Interditado devido à fuga de 17 detentos, um dos setores do Bloco 1 do Centro de Detenção Provisória (CDP) da Papuda está infestado por ratos. Um funcionário do presídio que preferiu não se identificar relatou que os animais circulam pela Ala C há pelo menos três anos. No entanto, a situação agravou-se desde a desativação dessa área do prédio, de onde os internos fugiram em outubro. "Eles (os ratos) andam em bando e, agora, nós estamos com uma a área interditada que virou um criadouro deles", contou o servidor ao Correio.
Fotografias feitas no CDP mostram os roedores circulando livremente no pavilhão durante a noite. Inclusive em locais onde há internos. As alas destinadas a presos comuns e a detentos LGBTQIA+ ficam no Bloco 1. Elas são as mais afetadas pelo problema."É impossível contar o número de ratos. Há centenas deles, em especial no Bloco 1. A presença desses animais deixa o ambiente completamente insalubre. Rato é sinônimo de sujeira e imundície", afirma o denunciante.
O presidente do Sindicato dos Policiais Penais do Distrito Federal (Sindpen-DF), Paulo Rogério da Silva, afirmou que uma fornecedora de alimentos seria a principal responsável pela propagação dos animais. "A empresa entrega a xepa (comida) em caixas que são colocadas no chão do bloco. Então, o cheiro e a comida que cai no piso atraem os animais. São três mil refeições colocadas no chão", detalha.
Após a chegada dessas refeições, um interno tem a função de distribuir o alimento para os demais. No entanto, há funcionários da Papuda que desaprovam o trabalho da empresa, por considerá-lo insalubre para os detentos e servidores. Segundo os relatos, a quantidade de ratos triplicou desde que precisaram esvaziar a Ala C devido à fuga.
A reportagem tentou contato com a empresa responsável pela alimentação dos internos e com a Secretaria de Administração Penitenciária (Seape), mas, até a última atualização desta matéria, não teve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.
Fuga
A fuga do Bloco 1, na madrugada de 14 de outubro, foi considerada a maior dos últimos 10 anos no sistema prisional do DF. Com o auxílio de uma espécie de faca artesanal produzida pelos próprios presos, 17 internos cavaram, por quatro dias, um buraco no telhado. Eles fugiram pelo teto do CDP durante a madrugada.
Câmeras do circuito interno de segurança gravaram o momento em que os detentos saíram por um buraco e desceram o prédio com o auxílio de uma corda formada por panos, conhecida pelos custodiados como "tereza".
A Seape abriu um procedimento interno para apuração da fuga e da origem da faca artesanal. Em nota oficial, a pasta informou que em 30 de outubro, os blocos do CDP I "receberam reforço nas ações de limpeza e desinfecção com água sanitária".
"Mesmo diante do controle dos casos de covid-19 no sistema penitenciário do DF, a assepsia de celas, viaturas, prédios da administração e parte externa dos presídios continua a ser feita regularmente", diz o texto da pasta.
Durante as "ações pontuais" no Bloco I, segundo a secretaria, além dos materiais de limpeza, foram usados jatos d’água de alta pressão. "A medida fez com que ratos fossem empurrados pela força da água e passassem a circular pelas dependências do Bloco I, contudo, sem contato algum com internos e policiais penais", afirma a Seape.
Ainda segundo nota da pasta, a última desratização na unidade ocorreu na terça-feira (3/11). A ação foi promovida pela Gerência de Vigilância Ambiental de Vetores e Animais Peçonhentos e Ações de Campo, da Secretaria de Saúde (SES-DF).
"Ressalta-se que o ocorrido não acarretou danos à saúde de reeducandos e servidores.
A pasta esclarece, ainda, que o CDP I está localizado em uma área rural, cercada por fauna e flora, condição que facilita a aproximação desses e outros tipos de roedores. Uma visita técnica para avaliação sobre os roedores na unidade prisional foi agendada junto ao Centro de Controle de Zoonoses do DF para a próxima segunda-feira (9/11). Todas as providências cabíveis estão sendo tomadas", reforçou o órgão.
*Estagiária sob supervisão de Jéssica Eufrásio
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