Negação da máscara
Recebi um vídeo de um jornal local em que o âncora afirma que não era recomendável aos cidadãos comuns o uso da máscara durante a pandemia. Só os doentes e os profissionais de saúde deveriam utilizá-la. Ao fim, letreiros grandes inseridos na tela lançam a pergunta: “E agora?” Quer dizer, levanta a dúvida sobre a necessidade do uso da máscara e sobre a credibilidade da imprensa na cobertura da pandemia.
Vale a pena se deter na mensagem, pois trata-se de um caso clássico de manipulação, que deveria ser estudado pelos alunos dos cursos de jornalismo. Sinto-me à vontade para falar sobre o episódio porque acompanhei, com atenção, o desenrolar dos acontecimentos.
De fato, o vídeo é verídico, mas está totalmente descontextualizado. Ocorre que, no início da pandemia, não havia ainda uma orientação clara da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o uso de máscaras pelos cidadãos comuns. Logo em seguida, os cientistas recomendaram que todas as pessoas utilizassem o equipamento.
Além disso, houve uma corrida desabalada às farmácias em busca de máscaras profissionais usadas por médicos e enfermeiros nos hospitais. Com isso, existia o risco de faltar esse item de segurança essencial para os que estavam na primeira linha da frente de batalha. Algumas vezes, o desconhecimento e a indecisão são naturais no embate com uma doença nova. A ciência trabalha com a experimentação, o erro e a crítica.
Mas, o importante é que a imprensa sempre esteve alinhada com as recomendações da OMS, do Ministério da Saúde, dirigido pelo ministro Mandetta, e dos cientistas. Desde que eles prescreveram o uso da máscara para todos, os meios de comunicação não apenas propagaram as instruções, como também estabeleceram a obrigatoriedade para que os repórteres trabalhassem protegidos para evitar o contágio e a transmissão.
Vejo nos noticiários da tevê, que em várias capitais, algumas pessoas resistem a usar máscaras em espaço público. Em minhas saídas pela cidade, tenho notado que, felizmente, quase todos estão se protegendo em Brasília: da dona da loja ao guardador de carros.
Mesmo com todas as desigualdades sociais, a máscara caseira de algodão é acessível, democrática e eficaz. Evita o contágio em mais de 90 por cento dos casos, segundo os epidemiologistas. Basta constatar que nos lugares em que os governantes fizeram campanhas negacionistas, sem máscaras, os índices de contaminação e de mortes dispararam. Enquanto isso, regiões de Brasília que começaram no alto do ranking, mas passaram a tomar cuidados essenciais, declinaram com a doença.
A imprensa é passível de críticas. Mas, na cobertura da epidemia, de uma maneira geral, ela teve um papel essencial de informação e educação. Sempre esteve alinhada com a ciência. Sem essa atitude de proteção à vida e de combate ao negacionismo de governantes irresponsáveis, a tragédia seria ainda maior.
Politizar a máscara ou a vacina não poderia ficar impune, pois atenta contra a saúde pública. É um ato covarde que atingirá, principalmente, os mais vulneráveis. Vamos continuar a usar a máscara, vamos proteger a vida.