TEMPO

Bloqueio atmosférico impede passagem de frente fria e calorão vai continuar

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alertou para o risco de óbito causado por hipertermia, quando a temperatura do corpo alcança mais de 40°C. Especialistas dão dicas de como se cuidar neste período de seca para evitar a desidratação do corpo

Darcianne Diogo
Thais Umbelino
postado em 07/10/2020 06:00 / atualizado em 07/10/2020 06:13
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O tempo seco e as temperaturas elevadas colocaram o Distrito Federal em alerta vermelho. Devido a passagem de uma onda de calor — que fez com que a temperatura média do DF para a época (28°C) subisse 5°C por um período maior do que cinco dias —, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu notificação para o perigo de morte causada por hipertermia — quando a temperatura corporal sobe além dos 40°C, o que pode comprometer a saúde e levar à falência dos órgãos. A previsão é de que o clima quente perdure até sexta-feira e, no final de semana, espera-se ocorrência de chuvas.

Ontem, a temperatura máxima atingiu 35,1°C, em Águas Emendadas, em Planaltina, ou seja, 7°C acima da média. A umidade relativa do ar ficou em 14% (mínima). A Organização Mundial da Saúde (OMS) frisa que o ideal é que a umidade esteja em, pelo menos, 60%. Para hoje, a máxima deve chegar a 36°C e a mínima a 20°C.

Segundo Francisco de Assis, meteorologista do Inmet, o alerta vermelho foi divulgado em decorrência da capital federal ultrapassar o registro médio de 28°C contabilizado nos últimos 30 anos. “A consequência do calor na região tem relação com a alta variabilidade climática durante este período do ano. Existe um bloqueio atmosférico muito grande, entre a Argentina e o Rio Grande do Sul, que impede a passagem da frente fria”, explica.

Além do Distrito Federal, Mato Grosso, Goiás e Tocantins podem ser atingidos pelas temperaturas de 40ºC.

Perigo

O pneumologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Luiz de Melo explica que os casos de morte associados a onda de calor não são comuns, mas é preciso estar em alerta. A hipertermia, segundo ele, está ligada ao aumento da temperatura corporal e apresenta risco de morte. “Quando a temperatura do corpo atinge 41°C, é a hora de procurar um hospital para se esfriar, pois há um nível alto de desidratação. Geralmente, isso ocorre em clima de deserto, e Brasília tem esse clima. Estamos tendo um constante aumento de temperaturas e isso é preocupante”, destaca.

O médico elenca alguns cuidados essenciais para evitar o aumento excessivo da temperatura corporal. Segundo ele, crianças e idosos devem manter a atenção redobrada, pois se desidratam com facilidade. “Não basta apenas beber água. É preciso pensar nos sais minerais, nas vitaminas, que podem ser encontrados nos sucos de frutas, por exemplo. A umidade do ar está baixíssima e, consequentemente, a pessoa transpira muito, principalmente os sais. Então, para repor é preciso ingerir frutas, legumes e vegetais”, orienta.

O professor explica que, em casos mais graves, a pessoa é levada a unidades de saúde, onde passa por alguns procedimentos para o esfriamento do corpo. “Têm diversas medidas hospitalares. Uma delas é colocar o paciente no gelo ou dentro da água. É importante frisar que cabe à pessoa cuidar de si mesma para evitar situações como essas. Evitar saídas desnecessárias, se refrescar em casa colocando bacias de água ou ligando o umidificador são algumas dicas”, afirma.

Ao Correio, o subsecretário da Defesa Civil, coronel Alan Araújo, enfatiza que os cuidados precisam ser tomados para impedir uma piora na condição de saúde. “É sempre bom focar nas medidas de prevenção, como por exemplo, evitar se exercitar entre 10h e 16h, porque esse é o horário em que a insolação está mais incisiva no DF. Procurar algum tipo de proteção, seja chapéu ou uma camisa de manga, de maneira que crie uma barreira contra o Sol, e manter uma alimentação leve, regada a base de frutas, como banana e pera, que tem mais água”, resume.

