Com apenas 4 anos, uma menina moradora de Taguatinga viveu momentos de desespero. Na tarde desta segunda-feira (14/9), em um hospital particular de Ceilândia, a criança presenciou o assassinato da própria mãe, Shirley Rúbia Gertrudes, de 39 anos, cometido pelo pai, Rafael Rodrigues Manuel, 35, que, após o feminicídio, tirou a própria vida. Investigadores da Delegacia de Atendimento Especializado da Mulher (Deam II) analisam as imagens de segurança da unidade de saúde para ajudar na elucidação do crime.
De acordo com a apuração policial, Shirley agendou uma consulta pediátrica para a filha no Hospital São Francisco, localizado na QNN 28, e Rafael acompanhou a ex-mulher. Os dois permaneceram na sala de espera e, após alguns minutos, foram chamados para entrar no consultório. “Quando os dois entraram, ele saiu rapidamente da sala e retornou em seguida. Tivemos o relato de que, lá dentro, a vítima e o suspeito tiveram uma breve discussão, mas nada que chamasse atenção”, detalhou a delegada-chefe da Deam II, Adriana Romana.
Segundo a investigadora, o acusado, que trabalhava como auxiliar de cinegrafista em uma emissora de TV, saiu em direção ao carro, onde, supostamente, teria pego a faca utilizada no crime. Ao entrar novamente na sala, ele efetuou diversos golpes contra a vítima, sendo que um deles perfurou o coração. Shirley chegou a ser socorrida pela equipe do próprio hospital e encaminhada ao centro cirúrgico, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. No momento do crime, a filha do casal se pesava na balança corporal e estava acompanhada do pediatra. Os dois presenciaram o ocorrido. “O médico está em estado de choque e, em breve, colheremos o depoimento dele. Mas, agora, ele não está em condições”, explicou a delegada.
O Hospital São Francisco se posicionou por meio de nota oficial e esclareceu que, “após ser atingida, Shirley foi conduzida até o centro cirúrgico da unidade, onde recebeu todos os cuidados, porém, não resistiu e evoluiu para óbito. Em razão do ocorrido, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) foi acionada e, junto à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), iniciou processo de investigação dos fatos. A criança foi prontamente atendida pelo Departamento de Psicologia do hospital”, diz o documento.
Após matar a ex-mulher, Rafael se dirigiu até a casa onde mora com os pais, em Samambaia. No local, ele se matou com um disparo de arma de fogo. Agentes encontraram a arma debaixo do corpo do suspeito e encaminharam o armamento para a perícia, bem como a faca utilizada no feminicídio. Agora, a polícia colherá depoimentos de outras testemunhas e analisará as câmeras de segurança do local para traçar a motivação do assassinato.
Relacionamento
Shirley chegou a trabalhar no Hospital São Francisco como recepcionista entre 2013 e 2017. Atualmente, ela atuava como segurança de uma outra unidade de saúde, na Asa Norte. Além da criança, a mulher é mãe de um adolescente, de 17 anos, fruto de outro relacionamento.
O casal assumiu o namoro em 23 de fevereiro de 2014 e teve uma menina. Eles terminaram a relação havia três meses, mas Rafael não aceitava a situação, como descreve Robson Eurípides, 52, um dos cinco irmãos da vítima. “Ele não a deixava em paz e sempre pedia para voltar. Minha irmã sempre reclamou do fato de ele sair demais para as festas e dormir fora de casa”, disse.
Segundo Robson, a irmã não chegou a relatar ter sofrido algum tipo de violência por parte do suspeito. Na delegacia, também não consta registro de ocorrência ou alguma medida protetiva contra ele. Separados, a mulher passou a morar em uma casa, em Taguatinga, e Rafael, na casa dos pais, em Samambaia. “Eu estava em Águas Lindas (GO), quando soube dessa fatalidade. Vim correndo para cá e me deparo com isso. Me mandava áudio direto perguntando se eu estava bem. Era meu apoio, me dava forças”, ressaltou o motorista.
O irmão chegou a questionar a falta de segurança no hospital. “Como que deixam entrar uma pessoa armada aqui dentro?”, disse. A unidade de saúde informou que há revista pessoal em outras entradas do local, exceto no ambulatório.
O filho mais velho de Shirley prestou depoimento à polícia. De acordo com o adolescente, esse era o segundo rompimento entre a mãe e o padrasto. Uma das amigas da segurança, que preferiu não ter a identidade revelada, lamentou o ocorrido. “Ficarei com a lembrança do sorriso dela. Era uma pessoa que estava sempre alegre, otimista, apaixonada pelos filhos e trabalhadora. Tudo isso é muito triste, que ela descanse em paz”, finalizou a colega.