Ceilândia é nome forte e motivo de orgulho para moradores, que carregam a história de resistência da Campanha de Erradicação de Invasões (CEI) e a movimentação pulsante da cidade mais populosa do Distrito Federal. Mas, para uma moradora do Rio Grande do Norte, esse nome já deu muita dor de cabeça. “Já sofri muito bullying”, conta Ceilândia Katharina de Oliveira, 24 anos.
A jovem potiguar carrega na identidade o sonho do pai de ter uma filha que pudesse homenagear a cidade que lhe rendeu lembranças inesquecíveis. “Meu pai foi morar com a família dele em Brasília quando era adolescente, como vários nordestinos que buscavam um trabalho. Ele ficou em Ceilândia e disse que foi a melhor época da vida, porque ia para os shows da Legião Urbana, era muito descolado, tinha muitos amigos. Ele amava essa fase que passou lá”, recorda Ceilândia Katharina.
O então adolescente voltou para o Rio Grande do Norte anos depois com uma mala cheia de lembranças e a decisão de ter uma filha com o nome da Região Administrativa. Foi no Nordeste que ele conheceu uma garota, se apaixonou e deixou claro o desejo. “Quando ele conheceu minha mãe, já disse para ela que um dia os dois iam casar e ter uma filha chamada Ceilândia”, diz a jovem.
Os planos dele deram certo e ela engravidou, mas o homem precisava contar com o destino para o sonho de uma filha mulher que carregasse o nome escolhido. “Meu pai não quis nem saber o sexo do bebê, ansioso por uma menina, como estava certo que ia ser. No dia em que nasci, ele estava no bar comemorando horrores a certeza que a Ceilândia dele estava vindo”.
Das piadas ao orgulho
Como nasceu e cresceu em Natal, a mais de 2 mil quilômetros de distância de Brasília, Ceilândia tinha dificuldades para explicar o nome. “Eu odiava, sofria demais na escola, sofri muito bullying. Por muito tempo da minha vida eu tinha certeza que ia mudar de nome quando fosse adulta”, recorda. Mesmo assim, ela ainda tinha vontade de conhecer a cidade xará, oportunidade que teve em 2017, mas a experiência não atendeu à expectavia.
“Minha família paterna me apresentou Ceilândia, mas eles não moravam mais lá e não me mostraram quase nada. Fiquei um pouco decepcionada, porque queria ter conhecido mais, mas não tive alguém para me mostrar o dia a dia, a cultura de lá. E saí de Brasília traumatizada, porque as pessoas se espantavam muito em qualquer lugar que eu falava meu nome. Faziam piada na minha cara”, explica.
As coisas mudaram um pouco este ano. Internautas do DF descobriram a conta da jovem no Instagram e encheram a página de mensagens. A maioria delas era de pessoas orgulhosas por encontrar alguém com o nome da cidade que amam.
“Fiquei famosa na internet, muita gente me procurou, foi um viral. Meu celular ficou congestionado, ganhei vários seguidores de um dia para o outro. Gente que eu não conheço me mandando mensagens maravilhosas. Bem diferente do que já passei antes. Hoje, eu não trocaria meu nome”, afirma.
A jovem conversou com moradores do DF que contaram um pouco sobre a riqueza de Ceilândia, mostraram o orgulho da cidade com fotos de tatuagens e camisas com o nome da região e reacenderam nela a vontade de visitar de novo a capital. “Agora, quero um dia poder voltar para conhecer a cultura do lugar, os pontos, tudo”, deseja.
Mas ela brinca: “Se eu morasse em Brasília, acho que mudaria de nome, sim, porque quando estava aí teve motorista de aplicativo achando que o celular estava com problema, dizendo que não aparecia meu nome, só o destino”.