Refresco

Leonardo Martins, 32 anos, trabalha como motorista de transporte por aplicativo e, ontem, atendeu a uma cliente no Paranoá com destino a São Sebastião. Entre uma corrida e outra, o condutor aproveitou para se refrescar na Prainha do Lago Norte com a filha, Lavínia Martins, de 5 anos. “O calor estava demais. E, agora, com essa pandemia, não podemos ligar o ar-condicionado, só deixar os vidros do carro abertos. Mas, mesmo assim, não basta. Está muito seco e o ar não entra”, reclama. A pequena gostou do passeio e não demorou muito para entrar na água. “Está muito quente, mas o lago está bom”, disse ela.

Há aqueles que aproveitam o movimento dos brasilienses na Prainha para trabalhar, como é o caso de Amanda Ferreira, 23, e Marconi Lopes, 24. O casal resolveu vender dindin para complementar a renda da casa. “Geralmente, chegamos aqui por volta de 13h, é uma hora em que o sol está ardendo, e só saímos às 18h. Sabemos que é um período bem quente, mas tentamos tomar os devidos cuidados, como passar protetor e trazer a garrafinha de água”, explica a jovem.

De longe, o casal Grazielle Alves, 34, e Allan Cardoso, 27, se divertia no meio do lago. Os dois deram uma pausa na rotina para fugir das temperaturas elevadas. “Nunca vi dias tão quentes como este no DF. É preciso refrescar para poder superar”, defende o motoboy.

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Duas perguntas para

Carlos Henrique Ribeiro Lima, professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos da Universidade de Brasília (UnB)

O que pode estar influenciando o aumento das temperaturas no DF?

Historicamente, essa é a época do ano (meio de setembro e início de outubro) mais quente, aqui, em virtude, principalmente, da forte intensidade da radiação solar sobre a região. Entretanto, o próprio aquecimento global contribui para as temperaturas mais altas (acima da média histórica) que temos observado nos últimos dias.

Há alguma forma de a população contribuir para a diminuição da temperatura?

Pensando na contribuição da população, poderíamos avaliar medidas que reduzam o efeito das chamadas ilhas de calor. Por exemplo, aumentar o plantio de árvores (consequentemente reduzir o desmatamento e as queimadas, que também afetam bastante o clima) e reduzir a queima de combustíveis fósseis (andar mais a pé, de bicicleta e etc). No médio prazo, poderíamos pensar no uso de materiais diferentes na construção civil e nos pavimentos, e em um melhor gerenciamento do uso do solo. Mas, essas últimas medidas já dependem também do poder público.

Recordes

Temperaturas mais altas registradas nos últimos 10 anos no DF:

— 37.3ºC (Águas Emendadas),
em 15 de outubro de 2017

— 37.1ºC (Águas Emendadas),
em 28 de outubro de 2008

— 37ºC (Águas Emendadas),
em 22 de outubro de 2015

— 36.7ºC (Gama),
em 15 de outubro de 2017

— 36.5ºC (Gama),
em 18 de outubro de 2015

— 36.2ºC (Águas Emendadas),
em 25 de setembro de 2015

— 36.2ºC (Águas Emendadas),
em 21 de setembro de 2019

— 36.2ºC (Gama),
em 20 de outubro de 2015

— 36.2ºC (Águas Emendadas),
em 18 de outubro de 2015

Sugestões

Confira orientações da Defesa Civil para suavizar os efeitos do calor

» Beber, pelo menos, seis copos de água por dia

» Pingar duas gotas de soro fisiológico em cada narina

» Ter toalhas molhadas e bacias com água nos quartos da casa

» Usar roupas leves e, se possível, de algodão

» Evitar a queima de lixo e entulho

» Colocar chapéus e óculos escuros para proteger-se do Sol

» Aproveitar o vapor produzido pela água durante o banho para lubrificar as narinas

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