As cidades turísticas de Goiás, vizinhas a Brasília, ficaram lotadas durante o feriado prolongado de Independência. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) apontou intensa movimentação em todas as saída do Distrito Federal na manhã de sábado e domingo.
Estradas que dão acesso às cachoeiras na Chapada dos Veadeiros, e atrativos turísticos no município de Pirenópolis (GO) ficaram cheios, tumultuados e provocaram reclamação de moradores locais. As prefeituras intensificaram a fiscalização e as barreiras sanitárias, mas o desrespeito de muitos visitantes foi nítido em muitas situações. O turismo consciente passou longe e nas redes sociais criou-se o termo “EGOturismo” para definir o comportamento dos visitantes.
No quilombo Kalunga, que fica no município de Cavalcante (GO), mesmo com as porteiras fechadas e as faixas informativas sobre a suspensão das atividades, visitantes se tornaram invasores ao descumprir as ordens do dono do espaço e entrar sem autorização.
O território de 262 mil hectares foi fechado antes de um decreto municipal, conforme conta a moradora da comunidade Dalila Reis Martins, conhecida como Dalila Kalunga. O local é muito visitado por gente do mundo inteiro, pois nele está uma das mais famosas cachoeiras da América Latina, a Santa Bárbara. Todo trabalho com os visitantes é feito pela comunidade, que conta com cerca de 3.650 pessoas.
A guia Dalila Kalunga disse ao Correio que mesmo com a divulgação sobre o fechamento, visitantes insistem em ir até o local, mas, em geral, desistem ao serem abordados. No domingo, duas pessoas apareceram no quilombo e disseram procurar alguém da comunidade, mas desviaram o caminho e foram para a cachoeira Capivara. A polícia foi chamada, mas os moradores encontraram os visitantes antes. Os pneus do carro onde eles estavam foram furados e houve bate boca entre os moradores do local e os turistas.
Os homens assinaram um termo circunstanciado e devem ser ouvidos pela Justiça na quinta-feira. Eles podem ser presos por um mês a um ano, por infringir a legislação sanitária. “Nós precisamos dos visitantes e pesquisadores para manter nossa história. Esperamos que esta pandemia cesse. Até lá, pedimos que respeitem a nossa quarentena. Não temos nada contra visitação, mas, no momento, estamos em isolamento”, declarou Dalila.
Reclamações
Moradora de Cavalcante, Helen Cristina Pontes Martins abandonou o cargo público que tinha na prefeitura para ser guia turística. Passou a ser conhecida como Cristina Sangalo, depois de levar a cantora Ivete para conhecer as belezas do cerrado. Sem guiar desde março, ela reforça que os visitantes não são bem-vindos agora. “Na minha opinião, não é o momento para a reabertura dos atrativos, e muito menos dos meios de hospedagem. Aqui, em Cavalcante, não temos estrutura hospitalar para atender à população em casos graves da covid-19. Sem contar que temos o maior quilombo do Brasil, que é vulnerável e sem estrutura, composto em maioria por idosos e crianças.”
Na cidade de Alto Paraíso, a situação também gerou reclamações de moradores e, até mesmo, de quem trabalha no turismo. Garrafas e latas ficaram espalhadas pela praça central da cidade na manhã de segunda-feira. Muito se viu pessoas sem máscaras e desrespeito ao distanciamento mínimo necessário.
Marilia Alves, dona de uma pousada em Alto Paraíso, conta que o estabelecimento está operando com capacidade máxima de 65% — recebeu 14 hóspedes no feriado e, até o mês de outubro, todos os fins de semana estão reservados. Ela criticou o comportamento de quem foi e só deixou lixo, e destacou que o estilo de vida da região dissocia do comportamento adotado pelos visitantes. “Quem escolhe morar na Chapada, vem por estilo de vida, com propósito, e não por ganância. Mas o turismo é o nosso meio de subsistência, também. Um equilíbrio é necessário.”
A prefeitura de Alto Paraíso de Goiás informou, em nota, que novas medidas estão sendo estudadas e serão colocadas em prática nos próximos finais de semana.