Os termômetros registraram, na sexta-feira (11/9), o dia mais quente de 2020 no Distrito Federal. O índice de umidade relativa do ar caiu para 10%, colocando a capital da República em estado de alerta. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a temperatura máxima chegou a 33,1°C, especificamente, na Ponte Alta do Gama e, em Brasília (Área Central), a 31,3°C. Nesse período de seca, especialistas alertam sobre os cuidados que devem ser tomados para evitar desidratação.
A capital também passa por um longo período de estiagem — são 110 dias consecutivos sem chuva nas regiões administrativas. No caso do Plano Piloto, a quantidade de dias sem precipitações chega a 116. O último registro de chuva, de acordo com o Inmet, foi em 25 de maio, em Águas Emendadas e, em 17 de maio, na Área Central. “Até 19 de setembro, pelo menos, não temos previsão de chuva e as temperaturas altas serão mantidas”, alertou Andrea Ramos, meteorologista do Inmet.
Em 2017, o DF bateu o recorde de dias consecutivos sem chuva (131) (veja quadro). A meteorologista, no entanto, não descarta a possibilidade de ultrapassarmos esse número este ano. “Estamos em um período de inverno e essa estação tem algumas características. A parte central do país, por exemplo, fica com essa massa de ar seco, que começa em meados de maio e permanece até setembro, além da umidade baixa. As chuvas ficam concentradas na região Norte do país e, aqui, no Centro-Oeste, diminui as precipitações e as temperaturas tendem a ficar elevadas”, detalhou.
A Subsecretaria do Sistema de Defesa Civil chegou a emitir um alerta, ontem, informando sobre a umidade do ar (10%) e orientando sobre a importância de ingerir bastante água e evitar exposição ao sol. “Estamos no período de estiagem e as temperaturas elevadas aumentam ainda mais o desconforto. A umidade está bem abaixo do que é preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 60%, por isso, reiteramos a importância da população dar atenção às medidas que minimizem os impactos à saúde, como se manter hidratado e não descuidar de crianças e idosos, que são mais frágeis”, ressaltou o subsecretário da Defesa Civil, coronel Alan Araújo.
Para este fim de semana, a temperatura máxima deve ficar entre 31°C e 32°C e a mínima, em torno de 15°C. Segundo Andrea Ramos, um alívio para hoje e domingo é que a umidade relativa do ar deve aumentar um pouco, ficando entre 20% e 70%. “Mesmo assim, é preciso redobrar os cuidados com a hidratação, pois, até 20% continuamos em estado de alerta”, orientou.
A pele sente
Mesmo com o dia seco e quente, os brasilienses não deixaram de fazer as atividades físicas. A reportagem do Correio esteve no Parque da Cidade, ontem, e presenciou várias pessoas praticando exercícios físicos no período da tarde.
A bancária Cida Farias, 54 anos, chegou ao parque por volta das 15h30 para caminhar. Para ela, o sol não é um problema. “Eu amo muito o calor. E parece que me dá mais ânimo, é meu combustível. Mas, claro, que é preciso tomar todos os cuidados para evitar a desidratação. Sempre depois de fazer a caminhada, eu me sento um pouco debaixo de uma árvore para refrescar”, diz.
Ela confessa que tem sido difícil fazer esporte utilizando a máscara de proteção facial — recomendação para evitar o contágio pelo novo coronavírus. “Abafa bastante, mas sabemos que é necessário. Fiquei admirada ao ver tantos atletas usando, corretamente, a máscara. Nos dá uma sensação maior de segurança.”
Os estudantes Gabriel Lobato, 21, e Letícia Campos, 20, marcaram uma corrida no parque, mas, devido ao horário, às 14h, desistiram. “Está muito quente, mas o pior é a secura. Parece que não tem ar, então fica difícil se movimentar demais”, conta Letícia.
As amigas Ana Clara Bittes, 32, e Giselle Monte, 38, tinham a intenção de caminhar por mais tempo no parque, mas foram impedidas pelo Sol. “Quando começamos a andar, deu uma desanimada e sonolência. Sempre escolhemos um lugar com mais sombra para andar”, destaca a administradora Ana.
Por outro lado, há aqueles que não podem fugir das atividades, inclusive nos horários que não são recomendados pelos profissionais de saúde. É o caso dos atletas de futevôlei Vitor Hugo Ribeiro, 22, e Daniel Willian de Matos, 22. A dupla e outros jovens estão treinando para competições e precisam praticar o esporte três vezes na semana, nas segundas, quartas e sextas-feiras, das 15h às 18h. “Está sendo mais difícil treinar nesse calor. Mas, trazemos água e passamos protetor solar. Além disso, usamos óculos escuro, pois nos ajuda na proteção do Sol”, disse Vitor.
A empresária Caroline Rodrigues, 37, também integra o grupo dos que praticam esporte no Parque da Cidade. Ela treina, todos os dias, box e faz aulas de funcional. “Sempre opto pelo período da noite, justamente por ser mais refrescante, pois, ultimamente, o calor está demais e se exercitar à tarde não é a melhor opção.”
Cuidados
Na avaliação de Ricardo Martins, pneumologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB), a principal recomendação para esse período seco é a ingestão de água — pelo menos, um copo a cada hora. Segundo ele, essa é a quantidade necessária para evitar a desidratação. “Quando falamos em seca, sabemos que a água no ambiente está pouca e, por isso, precisamos restituir isso de outra forma, que, no caso, é a ingestão. Uma outra recomendação é umidificar o ambiente, usando toalhas molhadas ou bacias de água”, orienta.
A alimentação é outro fator que deve ser levado em consideração nesse período. “É importante ingerir alimentos saudáveis, como frutas e legumes. Evitar o excesso de sal e procurar fazer atividades físicas em horários em que o Sol esteja mais intenso, entre as 9h e 17h, por exemplo”, destaca o médico.
Idosos e crianças são o público mais atingido com os problemas se saúde causados pelo calor e baixa umidade e, por isso, devem ter a atenção redobrada, de acordo com Ricardo Martins. “É preciso sempre estar atento com esse público, pois se desidratam com facilidade. É muito comum recebermos no hospital idosos desidratados, que se queixam de cansaço e sonolência”, frisou.
Infectologista do Hospital de Águas Claras, Ana Helena Germoglio alerta para o aumento de proliferação de bactérias e fungos devido às altas temperaturas. “O calor excessivo facilita o aparecimento de infecções dermatológicas, como dermatites, micoses e brotoejas. Além disso, um dos efeitos indesejados da exposição excessiva ao sol é a recidiva de lesões de herpes simples. No verão, é comum o aumento da procura por banhos de piscina, mar, rios, entretanto, esses ambientes oferecem as condições necessárias para a conjuntivite”, destaca.
Outro quadro pouco conhecido, mas muito frequente em épocas quentes do ano, segundo ela, é o estresse térmico. Irritação, cansaço durante o dia, dores de cabeça, tontura são alguns dos sintomas. Para evitar algumas dessas infecções, a médica recomenda o uso de roupas leves e atenção especial à higiene corporal.
Períodos sem chuva na capital
2014: 65 dias consecutivos sem chuva
2015: 60 dias consecutivos sem chuva
2016: 97 dias consecutivos sem chuva
2017: 131 dias consecutivos sem chuva
2018: 79 dias consecutivos sem chuva
2019: 113 dias consecutivos sem chuva
2020: 110 dias consecutivos sem chuva (entre janeiro e sexta-feira)