Retirada de azulejo dos anos 1970 em prédio da Asa Sul divide opiniões

Azulejos originais do arquiteto Eduardo Negri, que estavam danificados pelo tempo, foram retirados durante reforma no pilotis do Bloco B, localizado na quadra 314 Sul

A retirada de azulejos históricos do arquiteto Eduardo Negri em prédio na Asa Sul gerou polêmica e dividiu opiniões entre moradores. A obra no pilotis do Bloco B, da quadra 314 Sul trouxe um debate sobre a preservação arquitetônica e estética de Brasília. Os azulejos colocados na década de 70, tiveram que ser retirados por estarem danificados pelo tempo.

O síndico do bloco, Antônio Augusto Pinheiro, explica que a decisão da retirada foi aprovada em assembleia pela maioria dos condôminos. “Há dois anos, fizemos uma reunião para tratar sobre a reforma do prédio. Foi feita uma assembleia e escolhemos um arquiteto que mantivesse a característica arquitetônica do bloco. Mas, infelizmente, não dava para manter os azulejos que estavam craquelando, manchados, deteriorando”, explica.

De acordo com ele, em dezembro de 2019, foi apresentado um projeto de reforma e em setembro deste ano, foi aprovado o início das obras. “Mantivemos o piso preto, os mármores das pilastras também. Apenas o azulejo que não deu para reaproveitar e não dava para fazer um igual e colocar. Isso não seria ético”, ponderou.

No entanto, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU/DF) criticou a decisão do condomínio. Em nota oficial, o conselho apontou que a retirada dos azulejos de Negri como "errônea'', diante da importância desses exemplares para a memória da capital de manter seu patrimônio arquitetônico e histórico preservados.

Em julho, a fiscalização do CAU/DF recebeu uma denúncia que alertava sobre a intenção de retirada da azulejaria em reforma. O conselho chegou a orientar o síndico e o condomínio sobre a importância histórica do edifício, bem como de preservar o conjunto e a harmonia arquitetônica presentes naquela superquadra.

“Infelizmente, há uma visão limitada de alguns proprietários e síndicos que não conseguem perceber o valor (material e estético) de seus edifícios originais da década de 1970, por exemplo. Essa não foi a primeira vez que isso ocorreu e, se não houver penalização contra esse tipo de ação pelas autoridades competentes, não será a última”, afirmou o presidente do CAU/DF, o arquiteto Daniel Mangabeira, em nota oficial.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também encaminhou um documento para os moradores do bloco B da SQS 314, recomendando a não retirada dos azulejos. O texto foi elaborado pelo Grupo Técnico Executivo (GTE), composto pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação, pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa, pela Secretaria de Defesa da Ordem Urbana (DF Legal) e pela Superintendência do Iphan no Distrito Federal.

Para a prefeita da quadra e moradora do bloco, Tereza Montenegro, a discussão sobre os azulejos de Eduardo Negri serviu como reflexão sobre os cuidados com o patrimônio da cidade. “Espero que agora as pessoas acordem para a preservação, sobre como querem ver a cidade. Não dá para pensar em manter algo que já está deteriorado. Tem que se pensar em algo preventivo. Cadê as fiscalizações nesse momento?”, pontua.

No local, serão colocados outros azulejos de uma artista brasiliense da mesma cor do antigo. O desenho será diferente, porém a premissa anterior e a estética original arquitetônica serão mantidos.

 

Imagem cedida ao Correio - Obra no Bloco B da 314 Sul retira azulejos originais da década de 1970
Imagem cedida ao Correio - Obra no Bloco B da 314 Sul retira azulejos originais da década de 1970