OBITUÁRIO

Morre, aos 91 anos, a espanhola Carmela Nin, pioneira do DF

Natural de Tarragona, região da Catalunha, Mela Nin, como era carinhosamente chamada, mudou-se para Brasília em 1957. Ela morreu nesta terça-feira (29/9), aos 91 anos

Brasília perdeu, na madrugada dessa segunda-feira (28/9), uma de suas pioneiras. Morreu, aos 91 anos, a espanhola Carmela Nin. Brasiliense de coração, Mela Nin, como era carinhosamente chamada, mudou-se para a capital federal em 1957.

Natural de Tarragona, região da Catalunha, ela veio para a cidade ainda em construção com o marido, também espanhol, na busca de uma vida próspera. Em dezembro, a pioneira completaria 92 anos.

“Viveu como queria, nos ensinou a amar a vida, a ter garra, a não se rebaixar pra ninguém, a se amar, e amar as pessoas de quem ela gostava. Vida, é a palavra que resume bem minha mãe, e mesmo tendo perdido a dela hoje (ontem), ela jamais será esquecida”, declarou a filha Del Nin em postagem nas redes sociais. 

Em 2013, Carmela foi uma das mulheres homenageadas na exposição Memórias femininas na construção de Brasília, no Museu dos Correios, de curadoria da pesquisadora e cineasta Tania Fontenele. Em 2019, a mostra ganhou espaço também no Supremo Tribunal Federal.

O mar de Tarragona

O jornalista Marcelo Abreu, que a conhecia e admirava, registrou a imagem que ilustra esta reportagem e traz um detalhe essencial. Nela, a pioneira carrega nas mãos uma caixinha com três conchas e areia do mar trazidas da terra natal e assim guardadas há mais 60 anos. Marcelo conheceu a história de Mela por meio de uma amiga e encantou-se. Num encontro em 2013, ouviu da pioneira a bela história por trás da lembrança que guardou com tanto carinho durante décadas.

"Da janela do meu quarto, eu via o mar, todos os dias. Acordava e dormia com ele", disse Mela ao jornalista. "E, com seus olhos verdes embaçados, me fitou e continuou: 'Parte dos meus sonhos o mar levou. Outros ficaram enterrados na areia e mais alguns outros eu realizei. A vida é assim'. Nesse momento, ela aproxima o nariz perto da caixinha, para sentir o cheiro do mar que deixou do outro lado do oceano. Ainda emocionada, ela me revelou: 'Meu marido ajudou a construir Brasília, minha filha e meus dois netos nasceram aqui. Eu sou candanga, mas eu nunca esqueci o mar de Tarragona. É a maior saudade que carrego da minha terra. Saudade fica'", escreveu Marcelo Abreu, também nas redes sociais, à época do encontro, em postagem republicada no dia da morte de Mela.

O enterro será na quarta-feira (30/9), no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul.

Veja o relato completa da filha Del Nin:

"Hoje, aos seus bem vividos 91 anos, minha linda e querida mãe nos deixou. Viveu como queria, nos ensinou a amar a vida, a ter garra, a não se rebaixar pra ninguém, a se amar, e amar as pessoas de quem ela gostava. Vida, é a palavra que resume bem minha mãe, e mesmo tendo perdido a dela hoje, ela jamais será esquecida. Quem a conheceu pessoalmente, sabe bem do que estou falando, e quem a conheceu pela internet, sabe também que ela era uma pessoa pra frente do seu tempo, cheia de vontade de conhecer e estar junto de todas as novidades. Para as Donas del Barça, tenham a certeza, de que uma das últimas coisas que eu a ouvi falar era a felicidade do Barça estar ganhando no primeiro tempo de 4x0. Assim eu quero que todos se lembrem dela, feliz. Feliz, apesar de tudo, estou eu de ter tido ela como mãe, e de que Deus a levou do jeito que ela queria, como um passarinho. Voa meu passarinho, que agora você tem todo o céu para conhecer."