Fechada aos domingos e feriados para a realização de atividades recreativas desde 11 de junho, a via W3 Sul tem sido alvo de questionamento por parte dos comerciantes e do setor produtivo, que reprovam a ideia e se mostram preocupados quanto à queda no varejo, principalmente nestes tempos de pandemia. Amanhã, empresários e representantes de sindicatos ligados ao comércio vão se reunir com o secretário de Empreendedorismo do Distrito Federal, Mauro Roberto da Mata, para tratar de questões ligadas à melhoria da W3, entre elas, o fim do bloqueio da via.
Dados mais recentes do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF) mostram que, desde o começo da pandemia causada pelo novo coronavírus até agosto, 540 lojas fecharam na Asa Sul, 156 delas estão na W3 Sul. O sindicato informou que não tem o número de estabelecimentos na via em funcionamento. Para o vice-presidente do Sindivarejista-DF, Sebastião Abritta, o fechamento do local aos domingos e feriados agrava a situação. “A W3 vem de um declínio de ano a ano por falta de investimento por parte do governo. A Asa Sul é bem servida de parques, ainda tem o Eixão do Lazer, então não há necessidade de fechá-la”, frisa.
A decisão que autorizou a interdição da W3 Sul (da altura da Quadra 502 até a Quadra 516) foi assinada em 6 de junho pelo governador Ibaneis Rocha (MDB). À época, a determinação também liberou a volta do Eixão do Lazer. Segundo Sebastião Abritta, aos domingos e feriados, os supermercados que ficam nessas quadras sofreram queda de, aproximadamente, 70% nas vendas. “No varejo, houve uma redução de quase 50%. A pessoa ia, por exemplo, do Parque da Cidade para atravessar a 310 Sul, ele cortava por ali e passava na W3, nas 300. Então, além de matar o fluxo na W3, mata, também, nas 300, porque a pessoa vai ter que dar uma volta para chegar no meio da via, e isso não faz sentido”, questiona.
O vice-presidente do Sindivarejista-DF argumenta que o foco deve ser o incentivo ao varejo na região. “Temos de fazer da W3 Sul uma feira, por exemplo, que funcione por quadras, de modo a desenvolver segmentos de roupas, calçados, eletroeletrônicos, artigos de festa, entre outros. Dá para implementar várias medidas, e o governo trabalha para continuar com a reforma que vem fazendo, com estacionamentos e etc. Mas, isso tem de ser feito em conjunto”, destaca.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-DF), José Carlos Magalhães Pinto, afirma que não é favorável a qualquer tipo de ação que vise prejudicar as vendas no comércio. “Temos de dar um jeito para não afetar o varejo. Recebemos algumas reclamações de comerciantes alegando que o fechamento está inviabilizando os moradores das quadras 700 a irem para as 300. Claro que isso pode ter sido uma forma de o governo valorizar a W3”, avalia.
Por meio de nota oficial, a Subsecretaria de Políticas Públicas, da Secretaria de Governo, informa que, “considerando que o comércio da W3 Sul não abre aos domingos, não há que se falar em prejuízos ao comércio local”. Explica, ainda, que “a pasta está trabalhando em uma grande política pública para a revitalização da avenida, que vai muito além de obras, ouvindo a comunidade e os empresários locais”.
“Por enquanto, a avenida está aberta para a comunidade aos domingos e feriados, sendo mais uma opção de lazer e esportes, além do Eixão do Lazer, demonstrando a preocupação do Governo do Distrito Federal (GDF) em proporcionar qualidade de vida, com segurança, em tempos de pandemia” finaliza o texto.
Prejuízos
Mário Habka, 65 anos, é proprietário de três supermercados localizados nas quadras 503, 508 e 512 da W3 Sul. O empresário teme a demissão de funcionários e o desemprego devido ao fechamento aos domingos e feriados. “A gente abre a loja para poder atender a comunidade. Todos, praticamente, andam de carro. Brasília é a cidade do automóvel, do ônibus. As pessoas gostam de ir de carro fazer as compras. Mas como vai, se tudo está fechado?”, argumenta.
O empresário ressalta que nos dias em que as vias estão fechadas as vendas chegam a cair 50%. “A cidade está cheia de parques. Ali, circulam ônibus, automóveis. As pessoas vão às clínicas, aos comércios. E, como isso acontece? Por exemplo, hoje (ontem), tivemos um feriado, que caiu bem na segunda-feira. Ou seja, foram dois dias difíceis”, protesta Mário Habka.
Dono de uma loja de artigos para casa na 302 Sul, Alberto Vilardo, 70, vê o fechamento da via como algo prejudicial.“É uma irresponsabilidade com a população, com as pessoas que moram ali e essa medida atrapalha o trânsito, o comércio, as vendas”, critica.
Wedja de Freitas, 42, é gerente de uma loja de roupas para crianças na 510 Sul. Ela conta que, devido à interdição da W3 Sul, o movimento no estabelecimento sofreu queda de 90% aos domingos e feriados. “Geralmente, os clientes ligam antes na loja para ver se está aberta. Porque quem vem na intenção de comprar e vê a via fechada, volta e desiste. Sabemos que é um ponto positivo para quem está fazendo caminhada, mas para o comerciante é bem puxado”, analisa.