Um dos setores que sofreram impactos por conta da pandemia do novo coronavírus, no Distrito Federal, é o das cervejarias artesanais. O período de isolamento social obrigou os cervejeiros a pensar estratégias para levar a bebida para a casa dos apreciadores, como comércio on-line e delivery.
Com o fechamento dos bares e restaurantes, os sócios Denilson Postai, 49 anos, e Leonardo Ribeiro, 42, criadores da marca Cerrado Beer, decidiram investir nas prateleiras dos supermercados. “Isso foi o que nos salvou, porque, no início, as pessoas correram para lá, único local que ficou aberto”, lembra Denilson.
Ele conta que, no começo da pandemia, os sócios enfrentaram dificuldades para produzir a bebida. “A nossa empresa é de fábrica cigana, ou seja, fazemos uma parceria com a fábrica de outra marca para produzir a nossa no local. Com a crise, os contratos dos trabalhadores foram suspensos. A sorte foi que as fábricas de cerveja também ficaram como serviço essencial, e voltamos à produção com a contratação de uma equipe temporária”, explica Denilson.
Com a garantia da produção, eles passaram a fazer entregas em domicílio. “Fizemos um site e colocamos todos os nossos produtos para o cliente comprar”, destaca Denilson. Mas, de acordo com ele, o faturamento melhorou apenas após a reabertura dos bares e restaurantes. “A partir de setembro e outubro, o cenário ficou mais favorável, e esperamos que se mantenha assim com as datas de fim de ano”, adianta o empresário.
Devido às dificuldades tributárias para conseguir os insumos necessários e ao mercado restrito, o cenário cervejeiro ainda é incipiente em Brasília. “São muitos os desafios enfrentados nessa área. Comparada com outros locais, Brasília possui um mercado de cervejas artesanais retraído e, durante a pandemia, o setor foi ainda mais prejudicado”, afirma o presidente da Associação da Cerveja Artesanal do Distrito Federal (Abracerva DF), Pedro Capozzi. Ele é sócio de Filipe Gravia e Rodrigo Braga na cervejaria Cruls.
Segundo último levantamento da Abracerva, o mercado do DF possui cerca de 30 cervejarias registradas — cinco produzem a bebida em fábrica própria e as demais cervejarias são ciganas, ou seja, realizam a produção de forma terceirizada em outras fábricas. “Tanto as empresas pequenas quanto as grandes sofreram com a crise. As menores, porque dependiam de eventos para sobreviver e as maiores, que tinham uma grande receita oriunda de chopp em casa e de uma hora para outra viram o mercado consideravelmente retraído”, observa Pedro Capozzi. No caso da empresa dele, de fábrica própria, a alternativa para sair da crise foi buscar empréstimos e investir no e-commerce. “A gente já tinha uma equipe qualificada para atuar nessa área de comércio virtual, e, por isso, decidimos mudar a estratégia de vendas”, revela Capozzi.
Aguou o chopp
O grande sonho de Tiago Mota, 28, de viver da produção de cerveja artesanal, teve que ser adiado. Diversos foram os obstáculos encarados pelo produtor da marca Metanoia durante a crise do novo coronavírus. “A gente vendia a cerveja no bar Metanoia e, no começo da pandemia, com o fechamento do espaço, ficou sem local para vender”, lamenta. Mesmo com as entregas em domicílio e divulgação nas redes sociais, o cervejeiro observou uma queda constante no faturamento. “Julho foi o pior mês. As vendas caíram em mais de 85%. Foi aí que decidi parar a produção e ficar com o que tinha no estoque. Quando os bares abriram, vi que o consumo da cerveja artesanal voltou bem menor”, disse.
Determinado a não pegar empréstimo financeiro para manter a marca, Tiago optou por suspender o empreendimento. “A Metanoia vai continuar existindo, mas fechamos o bar e, por enquanto, não iremos produzi-la”, conta. “Pode ser que no futuro, quando as coisas melhorarem, eu dê continuidade como produtor de cerveja artesanal”, acrescenta.
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