Veganismo cresce em Brasília e já impacta economia local

Especialistas avaliam que o mercado no Distrito Federal voltado para a população veg está em crescimento e que mais estabelecimentos buscam atender a este público com ofertas variadas de produtos

Samara Schwingel
postado em 08/11/2020 06:00
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

Neste mês, comemorou-se o Dia Mundial do Veganismo. Essa prática, que consiste na exclusão de alimentos de origem animal da alimentação, além de despertar curiosidade, impacta o mercado de alimentação do Distrito Federal, como confirma o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do DF (Abrasel-DF), Beto Pinheiro. “É perceptível que a procura por locais que atendam a esta população aumentou nos últimos anos”, diz. Apesar de não haver dados específicos para o DF sobre esse setor, empresários e nutricionistas da área afirmam que é importante que os serviços de alimentação procurem se encaixar neste comércio para ampliar o número de clientes e acreditam que a tendência é que a demanda aumente ainda mais nos próximos anos.


Um exemplo de como essa alimentação conquista seguidores é Isadora de Oliveira, 22 anos. A jovem, vegana há dois anos. “Eu achava que ia ser muito difícil de fazer a transição. Porém, depois que tomei coragem, vi que foi bem simples”, afirma. “Na época fiz acompanhamento com um nutricionista para saber como substituir corretamente os alimentos. Fiquei um ano com o profissional e depois segui por conta própria”, relata. Isadora ainda diz que, ao contrário do que é o senso comum, a transição e adaptação para o veganismo não é cara.


Atualmente, a moradora do Guará 2 conta que aprendeu a enxergar os alimentos e identificar diversas formas de transformá-los. “Legumes e verduras, por exemplo, são mais baratos que carnes e podem ser transformados em vários pratos diferentes. E eu consegui aprender a cozinhá-los pela internet, sem pagar curso ou algo do tipo. Com certeza fica mais leve para o bolso”, explica. Apesar do crescimento de estabelecimentos com opções veganas, Isadora ainda sente que o mercado precisa expandir. “A maioria das lojas está concentrada no Plano Piloto. Faltam opções em outras regiões”, completa.

Empreendimentos

A percepção de Isadora não está errada. De acordo com o nutricionista, Gabriel De Santis, sempre haverá espaço para novos empreendimentos que atendam à demanda vegana. O especialista também afirma que o estilo de vida vegano, ao contrário do que muitos pensam, é mais barato. “Claro que depende de como a pessoa irá se adaptar. No entanto, é fato que alimentos como legumes, grãos e vegetais são mais baratos que as carnes”, considera. Ele ainda explica que os produtos considerados caros não são necessários para uma dieta vegana. “São industrializados que imitam produtos não-veganos. São mais um luxo do que uma necessidade”, completa.


Gabriel ressalta que a dieta ainda é repleta de mitos e recomenda atenção a quem decidir segui-la. “Cada dieta tem seus pontos fortes e fracos. Com a vegana não é diferente. Porém, essa, se realizada da forma correta e com as substituições ideais, com certeza é mais benéfica”, diz. O nutricionista também considera que todas as pessoas deveriam tentar seguir o estilo de vida vegano. “Todo mundo pode tentar seguir essa dieta. É uma atitude de autoconhecimento e consciência que nos permite saber o que comemos e como isso afeta o organismo”, completa.


Davi Neves, 31, é sócio-proprietário de um restaurante da Asa Sul. No cardápio, ele conta que optou por disponibilizar opções veganas e não-veganas. “Temos alternativas em todo o cardápio desde entrada a sobremesas. Dessa forma, conseguimos atender, em uma mesma mesa, os dois públicos”, diz. O empresário ainda afirma que a decisão impacta na sustentabilidade financeira do negócio. “Acredito que essa capacidade contribui para o sucesso do restaurante, pois, não excluímos nenhum tipo de pessoa e conseguimos nos adaptar ao mercado”, considera.

