» CIBELE MOREIRA
Em 2020, oito ciclistas perderam a vida em decorrência de acidente de trânsito nas vias do Distrito Federal. São pessoas, amigos, pais, mães, filhos, que morreram de forma abrupta. Como forma de protesto e de luta, a Organização Não Governamental (ONG) Rodas da Paz afixou, na manhã de ontem, mais três esculturas de bicicletas brancas, conhecidas como Ghost bikes. O ato marcou os locais onde faleceram Ricardo Aragão, Francisco de Sales e Maurício da Cruz.
A primeira bicicleta foi colocada na 704 Norte, em frente ao Bloco B, onde Ricardo foi atropelado na noite de 10 de outubro, aos 58 anos, enquanto pedalava com uma amiga. Ele morreu no local e ela ficou ferida. A segunda foi fixada perto do Corpo de Bombeiros no início da L4 Norte, onde Francisco foi morto após ser atropelado por um ônibus, em 23 de setembro. Ele tinha 56 anos. Nas duas ocasiões, os motoristas não prestaram socorro.
Houve, ainda, a instalação de uma Ghost bike na QI 6, Conjunto 11, do Lago Sul, rente à ciclovia onde Maurício da Cruz, 43, foi vítima de um atropelamento por um coletivo, em agosto de 2018. Ele estava trafegando com a mulher, Suenia Almeida, 44, quando o ônibus o atingiu. Durante a homenagem, também foram relembradas as mortes de dois garis na BR-020, quando voltavam de um dia de trabalho, em agosto deste ano.
A comoção de familiares e amigos era visível durante o ato. Para Caio Alighieri, 30, genro de Francisco de Sales, a homenagem representa muito. “É uma forma de a família saber que tem alguém apoiando e procurando Justiça para que diminua essa onda crescente de acidentes com ciclistas no Distrito Federal e no Entorno”, afirmou.
Para Suenia Almeida, a dor é grande. “Meu marido era um cara que gostava de esporte, estava sempre pedalando, participava de competição. Curtia sempre a vida com leveza. Mesmo depois de dois anos, ainda é difícil estar aqui”, desabafou. “As pessoas têm de entender que, por trás de cada ciclista, existe uma família, amigos, pessoas que dependem de outras. Eu relutei muito para colocar a Ghost bike, mas não dava mais para adiar”, disse a servidora pública.
A filha Maria Luisa Almeida, 23, se revolta com falhas da Justiça. “Agora em setembro, houve o julgamento do motorista e ele só teve 10 meses de suspensão da habilitação. Isso é muito pouco. O próprio tribunal não entendeu a gravidade da situação. Uma vida foi tirada. A única punição foi para a família (da vítima)”, ressalta. Para Maria Luisa, passar pelo local onde o pai morreu é muito triste.
Por mais respeito
O coordenador-geral da ONG Rodas da Paz, Raphael Dornelles, ressaltou a importância de propagar o respeito aos ciclistas durante a homenagem às vítimas. “O que importa é a vida porque a vida é o nosso bem maior. Neste ano, oito ciclistas perderam a vida em acidentes no DF. Está mais que claro que é a velocidade que ceifa a vida dos nossos ciclistas”, afirma. Ele também cita a irresponsabilidade e a falta de empatia dos motoristas como ameaças para quem pedala.
Ao pedalar em grupo, os riscos diminuem um pouco, pois o volume torna os ciclistas mais visíveis. O perigo é maior ao andar sozinho. “Muitas vezes, a gente só vai comprar pão, ver familiares e, neste processo, somos atingidos”, lamenta. Dornelles defende o respeito em todos os momentos e uma melhor educação dos motoristas, que deve se iniciar antes do processo de tirar habilitação, desde a infância.