Em uma ida ao shopping para comprar o presente de Dia das Crianças, o controlador de pragas Alfredo Lima, 39 anos, ofereceu à filha Lara, 4, um balde com ferramentas de praia. A menina logo disparou: “Você esqueceu que a gente está vivendo uma pandemia?”. A mãe, Eva Freire, 35, justifica: “Ela sabe direitinho”. Por isso, no feriado de ontem, eles fizeram como tantas outras famílias brasilienses e optaram por passeios ao ar livre para comemorar a data em meio à pandemia do novo coronavírus, na tentativa de evitar aglomerações.
Neste ano, parte do presente das crianças foi visitar pontos turísticos da cidade. “Vamos só nesses lugares mais ventilados, ainda dá medo. A gente saía muito antes, quase todos os finais de semana, mas, agora, está mais difícil”, conta Alfredo. Ontem, foram à Torre de TV. Contudo, no local, formou-se uma fila entre os visitantes para subir ao mirante. “Se fosse em outros anos, com certeza a essa hora estaríamos no clube”, completa.
No clube. Era assim que o empresário Rodrigo Torres, 42, que nasceu em Brasília, aproveitava a data na infância. Agora, ele, a esposa, Andrea Rocha, 44, e o filho, Arthur Diniz, 4, resolveram passear de bicicleta pela W3 Sul, fechada para os carros nos feriados.
“Antes (no ínicio da pandemia), não fazíamos isso que a gente está fazendo”, pondera Andrea. Em casa, os pais tentam driblar a quarentena com Arthur com leitura e esportes, atividades na televisão e jogos educativos.
Diogo Ferreira, 8 anos, deixou de lado o vídeogame portátil que ganhou, ontem, e foi ao Parque Ana Lídia com os pais e os primos aproveitar os brinquedos. “Eu gosto de ir no balanço, fazer castelo de areia e ir àquele foguete”, ressalta. O parquinho estava cheio e foi difícil manter o distanciamento social. Muitas pessoas não usavam máscaras. “Tem pessoas que estão desobedecendo as regras”, alerta Diogo. Ele lembra que, no ano passado, comemorou a data no clube. “No próximo Dia das Crianças, em 2021, estará tudo certo”, acredita.
Para o mecânico Roberto Sousa, 52, que vendia balões temáticos no parque, o movimento foi semelhante ao do ano passado. “Tem esse problema da falta de máscara, mas espero que passe. Está normal, como no ano passado. Acho que até aumentou”, pondera.
Planetário
Foi também um foguete que chamou a atenção de João Gabriel Gomes, 3. Ao avistar o equipamento exposto na área externa do Planetário, João arrastou os pais para vê-lo. “Hoje é o dia dele. O trouxemos para que ele pudesse se divertir mais, tirar foto”, diz a mãe, Keile Regina Pinheiro, 46. Ela conta que, em isolamento em casa, João Gabriel tem ficado mais agitado. “Eu queria muito ir ao Zoológico com ele, mostrar os bichinhos. Mas, como o ônibus de Santa Maria não para lá na frente, descemos aqui mesmo”. Além do passeio, o filho também ganhou um carrinho.
As sessões de filmes no local ainda estão suspensas por causa da pandemia. No entanto, o lugar estava aberto para visitação das exposições. Na entrada, há aferição da temperatura dos visitantes e o número de pessoas em cada pavimento foi limitado.
Zoológico
A auxiliar de serviços gerais Tatiene Pereira, 30, foi de ônibus do Paranoá ao Zoológico para fazer um piquenique com os filhos. “É um prêmio, a liberdade para eles”, afirma. Nem mesmo a longa fila na entrada espantou os visitantes, aglomerados para adquirir as entradas. No Dia das Crianças, o Zoo disponibilizou 1,5 mil ingressos, o que equivale a 40% da capacidade do local. Tatiene enfrentou mais de uma hora de fila para conseguir entrar no local.
O filho, Yarllei Pereira, 7, diz que está achando “muito chato” ficar em casa. “Eu quero ver todos os animais que eu mais amo: elefante, girafa, tigre, jacaré, hipopótamo, urso, os pandas, jiboia, leoa, pantera, onça, tatu e lobo-guará”, enumera. “Agora, a gente tem que ficar a uma distância, não pode tocar na mão do outro e também não pode abraçar”, diz Yarllei. Ele tem esperança que, no ano que vem, a data seja comemorada de forma diferente. “Eu espero que seja mais legal do que esse”.