Nesta segunda-feira (19/10), foi a vez dos alunos do 6º ao 9º ano retornarem às atividades presenciais nas escolas particulares. Para essa volta, os estabelecimentos passaram por adaptações sanitárias com o intuito de reduzir os riscos de contágio pelo novo coronavírus. Apesar das medidas de contenção, poucos estudantes do ensino fundamental fase II voltaram aos colégios.
"A gente vai fazer um teste para ver como é que fica, a gente ainda está muito insegura, mas o transtorno mental para ele (filho) está sendo muito ruim", explica a administradora Vanessa Castro, 54 anos, mãe de Matheus Goulart, 15, do 8º ano. Ela diz que o jovem sentia falta da escola e dos colegas, mas estava desanimado com a retomada: "Aposto que só vai ter eu". Ainda assim, a mãe alertou o adolescente quanto aos cuidados de segurança: "Não pode abraçar, não pode emprestar material escolar, e na escola ainda vão reforçar isso". Vanessa não descarta voltar atrás na decisão: "Da mesma forma que eu trouxe, posso não levar mais, mas estou torcendo para que tudo dê certo".
Ela foi uma das poucas mães que optaram por levar os filhos de volta às escolas. A expectativa é que cerca de 30% do público retorne aos estabelecimentos. Segundo o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF), de 45 mil matriculados na fase II, são esperados 12 mil na modalidade presencial.
No colégio Notre-Dame, da Asa Sul, que tem 500 matriculados, apenas 80 estavam na unidade. Com uma quantidade reduzida de estudantes por sala, o vice-diretor, Giovanni Souza, ressalta que os alunos virão todos os dias para a escola, mas que o ensino híbrido está mantido: as aulas presenciais são transmitidas ao vivo pela internet para quem está em casa. "A previsão, pelo que nós estamos observando, é que deve continuar uma coisa semelhante no ano que vem. Não vai voltar ao normal tão cedo, enquanto não tiver uma vacina em massa para toda a população". De acordo com Souza, a escola passou a escalonar os intervalos para que os estudantes de turmas diferentes não se encontrem: "A gente está sendo bem rígido com essa questão", frisou.
O decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB) que autorizou a retomada presencial exigiu o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), higienização a cada duas horas de equipamentos coletivos, proibição de atividades esportivas e escalonamento para entrada e saída, para evitar aglomerações. Em algumas unidades, há ainda marcações no chão para organizar o fluxo nos corredores e escadas, assim como a definição no piso do lugar onde podem ficar os alunos, mantendo o distanciamento social. Outra medida adotada pelas escolas foi a instalação de tapetes sanitizantes e distribuição de álcool em gel. O decreto ainda determinava que todos os profissionais deveriam ser testados para a covid-19 pelos estabelecimentos, mas uma decisão da justiça limitou a exigência para aqueles que tivessem sintomas da doença, ou que tiveram contato com pessoas infectadas ou que estiveram em aglomerações.
"Vamos cumprir a decisão, o que a gente queria era a testagem de todo mundo, porque tem muita gente que é assintomática", ponderou o diretor jurídico do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinproep).
Apesar das adaptações, o inspetor Clériston Baio, responsável por medir a temperatura dos alunos e funcionários na entrada do Notre-Dame, disse que fica preocupado de voltar ao trabalho, pois a esposa faz tratamento de câncer.
"Tenho receio também, mas tomando todos os cuidados dá para a gente se readaptar e fazer uma nova realidade. A gente tem que encarar de frente essa situação e, com todos os cuidados, continuar, ficamos quase sete meses fora do trabalho". Assim como outros funcionários, ele estava equipado com face shield e máscara.
Cronograma
A volta às aulas presenciais nas escolas particulares começou em setembro e segue um cronograma escalonado por fase de ensino. A próxima etapa está marcada para a próxima segunda-feira (26/10), quando os matriculados no ensino médio retornarão às escolas. Contudo, em alguns estabelecimentos, como na Escola Franciscana Fátima, a adesão dos pais foi tão reduzida que os coordenadores optaram por manter apenas o ensino a distância para a fase 2 e o ensino médio. Para as escolas públicas, não há previsão de retorno.
Pandemia
Na semana passada, um estudo da Universidade de Brasília (UnB) apontou que, mesmo com a redução da epidemia no DF, algumas regiões administrativas apresentam crescimento na taxa de reprodução do vírus. Segundo o estudo, há uma indicação de que a epidemia continua regredindo na capital federal, porém em ritmo mais lento. Dados da Secretária de Saúde indicam que há 204.304 casos confirmados da infecção no DF e 3.539 pessoas morreram em decorrência da doença.