIS e mãe da Lia Lima, 15. A adolescente tem Síndrome de Down e é uma das fotógrafas do projeto. Lourdes conta que a iniciativa surgiu de uma parceria entre mães e pais de jovens com a alteração genética.
O intuito era gerar um ciclo social por meio de encontros, festas e outras atividades comunitárias. “Começamos o projeto por causa do dia 21 de março, data em que se comemora o Dia Internacional da Síndrome de Down. Foi muito bacana porque conseguimos juntar muitos jovens”, comemora Lourdes.
O trabalho com imagens ocorreu com a ajuda da fotógrafa Gi Sales. Ela passou três anos no DF e desenvolveu a atividade com os jovens com síndrome de Down. Hoje, ela mora em Bento Gonçalves (RS). “Gostamos muito da ideia e nos esforçamos para que nossos filhos se saíssem bem. Cada mãe comprou uma câmera e saímos por lugares bonitos”, relata Lourdes.
Engajamento
Gi Sales, 51, acostumou-se a morar em diferentes lugares do Brasil, por ser casada com um coronel do Exército que costuma mudar de endereço, a trabalho, a cada dois anos. Quando viveu no Rio de Janeiro, Gi conheceu o filho de um amigo. Foi o primeiro contato dela com uma criança que tem Síndrome de Down.
Ela fez um ensaio fotográfico com o menino e se encantou. Quando veio morar em Brasília, em 2017, após transferência do marido, a fotógrafa decidiu se engajar em algum projeto de jovens com Síndrome de Down.
“Conheci o pessoal do DIS e comecei a fotografar voluntariamente”, explica. No DF, Gi trabalhou em diversas organizações não governamentais (ONGs). Fotografou jovens e crianças para calendários e, depois, integrou o projeto da exposição Um olhar especial sobre a natureza.
“Foi um presente de Deus estar em contato com essas pessoas maravilhosas e carinhosas. Era uma troca de amor diária. Elas têm força de vontade para fazer as coisas, aproveitam a oportunidade”, destaca. A fotógrafa sonha voltar a Brasília para dar continuidade ao projeto.
Olhar sensível
Mãe de Carlos Henrique Freire, 25, a professora Luciene Freire, 51, elogia a sensibilidade de pessoas com Síndrome de Down. Foi com esse olhar sensível que os 11 jovens integrantes do projeto conseguiram um resultado de destaque nas imagens. “Na correria do dia a dia, a gente não consegue observar as coisas direito. Eles, sim. Eles enxergam beleza e conseguem mostrar muito mais amor em tudo que fazem”, percebe.
A professora acredita que as atividades propostas pelo projeto ajudam a melhorar a autoestima dos jovens para que se sintam mais capazes para realizar outras funções. “O objetivo do DIS é dar oportunidade. Mostrar para a comunidade que esses meninos e meninas têm potencial. Cada um se destaca em um ramo e as pessoas precisam abrir mais portas para eles”, completa.
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