A chuva comemorada na última segunda-feira foi vista com apreensão por moradores e comerciantes de Vicente Pires. As ruas 3, 12 e 4A foram as mais afetadas com deslizamentos de terra de buracos abertos para as obras de drenagem pluvial na região. Na Feira do Produtor, localizada na Rua 4A, parte das lojas ficaram na beira de um barranco após o perímetro da vala aumentar com a força da tempestade. Uma queda d’água com lama se formou no local. Com a força da correnteza, um cano da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) se rompeu, contribuindo para o alagamento no buraco.
Laércio Moreira Barros, 27 anos, conta que a sensação, no momento da chuva, foi de pânico. “Ficamos bem apreensivos. Aqui sempre costuma alagar, a loja já ficou com quase 20 centímetros de água que vem da rua. Imagine com um buraco desse aberto”, protesta o lojista. “Ficamos com medo do comércio cair. Se até as escoras que eles colocaram não deram conta”, ressalta outro comerciante, Adilson Maia Pereira Filho, 44. De acordo com ele foi uma “bomba anunciada”.
“A gente avisou a eles (Artec — empresa responsável pela obra na Rua 4A) que o buraco ia encher de água com a chegada das chuvas. Inclusive, foi para evitar as enchentes que a obra iniciou. A gente fica preocupado com o que esse buraco pode ocasionar. Não só os transtornos, mas poderia ter machucado alguém. Graças a Deus que não aconteceu nada pior”, pontua Adilson.
A Subsecretaria do Sistema da Defesa Civil, vinculada à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, foi acionada para ocorrência de alagamento em Vicente Pires. A Rua 4A foi bloqueada para prevenir acidentes. Uma nova avaliação foi realizada ontem no local, que segue com o acesso fechado. O comércio está funcionando normalmente.
Segundo os comerciantes, a abertura da vala para o sistema pluvial começou em 4 de agosto, com a previsão de entrega para o final de outubro. No entanto, no início do mês, os serviços foram paralisados. Em nota, a empresa Artec, responsável pelos trabalhos nesse trecho, informou que a falta de ferragem/aço no mercado nacional impossibilitou a continuidade da obra. A previsão é que o material chegue nos próximos dias.
“Como é que eles abrem um buraco sem ter material para fazer o serviço? Ainda mais com o período de chuva chegando”, questionou Mério Antônio de Oliveira, 49, que tem uma panificadora na Feira do Produtor. Ele busca uma forma de manter o comércio com os impactos obra. “Eu não sei como vou fazer, meu faturamento caiu 60%. Se continuar assim, vou ter de fechar as portas”, lamenta. Após o ocorrido, equipes da construtora Artec trabalhavam para retirar a água de dentro da vala, ontem. A Caesb atuou para conter o vazamento na região. Os canos rompidos serão reparados e parte da obra terá de ser refeita.
Previsão continua
Apesar do aumento no buraco, a Secretaria de Obras e Infraestrutura informou que está mantido o cronograma para o término das intervenções na região. “Informamos que todos os serviços previstos nos contratos atualmente em vigor serão concluídos neste ano”, afirma a nota oficial. Sobre a Rua 4A, a pasta explicou que falta concluir 170 metros da tubulação de drenagem e que, a parte que já foi feita será aterrada. Dessa forma, a vala aberta diminuirá de tamanho. Dos 430 metros de abertura na via, 260 metros está com o sistema de captação pluvial pronta.
Para o administrador de Vicente Pires, Daniel de Castro, mesmo com os transtornos ocasionados na região, as obras de infraestrutura estão em ritmo acelerado. “Cumprimos 90% do cronograma previsto, e esperamos entregar tudo ainda neste ano. Na Rua 4A, até o final de novembro estará com tudo pronto. Drenagem, asfalto”, garante.
Na Rua 3, uma outra vala preocupa comerciantes. “É um descaso isso aqui. A empresa abre para fazer o serviço, não termina e depois vai abrir buraco na Rua 4A. Quando choveu virou um rio”, comenta Graciliano Ribeiro, 50. Na rua 12, há também um buraco na via para a implementação do sistema pluvial. Com a chuva, um rio de lama se formou. Não houve deslizamento nesse ponto. Já na Rua 8, no momento que a equipe do Correio estava no local, um cano de água da Caesb se rompeu após o maquinário da obra passar na pista. O jato de água chegou a oito metros de altura.