Uma mansão avaliada em, pelo menos, R$ 2 milhões, localizada no Lago Sul, região mais nobre de Brasília, virou caso de polícia. Herdeiro do imóvel, Ricardo Lima Rodrigues da Cunha acusa o casal Rodrigo Damião da Silva e Cristiane Machado dos Santos de ter aproveitado que a casa estava vazia para invadi-la. O caso é investigado pela 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul). Agentes suspeitam que o casal tenha ligações com grileiros.
Pelo relato do herdeiro da mansão à polícia, a ocupação do imóvel ocorreu em 10 de janeiro deste ano, “da noite para o dia”. Ele, no entanto, tomou conhecimento do suposto crime em junho, depois de finalizar um longo tratamento de saúde fora de Brasília. Ricardo foi visitar a casa que os pais haviam lhe deixado, mas não conseguiu entrar. Todas as fechaduras tinham sido trocadas. Percebendo que havia gente na residência, pediu para falar com alguém.
Foi neste momento que o herdeiro se deparou com Rodrigo Damião, que alegou ter alugado o imóvel. Ricardo questionou a informação, pois disse que jamais autorizou a locação. Pediu, então, para ver as cópias do contrato e dos recibos de pagamento. Damião, segundo relatos dos advogados de Ricardo, começou a dar sinais de irritação e nervosismo e, com medo de violência, o dono da mansão foi embora. Desde então, trava uma batalha na Justiça para a reintegração de posse do imóvel.
Ao Correio, tanto Rodrigo Damião quanto Cristiane Machado disseram que ocupam a mansão regularmente. “Temos cópias do contrato de aluguel e de todos os recibos de pagamento. Está tudo correto”, disse ele, que é corretor. “O que estão fazendo com a gente é uma injustiça. Vamos provar tudo no tribunal”, acrescentou a mulher, que se apresenta como advogada.
Polêmicas
Na denúncia encaminhada à polícia, o herdeiro da mansão, cujo aluguel não sai por menos de R$ 15 mil por mês, na avaliação do mercado, ressaltou que Rodrigo Damião e a mulher já responderam a, pelo menos, dois processos por invasão de imóveis. Também foram denunciados por estelionato. As mesmas denúncias constam no processo em que Ricardo Cunha pede, na Justiça, a reintegração de posse da casa. A previsão é de que esse processo seja julgado em 22 de outubro.
Não é de agora, porém, que o imóvel situado na QL 18, Conjunto 4, do Lago Sul, está envolvido em polêmica. A mansão faz parte de um espólio que se arrasta desde a morte de Orlando Rodrigues da Cunha Filho, em março de 2014. Ex-presidente da Hípica de Brasília, ele tinha uma série de empresas, que faliram devido a péssimos negócios feitos pelo empresário. A casa está em nome da MSS do Brasil Sistemas de Computadores. Nunca foi transferida para o patrimônio pessoal de Orlando.
Com base em recibos datados de 1996 sobre a alienação do imóvel, a Justiça reconheceu que a mansão era do empresário, segundo consta em certidão atualizada. Como um dos filhos de Orlando, Alexandre, abriu mão da casa, o único herdeiro passou a ser Ricardo, que, agora, trava uma batalha judicial com o casal acusado de invasão. Ele acredita que tem todas as condições de retomar o que é seu por direito.
Antes da suposta invasão, a mansão foi alugada a um grupo religioso, os Arautos da Evangellho. Mas, diante dos constantes atrasos no pagamento, os religiosos foram despejados em 2016. Desde então, a casa ficou vazia. Foram os vizinhos que se cotizaram para manter, pelo menos, o jardim ajeitado e a piscina limpa a fim de evitar a disseminação de doenças. “Isso durou anos”, disse uma moradora da QL 18. “Morríamos de medo da dengue”, acrescentou.
Desrespeito
Cientes de toda a confusão envolvendo o imóvel, os vizinhos cobram uma ação rápida da polícia e da Justiça. Alegam que, desde que o casal acusado de invasão chegou à mansão, o sossego acabou na região. São dias e dias seguidos de festa, com o som altíssimo, muita bebida e bagunça. No carnaval, Rodrigo Damião e Cristiane Machado usaram a uma picape de som para animar a folia. “Ninguém conseguiu dormir em nenhuma das noites. O som era tão alto que os vidros das janelas das nossas casas balançavam. A sensação era de que explodiriam”, destaca outra moradora da QL 18.
Não por acaso, a Polícia Militar foi acionada várias vezes para conter os abusos. “Menos de 15 minutos depois de os policiais irem embora, o som voltava com tudo. Um desrespeito”, afirmou um vizinho da mansão. Para ele, a forma como os ocupantes da Casa 1 do Conjunto 4 chegaram foi muito estranha. “Nunca soubemos que a mansão estava para ser alugada, até porque há todo um problema judicial envolvendo o imóvel. Foi tudo tão rápido. Quando acordamos, a casa estava ocupada.”
A Polícia Civil garante que o casal será chamado a depôr nos próximos dias. Os investigadores estão esperando que o herdeiro da mansão apresente toda a documentação de propriedade do imóvel. “Nada ficará sem ser averiguado. E, todos terão a oportunidade de se defenderem. Claro que isso implicará na apresentação do contrato de aluguel e dos comprovantes de pagamentos. Estamos falando de uma acusação séria de invasão de propriedade”, disse um dos investigadores à frente do caso.