Viajar pelo mundo e visitar outras culturas sem sair do lugar. Ler um livro pode ser algo prazeroso, instigante, que faz refletir e que proporciona ensinamentos sobre assuntos diversos. No Dia Nacional do Livro, comemorado hoje, o Correio conversou com leitores apaixonados por esse universo. Clubes de leituras que tiveram de se adaptar com a realidade da pandemia e brasilienses que encontram na literatura uma forma de transformar vidas, como a professora Viviane Maria Souza, 37 anos.
“A literatura me salvou de tudo que podia dar errado na minha vida”, afirma Viviane, que atualmente promove um projeto de incentivo à leitura para alunos do Centro deEnsino Fundamental 405, do Recanto das Emas. “O Mergulhando na Leitura começou no ano passado. Como é uma região carente, arrecadei livros e elaborei um planejamento para a implementação do projeto”, conta. No início, era proposto uma aula de 50 minutos para os alunos lerem. “Depois, eles mesmos pediram mais tempo e as aulas passaram a ser duas vezes na semana”, pontua.
Quando veio o ensino remoto, devido à pandemia da covid-19, o desafio aumentou. “É uma turma nova de alunos do 7º ano. Como iria fazê-los parar para ler por 25 minutos? Comecei, então, com textos pequenos, contos da Clarice Lispector, e deu supercerto. Agora, estamos lendo Vinte mil léguas submarinas, de Júlio Verne”, relata. A professora fez um tutorial de como baixar o e-book, que estava mais acessível para os estudantes, e indicou plataformas gratuitas para que eles pudessem ler.
“Nos 15 anos de trabalho, eu finalmente encontrei o que quero fazer para minha vida. A gente consegue trabalhar tudo na leitura. E eles têm uma realidade parecida com a minha. Lembro que, na minha época, eu não conhecia nada além da minha cidade, e os livros me proporcionaram uma visão de mundo”, ressalta Viviane.
A professora também faz desafios literários com premiações em livros. “É uma sementinha que estou plantando”, afirma. Durante o isolamento social, ela também aproveitou para ler mais. “Já ultrapassei a minha meta do ano de ler 40 livros. Já li 42 e ainda tenho mais para ler”, conta.
Para Thayná Carvalho, 25, o prazer da leitura foi incentivado pelo pai. “Ele foi a pessoa que me apresentou aos livros. Aos 12 anos, já tinha carteirinha na biblioteca e sempre estava lendo algo. É um hábito que procuro seguir”, relata a moradora de Ceilândia. Durante o isolamento social, o desejo de compartilhar a leitura com outras pessoas aumentou. Sem poder se encontrar presencialmente com os amigos, ela aderiu ao clube de leitura informal. “Tem aqueles livros que a gente quer ler, mas não tinha surgido a oportunidade. E ter mais pessoas querendo ler o mesmo livro dá um incentivo”, explica Thayná, que faz parte de dois grupos, um de livros literários e outro, de contos. “Sempre quis participar de um clube de leitura. Como sou tímida, fazer com amigos está sendo uma ótima experiência”.
Clubes
Os tradicionais clubes de leituras também tiveram de se adaptar à pandemia. O Lendo Mulheres, realizado na capital desde 2017, migrou dos encontros na cafeteria para o on-line. “A gente sentiu um baque por não poder ter os debates presenciais. Além de falar sobre os livros, virou um encontro entre amigas. Então, lágrimas caíram com a notícia”, brinca a coordenadora do projeto, Renata Sanches, 53. Ela conta que o formato virtual deu certo. “Proporcionou a oportunidade de quem não conseguia ir nos encontros presenciais, por morar longe, de participar. O grupo até cresceu”, pontua.
Das oito pessoas que integravam o projeto no início, agora são mais de 500 cadastrados e 80 ativas nas discussões e grupos nas redes sociais. “Com a flexibilização das atividades, a gente pensou se retornava com o presencial, mas temos muita gente acima dos 60 anos e também pessoas com doenças crônicas. Então, decidimos manter até janeiro com os debates a distância”, afirma.
O Clube de Leitura da Biblioteca Nacional de Brasília também se adaptou muito bem ao formato on-line. “Foi durante a pandemia que tivemos o nosso recorde de participantes. Em julho, 24 pessoas marcaram presença no debate do livro A Vegetariana, da sul-coreana Han Kang”, destacou um dos organizadores, Rodrigo Mendes Pereira, 43. “Teve muita gente de fora de Brasília que participou. Foi uma interação muito boa. Provavelmente vamos continuar com algo no on-line”, pontua.
O bibliotecário organiza os encontros junto com mais outros quatro colegas que trabalham na Biblioteca Nacional de Brasília.
Mala do Livro
O projeto Mala do Livro — Biblioteca Domiciliar completou, na última segunda-feira, 30 anos de existência. A iniciativa surgiu em 1990, pela bibliotecária Neusa Dourado Freire, com o intuito de atender à comunidade de Samambaia com livros. “O programa iniciou com cestas de palha com livros infantis e infantojuvenis para crianças e adolescentes daquela região. Literatura brasileira, estrangeira e livros didáticos também eram colocados à disposição ”, conta a gerente do projeto, Maria José Lira Vieira, 67.
Em 1996, o Mala do Livro expandiu-se para outras regiões do DF. Atualmente, há 193 malas registradas com aproximadamente 200 livros, cada, sendo 107 domiciliares e 86 em instituições públicas e privadas. “Esse é um trabalho louvável. Estamos dando acesso à leitura para todos, valorizando o livro físico”, destaca.
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