A guerra contra a covid-19 continua e a corrida por uma vacina que seja eficaz também. A produção da imunização pode demorar até dez anos para passar por todos os testes necessários até sua aprovação e distribuição para a população. A pandemia no mundo já alcançou nove meses e, segundo dados da Wolddometer, o Brasil atualmente ocupa a terceira colocação no ranking de incidência do vírus. Segundo dados do Ministério da Saúde, publicados no painel covid-19 na última quarta-feira (30/9), 143.952 brasileiros perderam a vida para a doença. No caso do Distrito Federal (DF), o número chega a 3.255 mortes - sendo 264 residentes em outros estados
Para o fim da pandemia, muitos agarram suas esperanças na produção de uma vacina. Mas a espera não garante eficácia e segurança. “Temos relatos de vacinas com efetividade de 70%. Isso não é suficiente para dar segurança às pessoas, então mesmo com essa vacina, teríamos que continuar utilizando máscaras, manter o distanciamento social quando possível e a higienização das mãos”, explica Rodrigo Biondi, intensivista do Hospital Brasília
Embora fabricantes e especialistas estejam confiantes com a testagem das vacinas, ainda há grandes ressalvas. “Se ela for uma vacina bastante eficaz, como, por exemplo, a vacina do sarampo ou tétano, que são muito eficazes, ela resolveria completamente. A questão é que parte da população não irá se vacinar com campanhas anti vacina. E mesmo que boa parte faça, se não houver uma eficácia acima de 90%, vamos ter muitas pessoas desprotegidas”, ressalta Rodrigo.
Atualmente, ainda não há previsão de quanto tempo a epidemia deve durar, conforme explica o intensivista. “Nós estamos vivendo um momento de segunda onda na Europa e em algumas cidades nos Estados Unidos. Essa segunda onda parece ser menos intensa do que a primeira, mas, em alguns lugares não tem muita diferença e, inclusive, possuem vários casos de óbitos”, afirma. No Brasil, não é diferente: “Nós não conseguimos saber se teremos uma segunda onda aqui, principalmente em Brasília. O único evento epidemiológico diferente que podemos citar é a abertura das escolas, mas isso já aconteceu em alguns locais sem maiores transtornos”, acredita Rodrigo.
De acordo com o especialista, outros eventos podem alterar a dinâmica da pandemia, como a abertura de eventos com aglomeração. “Essa é uma situação muito preocupante. Uma coisa é fazer o distanciamento social no restaurante, em que se coloca mesas mais afastadas umas das outras. Mas em um estádio, onde as pessoas vão para shows ou jogos de futebol, isso é virtualmente impossível”, afirma. “Esses eventos geralmente envolvem bebidas alcoólicas e a adesão ao uso de máscara e higiene das mãos vai por água abaixo, as pessoas não vão aderir de forma alguma a esse processo”, acredita Rodrigo.
Segundo o especialista, ainda não há previsão precisa de quando a vacina será colocada no mercado para uso comercial. “As melhores estimativas falam que isso acontecerá até o final do ano, mas pressuposições mais conservadoras acreditam que até meados do ano que vem ou talvez início de 2022. Eu acredito que no final de 2020, nós já devemos ter uma vacina com algum grau de eficácia comprovada”, prevê o intensivista.
O jeito é se agarrar na esperança. É o caso da família da servidora pública Sandra Paiva Pereira Gomes, 45 anos. Ela conta que seu marido, o empregado público Eudes Gomes Paiva, 44, foi contaminado com o coronavírus. “Ele apresentou febre e muita moleza no corpo. A covid-19 afetou seu coração, teve problemas cardíacos e adquiriu uma hepatite”, lembra. Após dois dias, outros membros da família - incluindo Sandra - começaram a apresentar sintomas da doença. “Todos tiveram febre e muita dor no corpo e de cabeça. Me deu sinusite. Com oito dias eu piorei, tive pneumonia, mas somente 5% do pulmão ficou comprometido”, recorda a servidora pública.
Os dias de isolamento foram longos, mas a família contou com a ajuda de médicos por intermédio da telemedicina, e amigos e vizinhos, que ajudaram com compras essenciais. “Nosso isolamento foi total. Ficamos em casa, passamos a pedir comida pelo mercado, que entrega frutas e verduras. Muitos amigos vieram, entregavam a comida no portão de casa. Nós tínhamos até uma caixinha de papelão que usavam para colocar os itens dentro. Faziam caldos, sopas, almoço para nós”, diz Sandra.
Com toda a família infectada, incluindo marido, filhos e tia, Sandra acredita que o quadro não foi comprometido pois mantiveram fé: “Nós somos cristãos. Quando descobrimos que estávamos com covid-19, tentamos ser positivos, não nos desesperamos e buscamos tratar tudo com calmaria e leveza. Tínhamos certeza que ficaríamos bem”, afirma a servidora. “Esperamos que as vacinas estejam no mercado o quanto antes, porém com toda a precaução possível para que ninguém tenha efeitos colaterais sérios. Nossa esperança para os próximos dias e anos é que essa doença realmente fique controlada”, completa.
Estabilidade na capital
Até as 18h desta quarta-feira (30/9), o DF já alcançou 192.245 casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Os dados foram divulgados pela Secretaria de Saúde. Em 24h, mais 928 pessoas se contaminaram com o vírus. Segundo a infectologista Ana Helena Germoglio, do Hospital Águas Claras, a capital federal já alcançou a fase de maior estabilidade da pandemia. “O nosso período mais complicado foi em julho, onde tivemos o pico de casos e de ocupação das unidades de saúde, públicas e privadas”, ressalta a especialista.
Segundo a especialista, a estabilidade dos casos ocorreu devido à quantidade de pessoas que já foram infectadas durante o pico da doença na capital. “Precisamos entender que, na população de cerca de três milhões de habitantes do DF, aproximadamente 20 a 30% já teve contato com o vírus, ficou doente e se recuperou. É a isso que se deve essa estabilidade”, acredita. “Ainda vamos ter casos, mas, aparentemente a grande disseminação já passou”, reforça Ana.
Enquanto uma vacina eficaz não surge, a especialista ressalta que os cuidados precisam continuar sendo adotados. “São cautelas que chamamos de prevenção não farmacológica, como uso de máscaras, distanciamento social e higienização das mãos. A vigilância epidemiológica está aí para nos alertar em relação aos surtos e à incidência de casos. Só com uma vigilância bem feita é que vamos conseguir saber como estamos nos comportando em relação ao número de casos e óbitos”, acredita a infectologista.
Vacinação
Atualmente, quatro vacinas tiveram aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para realizar testes de fase três no Brasil. Essa é uma das últimas etapas antes da comercialização e distribuição. No DF, duas vacinas estão nesse estágio, apesar de ainda não haver negociações do governo local para adquiri-las com prioridade. Outras duas, que não são testadas em Brasília até o momento, estão no radar de autoridades para serem distribuídas na capital, sendo elas Sinopharm e Sputnik V. Entenda quais são os imunizantes testados no DF.
Coronavac: produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech, foi a primeira a chegar no DF. Os ensaios estão sendo coordenados pelo Instituto Butantan, com apoio da Universidade de Brasília (UnB). Nas fases anteriores, houve produção de anticorpos em 90% dos participantes que receberam a imunização.
Ad26.COV2.S: produzida pela farmacêutica Johnson & Johnson e pelo laboratório belga Janssen. Os ensaios serão coordenados pelo L2iP Instituto de Pesquisas Clínicas. A previsão é que seja aplicada em 800 moradores da capital e do Entorno, com dose única.
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