Na madrugada de quinta para sexta-feira, o celular da gerente Adriana Mendes, 34 anos, não parava de vibrar. O barulho chamou a atenção. No meio da noite, a moradora da Cidade Ocidental (GO) deparou-se com uma série de notificações na tela do aparelho. O grupo de WhatsApp da lotérica onde ela trabalha, no Lago Sul, pipocava de mensagens. O motivo da agitação? O ganhador do prêmio de mais de R$ 16 milhões da Quina havia apostado naquela unidade. Funcionários e clientes assíduos que acompanhavam o aplicativo naquele horário estavam eufóricos. “Parecia até que eu tinha ganhado”, contou Adriana.
Na manhã de ontem, o clima de expectativa tomava a lotérica. “Será que foi você?”, perguntaram ao empresário Carlos Bezerra, 56, assim que ele chegou ao estabelecimento. “Apostei na Quina, mas só ganhei R$ 6”, respondeu, desapontado. Mesmo assim, ele passou pelo local para tentar a sorte novamente. Desta vez, na Mega-Sena, que vai sortear R$ 38 milhões hoje. “Bati na trave algumas vezes, mas não perco a esperança”, disse Carlos, que chegou a ganhar mais de R$ 3 mil com as apostas.
Morador do Lago Sul, o empresário é um dos apostadores contumazes do estabelecimento. Além de ajudar os quatro filhos, se sorteado, Carlos pretende investir em gado e pasto. “Boi está a melhor coisa do mundo. Um pedaço de terra nunca se desvaloriza, aqui em Brasília mesmo”, acredita. Outro sonho dele é gastar com viagens. Um dos destinos seria Las Vegas, cidade norte-americana conhecida pelos cassinos. “Eu sou apostador, gosto bastante. Já apostei em Mônaco e no Caribe. É uma distração se você tiver juízo e não arriscar mais do que tem”, aconselhou.
Assim como Carlos, outros apostadores visitaram a mesma unidade, no Lago Sul, em busca do bilhete premiado. A aposentada Railene Silva, 55, também arriscou na Mega. Ela costuma apostar naquela lotérica, mas disse que a notícia do prêmio deu “uma motivação a mais”. “Só não apostei ontem (quinta-feira) porque não tive tempo. Mas tenho meus volantes todos prontos”, afirmou Railene, que chegou a ganhar pouco mais de R$ 1 mil duas vezes, acertando a quadra. “À época, foi o tampão do meu cheque especial, e me salvou porque eu estava no vermelho. Era um dinheiro que não estava esperando”, recordou-se.
Histórico
Há três anos, outros 15 apostadores foram premiados na mesma loteria pela Lotofácil e dividiram uma bolada de R$ 3 milhões. Agora, na Mega-Sena, a chance de acertar as seis dezenas com um bilhete simples é de uma em 50 milhões. Mas o histórico de sorte da lotérica animou até a equipe que trabalha no local. As três funcionárias fizeram apostas e criaram uma lista com 15 palpites sobre a identidade do vencedor da Quina. “Tem alguns clientes que a gente acha que é, porque (o bilhete vencedor) foi um jogo de sete dezenas. Não são muitas pessoas que fazem esse tipo, porque ele é mais caro. Mas a gente tem suspeitas”, revelou Adriana Mendes.
A gerente acrescentou que adota uma estratégia própria, para tentar atrair a fortuna. “Gosto de fazer (a aposta) no dia do sorteio, no fim da noite, para que o último jogo seja o meu”, contou Adriana. “Quero montar alguma coisa para eu trabalhar, abrir meu próprio negócio. Estaria lá sempre, porque quem engorda o boi é o dono”, completou.
Ralph de Deus, 36, lamentou não ter jogado na lotérica do Lago Sul. “Justamente nesta semana eu não joguei. Fiquei meio decepcionado. Tem de tentar, porque uma hora chega, mas poderia ter sido eu”, refletiu. O motorista aposta em dezenas aleatórias semanalmente. A tática dele para aumentar as chances é jogar em três modalidades. “Na Mega, porque é um prêmio alto; na Loto, porque é o que sai mais; e na Quina, porque é um intermediário. Mas não sou louco do jogo, não”, assegurou Ralph.