Mulheres

Conheça mulheres que exercem profissões dominadas por homens

Serviços de manutenção residencial, mecânica e manobrista: conheça mulheres que mudaram a visão das pessoas em relação ao mundo do trabalho

Apesar das profissões não serem denominadas por gênero, há ainda aquelas funções que são vistas pela sociedade como mais dominadas por homens do que por mulheres. No entanto, isso não quer dizer que uma mulher não seja tão boa quanto um homem ao prestar serviços de manutenção doméstica, serviços mecânicos ou até mesmo ao dirigir um ônibus.

O desconforto entre as mulheres que buscaram serviços oferecidos por homens fez com que elas tomassem as rédeas para exercer funções que, na maioria das vezes, são mais exercidas por homens. A empreendedora Cecília Bona, 41 anos, resolveu abrir uma empresa de manutenção residencial para mulheres, por mulheres. Há quatro anos ela precisou de um conserto de um eletrodoméstico, mas se sentiu desconfortável ao receber dois homens que foram realizar o orçamento. “Eles cobraram muito caro e, além disso, ficaram observando minha casa”, conta.

A partir disso, Cecília resolveu olhar na internet como se consertava a geladeira e acabou descobrindo que resolver o problema sozinha era mais fácil do que imaginava. “Na mesma noite, fiz uma divulgação para oferecer serviços de manutenção para mulheres. Neste dia já recebi 20 ligações de mulheres que estavam interessadas no serviço”, relembra. Atualmente, ela e a sócia, Denise Borges, completam um ano de parceria com a empresa Dona Conserta. A empresa conta com a mão de obra de cinco mulheres, treinada pelas duas sócias. “A maior dificuldade é achar mão de obra para a nossa equipe, nosso grupo é bem pequeno”, conta.

O fato de não se sentir preparada para procurar serviços mais dominados por homens também foi um dos motivos que fizeram com que a mecânica Agda Óliver, 40 anos, resolvesse abrir a própria oficina. Ela é dona da oficina Meu Mecânico, em Ceilândia. Em 2008, ela disse ter sido enganada após ter pago por peças que nem sequer existiam no veículo. “Eu fiquei muito triste com essa situação. Me senti despreparada e desprotegida. Na época, o mecânico não conseguiu me explicar o que estava fazendo no meu carro e por que ele tinha que fazer aquele serviço. Foi daí que surgiu a ideia de montar uma oficina mecânica para mulheres com um atendimento diferenciado, com tudo o que eu esperava para mim naquele dia”, afirma. Dois anos após se preparar e realizar cursos com o apoio do Sebrae-DF, ela inaugurou a primeira oficina para mulheres do Brasil.

A dificuldade para encontrar novas funcionárias bateu à porta da empresária, por isso não foi possível oferecer o serviço prestado exclusivamente por mulheres. “A ideia é que fosse uma empresa formada só por mulheres, mas a minha primeira dificuldade foi encontrar mulheres mecânicas para contratar”, afirma. Agda, portanto, percebeu que precisava contratar homens. “Por isso, eu não poderia limitar o nosso atendimento só para mulheres. Temos clientes homens, um público bem expressivo LGBT e também da terceira idade”, explica.

De acordo com o Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios Contínua Trimestral (PNAD), o Brasil possui 44,4% mulheres empregadas contra 55,6% quando se trata do sexo masculino. A pesquisadora Carla Antloga, coordenadora do grupo de estudos e pesquisas em psicodinâmica do trabalho feminino da Universidade de Brasília (UnB) explica que o Brasil é extremamente desigual em termos de salários e funções para as mulheres. “Quando olhamos as posições de SEO, funções das maiores gestões das organizações, nós ainda não temos tantas mulheres. Mesmo quando nós temos, a vida de trabalho para elas é mais difícil. Elas encontram dificuldades para executar as tarefas que seriam mais aceitas ou realidades por homens sem tantas barreiras”, afirma.

Carla explica que, além das dificuldades diárias, o baixo interesse por vagas para funções mais socialmente aceitas para o universo masculino apresenta vários fatores relacionados à cultura machista e misógina do país. “Não é que as mulheres não procuram por essas funções, mas sim que as vagas não são ofertadas para mulheres, a seleção não é feita para mulheres, considerando uma série de questões, por exemplo, os horários não permitem, em várias situações, que a mulher tenha filho”, aponta.

Preconceito

O preconceito não deixou de existir para Ágda. Ela conta que as pessoas não acreditam que as mulheres podem oferecer um serviço com a qualidade tão boa ou até melhor que os homens. “A gente tem que ficar provando todos os dias que somos capazes do que a gente se capacitou para fazer. Aqui, nós recebemos cliente que pede para ser atendido por um homem. Algumas vezes sentimos que seja preconceito, mas a gente respeita a escolha do cliente. Outras vezes o sentimento é que os clientes sentem confiança no nosso serviço por sermos mulheres”, conta.

A mecânica questiona o lugar das mulheres na sociedade. “Mostrar para as mulheres que nós podemos ser o que nós quisermos e que oficina mecânica é lugar de mulher sim. Se nós podemos ser motoristas, por que não cuidar do nosso carro?!”, questiona.

“Machismo, preconceito, assédio, ofensas irônicas e piadinhas costumam fazer parte da rotina das mulheres que dirigem ônibus pelas ruas da cidade”, afirma a manobrista Fabrícia Borges, 30 anos. Ela já trabalhou como cobradora e, há um ano e cinco meses, atua como manobrista na empresa de mobilidade urbana Urbi. Fabrícia conta que a função que exerce é totalmente dominada por homens, mas que isso é sinônimo de independência e liberdade. “Eu adoro dirigir. Mulher não tem que ter medo, mas sim assumir o desafio. Nós precisamos mostrar que também podemos dirigir um carro, moto, caminhão, seja qual for, somos iguais a todos”.

 

Estagiária sob supervisão de Nahima Maciel

Arquivo pessoal - A dona conserta realiza manutenção residencial voltado para o público feminino
Arquivo pessoal - Denise Borges uma das fundadores ensinando o servi�§o para outras tr�ªs funcion�¡rias
Arquivo pessoal - Cecília Bona fundadora da empresa
Urbi - Fabrícia Borges,30 anos, manobrista da Urbi
Urbi - Fabrícia Borges, 30 anos, manobrista da Urbi
Marilia Lima/Esp. CB/D.A Press - Agda Óliver foi a primeira mulher do país a abrir uma mecânica só para mulheres
Marilia Lima/Esp. CB/D.A Press - Agda Óliver foi a primeira mulher do país a abrir uma mecânica só para mulheres