A médica Eridan Stefanelli, 40 anos, tomou um susto na noite da última quinta-feira (21/10) enquanto transitava da cozinha para a sala de seu apartamento, em Águas Claras: um inseto barbeiro estava no local. Como residente de cardiologia, ela já estava familiarizada com a aparência do animal, vetor da doença de Chagas, que pode levar a complicações cardíacas. O imóvel fica no 10º andar de um prédio próximo ao Parque ecológico da região. "Nem dormi à noite", conta.
"Percebi pela coloração. Ele é muito singular, embora tenha mais de 50 tipos, tem manchinhas na beirinha da asa", relatou. O animal costuma aparecer no período chuvoso na área de cerrado, tem hábitos noturnos e é atraído para as casas pela luminosidade das lâmpadas. "Fui procurar na internet o tipo do barbeiro e vi que era um barbeiro mais comum", diz a médica. No DF, já foram identificadas sete espécies do inseto.
A Secretaria de Saúde confirmou que se tratava de um barbeiro e que o animal estava contaminado com os protozoários. A Vigilância Ambiental desenvolve o Programa de Vigilância Entomológica dos Triatomíneos, para interromper as infestações. Segundo balanço da pasta, entre os anos de 2007 e 2019 foram identificados 2,7 mil insetos da espécie, sendo que 97% estavam na zona rural e apenas 3%, na área urbana.
"Minha preocupação era se estava infectado ou não. Já pus em uma vasilha com tampa e fui ver onde que fazia essa avaliação. Tive um pouco de dificuldade, não sabia onde levar", conta médica. A orientação da Vigilância Ambiental é que os moradores que suspeitarem de algum inseto se protejam para capturá-lo. A recomendação é que sejam armazenados em um recipiente, sem esmagá-los, para depois encaminhá-los a um dos 15 núcleos do órgão.
O laudo com o resultado da análise do animal ficou pronto na segunda-feira passada (19/10). A suspeita é de que o bicho ou tenha entrado voando ou tenha sido transportado em caixas de mudança. No caso de Águas Claras, depois da inspeção da Vigilância Ambiental, não foram encontrados outros barbeiros no local.
Por isso, Eridan, a esposa, a filha, a mãe e a empregada, que moram na casa, foram testadas para doença de Chagas. O exame, feito em um laboratório particular, deu negativo, e agora a família aguarda o resultado do teste feito no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) e encaminhado ao Laboratório Central (Lacen). "A preocupação maior é com minha filha, o que ele causa é ao longo da vida, em torno de 10 a 20 anos aparecem os sintomas", pondera. Embora as moradoras não tenham apresentado sintomas, os dois cães de estimação tiveram vômito e diarreia. "É importante destacar que não é porque o barbeiro está com o parasita que ele vai infectar uma pessoa", respondeu a Secretaria de Saúde.
O barbeiro
A Secretaria de Saúde afirma que jamais houve casos de transmissão vetorial no DF (contato com as fezes). É possível encontrar o inseto em quase todas as Regiões Administrativas do DF.
Eles costumam se refugiar em ambientes escuros, como frestas nas paredes, chão e teto, embaixo de colchões, e travesseiros, por exemplo. O barbeiro contamina as pessoas ao urinar ou defecar na pele enquanto se alimenta do sangue. A picada gera coceira, que viabiliza a entrada do parasita na corrente sanguínea, deixando uma mancha avermelhada no local.
Doença de Chagas
O Trypanosoma cruzi é encontrado nas fezes de alguns insetos, como o barbeiro. Além da transmissão pela picada, ingerir alimentos crus que estejam contaminados é uma forma de se infectar. A maioria dos casos da doença de Chagas são assintomáticos, e os primeiros sinais costumam parecer até 20 anos depois do contágio.
Entre as complicações que podem surgir estão problemas cardíacos ou no aparelho digestivo. A estimativa do Instituto do Coração do Distrito Federal (ICDF) é de que 90% dos infectados não sabem que têm a doença, diagnosticada por exames de sangue. Contudo, quando mais cedo houver o diagnóstico, maiores são as chances de cura.
Serviço
Quem encontrar o inseto em casa, deve entrar em contato com a Vigilância Ambiental pelo telefone 2017-1344