Cenário

Proprietária de um restaurante vegano localizado na região central de Brasília, Cynara Arnt está à frente do negócio há oito anos, ela confirma que a procura está em expansão, mas considera que ainda faltam opções na capital federal. “O que me motivou a fundar a empresa foi a questão da falta de opção para este público. Hoje em dia está melhor, mas ainda há um campo extenso a ser explorado”, afirma. Ela considera que o mercado vegano deve crescer mais e defende esse estilo de vida. “É uma tendência mundial e composta por alimentos tão ricos e saborosos. Além disso, é algo que vai além da alimentação e abraça a sobrevivência humana na Terra”, explica.


Beto Pinheiro, da Abrasel-DF, também acredita que o ramo vegano ainda precisa ser explorado, mas recomenda que os estabelecimentos busquem atender todos os públicos. “Os veganos são um público relevante e os restaurantes devem atender o maior número de pessoas possível. Nem sempre será concebível atender todas as comunidades, mas é interessante tentar incluir o máximo de vertentes alimentícias em um mesmo cardápio”, completa. A dica de Beto é para que restaurantes mantenham cardápios flexíveis e inclusivos.

Vegano e vegetariano

Vegetarianos são as pessoas que escolhem uma alimentação livre de quaisquer carnes (porco, boi, aves, peixes, crustáceos, etc). Já os veganos, além das carnes e partes dos animais (gelatina e óleo de peixe, por exemplo), não consomem nada de origem animal, incluindo leites e derivados (queijos, iogurte, manteiga, etc), ovo, mel de abelha e até mesmo corantes de origem animal utilizados em alguns produtos.
Fonte: Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).

 

Além do não comer carne

Ser vegano, por definição, vai além de apenas deixar de comer carne e pode apresentar benefícios comprovados para a saúde. Segundo a nutricionista Talyta Machado, a dieta vegana pode, por exemplo, diminuir o risco do aparecimento de doenças cardiovasculares, diabetes e até câncer, pois, teoricamente, a pessoa deixa de ingerir gorduras ruins. “Porém, tudo depende de como a pessoa realiza as substituições. Por exemplo, batata frita é vegano, mas não saudável”, explica. Apesar disso, ela defende a adoção do estilo de vida. “Como a pessoa aumenta o consumo de vegetais e alimentos frescos, o corpo, de modo geral tende a ficar mais saudável. E, é melhor ainda se ela realizar um acompanhamento profissional a fim de fazer as substituições corretas”, afirma.


Ela ainda desconstrói alguns mitos acerca da dieta. “A única vitamina que precisa ser suplementada para vegano é a B12, pois ela só é achada na carne. Porém, o suplemento é barato e não pesa no bolso”, completa. Talyta afirma que outras vitaminas e minerais são facilmente encontrados em alimentos considerados veganos. “Ferro e zinco, por exemplo, estão presentes em alimentos de origem vegetal e não faltarão na dieta do vegano. Por isso, segundo estudos, o veganismo pode ser adotado desde a infância”, diz. Ela ainda lembra que qualquer dieta pode apresentar problemas como falta de vitaminas ou excesso de gordura. “O papel do nutricionista é adequar a alimentação à dieta escolhida pelo paciente”, afirma.


Talyta ainda lembra que existe uma vertente do veganismo chamada de restrita que não consome ou compra produtos de origem animal ou que tenham sido testados em animais. Para atender a este público existem lojas como a de Simone Campos, 47. Ela é dona de uma loja de cosméticos naturais e veganos há três anos. A empresária afirma que, além de os produtos não agredirem a natureza, não agridem o usuário. “Por exemplo, os shampoos naturais e veganos não têm sulfato de sódio, item que prejudica os fios do cabelo e costuma estar presente em produtos tradicionais”, diz. E, ao contrário do que podem pensar, os produtos têm tanta eficácia quanto os não veganos. “Funcionam plenamente e não são nocivos à natureza nem aos humanos. Só podem ser um pouco mais caros que os tradicionais, mas nada muito exorbitante”, reforça.

 

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