Faltam mais de dois meses para que a Câmara Legislativa escolha o novo presidente da Casa. O assunto, apesar de ainda não estar na pauta oficial e gerar respostas evasivas de distritais quando tratado de forma pública, movimenta os bastidores do Legislativo local. Parlamentares governistas e de oposição articulam-se para consolidar candidaturas e buscar apoio para a eleição.
O atual presidente da Casa, Rafael Prudente (MDB), é um dos que não trata do assunto publicamente. Em entrevistas ao Correio nos últimos meses, o deputado sempre afirmou que uma eventual disputa pela continuidade do cargo é tema que deve ser tratado depois e que a candidatura depende da boa avaliação dos colegas. Entretanto, a situação é outra.
Prudente pode ser o primeiro presidente reeleito no Legislativo local, pois os deputados aprovaram, no ano passado, emenda à Lei Orgânica que permite a recondução (leia Memória). Mesmo evitando falar do assunto, Prudente trabalha em busca da reeleição e começou a articulação com outros distritais, relatam interlocutores do parlamentar ouvidos pelo Correio.
A candidatura do atual presidente fortaleceu-se com o imbróglio da CPI da Pandemia. Ao assumir postura firme e devolver o requerimento que pedia a instalação da comissão, Prudente ganhou força junto ao Palácio do Buriti. A avaliação de pessoas próximas ao parlamentar e mesmo de figuras da oposição é de que, com o posicionamento, Prudente conquistou de vez o apoio do correligionário Ibaneis Rocha para a disputa. O parlamentar lidou com o desgaste público da CPI enquanto o governador assumiu postura mais discreta.
Na base de Ibaneis, alguns outros nomes são citados como possíveis candidatos. Agaciel Maia (PL) chegou perto do cargo em 2016, mas perdeu por pouco para Joe Valle (PDT). A tendência, entretanto, é de que Agaciel só lance a candidatura caso acredite, de fato, nas possibilidades de vitória. Hoje, o cenário entre os governistas pende para o apoio a Prudente. O distrital Claudio Abrantes (PDT), líder do governo, é outro cujo nome circula nos bastidores. Abrantes, que perdeu para Prudente em 2019, também não deve se lançar sem segurança de vitória.
Oposição
O nome mais cotado da oposição para a disputa é o do deputado Reginaldo Veras (PDT), que também tentou o cargo em 2018. O principal na possibilidade de Veras concorrer é que os distritais contrários ao governo Ibaneis não teriam número suficiente para elegê-lo, caso não houvesse composição. Antes das polêmicas em torno da CPI da Pandemia, havia a possibilidade de uma articulação com o grupo de deputados independentes. Veras afirma, no entanto, que não abriria mão de bandeiras como independência em relação ao Palácio do Buriti e economia nos gastos dos deputados, o que também poderia complicar a coligação.
O principal articulador dessa via era o deputado distrital Leandro Grass (Rede). A ideia é encontrar um nome que pudesse se contrapor ao GDF e manter a Câmara com postura mais firme em relação ao governo do emedebista. As conversas complicaram-se depois das movimentações feitas pelo Buriti para tentar barrar a CPI da Pandemia, cujo relatório é de Grass.
Ao articular com distritais, o Buriti cedeu espaço no governo para parlamentares que tinham se distanciado de Ibaneis, como Roosevelt Vilela (PSB), Reginaldo Sardinha (Avante) e Daniel Donizet (PSDB). Os ex-dissidentes da base poderiam pender a balança para uma candidatura contrária ao GDF. Hoje, entretanto, a tendência é de que votem com o governo.
Outra via opositora a Prudente seria uma candidatura de Eduardo Pedrosa (PTC), que é do grupo independente. Pedrosa também articula nos bastidores, mas, para se fortalecer, precisaria convencer o grupo que voltou para a base a se posicionar contra o provável apoio do Buriti a Prudente. As negociações nesse sentido devem se intensificar nos próximos meses.
Tendência
O cientista político Creomar de Souza, CEO da Consultoria Dharma e professor de Ambientes e Cenários do Século XXI na Fundação Dom Cabral, avalia que o cenário atual é favorável para os governistas e para Prudente. “O governo ainda está com a faca e o queijo nas mãos. Para impedir o progresso da CPI, Ibaneis precisou arcar com o custo disso e abrir espaço no governo para alguns deputados, mas isso, por outro lado, foi um movimento que serviu para fortalecer a base e recuperar apoios”, analisa.
O grupo político de Ibaneis, na opinião do especialista, conseguiu mais sucesso na relação com a Câmara Legislativa até agora em comparação com o ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB), antecessor de Ibaneis no Buriti. “Ele teve dois anos tranquilos com a Câmara Legislativa. Para Ibaneis, é importante manter um presidente do seu lado porque a eleição de um opositor faria com que tivesse uma fase final de mandato com muita pressão sobre si. Nenhum político quer isso, ainda mais se pensa em reeleição”, comenta.