Nem mesmo o calor de quase 35ºC impediu os brasilienses de sair de casa para passear no Zoológico. O espaço reabriu, ontem, para visitação, após seis meses fechado, respeitando o decreto do Governo do Distrito Federal (GDF), como medida de combate à disseminação do novo coronavírus. Até o final da tarde ontem, cerca de 800 pessoas haviam passado pelo local. Água gelada, frutas, protetor solar, lanches e roupas leves faziam parte do combo que os brasilienses e turistas levaram para enfrentar a seca e se divertir.
No início da manhã, os visitantes relataram perceber os animais mais tímidos. Alguns associaram o comportamento ao longo período de fechamento e o retorno “repentino” do público. Porém, o biólogo diretor de mamífero do Zoo Filipe Reis explicou que, nesse período de pandemia, a equipe do Zoo percebeu pouca mudança nas atitudes dos bichos. “Eles seguem com o comportamento que tinham antes da pandemia. Isso está relacionado com o bem-estar que é trabalhado no Zoológico. Todos os recintos têm pontos de fuga, independentemente da presença do público”, destacou o especialista. Além disso, ele destacou que o calor deixa os animais mais quietos. Assim, eles buscam lugares mais reservados.
Embora o espaço esteja liberado, a visitação deve seguir normas rígidas de medidas sanitárias. O número de pessoas, por exemplo, está limitado a até 1,5 mil. O distanciamento social é fundamental. De acordo com o Decreto nº 41.260, que regulamenta a reabertura do Zoológico de Brasília, a limpeza dos ambientes será mais constante, especialmente das áreas comuns, para diminuir o risco de contaminação pela covid-19. Apesar de os bebedouros estarem ativados, o recomendado é que os visitantes levem garrafinha de água.
“Buscamos atender a todas as orientações dos órgãos de saúde, assim como dos decretos para recebermos as pessoas com segurança. Promovemos várias adições para que tudo acontecesse da melhor forma”, disse Eleutéria Guerra Pacheco, diretora-presidente do Jardim Zoológico de Brasília. Foram distribuídos álcool em gel em diversos pontos, instaladas pias com sabão, para higienização das mãos.
Outra recomendação é evitar contato com a grama. “Evitem sentar na grama. Estamos em períodos de seca e aparecem carrapatos e outros aracnídeos que são trazidos por animais de vida livre. Tomamos medidas para conter, mas é importante não ter esse contato”, ressaltou Eleutéria.
Passeio
Moradores do Varjão, os confeiteiros Jardel Silva, 36 anos, e Jéssica Silva, 29, levaram os quatro filhos, logo cedo, para passear no Zoo. A família chegou por volta das 9h30 no local. Cheios de vontade de sair de casa para lazer, Maria Clara Santos, 13; Maria Luiza Santos, 9; Maria Alice Santos, 8; e Ezequiel Santos, 2, fizeram questão de visitar todos os bichinhos. Para os pais, os dias em casa, sem aula e sem poder sair, deixaram as crianças muito agitadas. Na primeira oportunidade, resolveram levá-las para o passeio.
“Esse tempo de quarentena não foi muito bom. Todos dentro de casa, com vontade de sair um pouco, mas não podíamos. Antes da pandemia, a gente sempre vinha para o Zoo. O menor ainda não conhecia e está adorando tudo”, contou Jéssica. A mais animada entre os filhos, Maria Luiza estava ansiosa para ver a girafa e o elefante. São seus animais prediletos. “Eu também gosto das cobras, acho bonitas. Quero ficar aqui o dia todo, vai ser bem legal”, afirmou a menina. A família chegou ao Zoológico com vários lanches e até almoço para passar o dia visitando os bichos.
Gêmeos, os irmãos Lucas Reis e Davi Reis, 6 anos, foram ao Zoo a caráter. Cada um estava com máscara de algum animal: um de urso e outro de jacaré. Na hora de escolher o bicho preferido, bateu a dúvida. “Ainda estou escolhendo. Mas, gosto mais do alce e do leão”, disse Lucas. Para que o passeio fosse divertido e sem grandes interferências da seca, o pai dos meninos, o pastor Alexandre Reis, 41, foi preparado. “Muita água. Viemos de carro para não precisar andar muito debaixo de sol quente e trouxemos dinheiro para comprar sorvete e picolé”, afirmou.
Para a estudante Victorya Souza, a data foi ainda mais especial. A reabertura do Zoo, um dos lugares preferidos dela, foi no dia em que ela completou 10 anos. Por isso, os familiares prepararam uma festa surpresa para ela no local. “Eu percebi que minha mãe estava estranha todos esses dias. Deixava eu brincar no celular, mas não podia abrir o WhatsApp. Achei estranho, mas não desconfiei de nada”, contou a menina, com riso no rosto.
A família inventou uma história para poder tirá-la de casa. “A quarentena não é difícil, porque gosto de ficar em casa, assistindo tevê, deitada. Então, estava bom”, disse. Para conseguir sair com a aniversariante, falaram que iriam a uma lanchonete que ela gosta. No caminho, o pai falou que precisava usar o banheiro e que entraria no Zoológico. “Pagar R$ 5 para ir no banheiro? Achei aquilo muito esquisito, mas gostei da ideia, porque eu poderia ver os animais. Quando cheguei, fizeram a surpresa. Eu amo festa ao ar livre. Eu amei tudo”, declarou Victorya.
Seca
A umidade baixa e as temperaturas altas não estão castigando apenas os seres humanos, os animais também sofrem neste período. Para se manter bem e aliviar os sinais da seca, o Zoológico promove uma série de atividades com os bichos. “Temos um programa de enriquecimento ambiental, são atividades que a gente estimula os animais tanto na parte psicológica quanto na física”, disse o biólogo Filipe Reis.
Para o urso-de-óculos Ney, por exemplo, a atividade é colocar comida e pedaços de frutas dentro do tanque para estimulá-lo a entrar e se refrescar. Há, também, estruturas com áreas sombreadas e internas. Além disso, tem banho de mangueira para os elefantes, picolé de frutas para algumas espécies, para os felinos picolé com o sumo da carne. Afinal, eles merecem refresco, também.
Visitação Zoológico de Brasília
Dias: Quinta a domingo e feriados
Horários: 9h às 17h
Valor da entrada: R$ 5, meia-entrada