Especial é a palavra que a dentista Claudia Baiseredo, 45 anos, usa para descrever como é tratar pacientes de covid-19 nas unidades de terapia intensiva (UTI). Ela atua como cirurgiã-dentista hospitalar há 25 anos. Para Claudia, o trabalho dos profissionais de saúde na linha de frente de combate ao novo coronavírus é parecido com o de quem vai para guerra. “No primeiro momento foi aquele frisson, mas a gente começa a ver que, quando esses pacientes têm um cuidado diário da odontologia, eles têm uma melhora muito grande. É muito engrandecedor você ver que está fazendo a diferença na vida de alguém”, afirma.
A cirurgiã-dentista mora com a mãe, idosa e com outras comorbidades, o marido e os dois filhos. Como trabalha diretamente com pacientes infectados pela doença, ela preocupa-se ainda mais com as medidas de proteção. Ao chegar em casa, tira logo os sapatos; as roupas que ela usa no hospital são imediatamente lavadas, sem entrar em contato com as de mais ninguém; em seguida, ela vai direto para o banho.
Proteção
Os cuidados também foram redobrados nos consultórios odontológicos. Os protocolos de segurança já eram de alto padrão, mesmo antes da pandemia: pacientes recebem proteção para pés, os dentistas utilizam luvas, máscaras, touca e óculos de proteção, assim como os técnicos e outros profissionais.
Novos protocolos de segurança, no entanto, acrescentaram o face-shield, o uso do capote, aferição de temperatura dos pacientes e tapete sanitizador na entrada do consultório. Além disso, os atendimentos de clientes devem ter espaçamento de uma hora, para que o ambiente possa ser sanitizado e evitar aglomerações — acompanhantes também são desencorajados pelo mesmo motivo. No entanto, o reforço na biossegurança aumentou os custos que estes profissionais estão tendo em suas clínicas odontológicas.
É o caso do dentista Dodwell Guedes de Freitas, 51. Ele relata que o movimento caiu muito desde o início da crise sanitária. Segundo Dodwell, os pacientes estão retornando ao consultório aos poucos, mas a procura é lenta. Ele atende em dois consultórios, um em Taguatinga e outro no Guará. No segundo, ele precisou reduzir o número de empregados, devido à baixa nos atendimentos e na receita.
“Ficou mais oneroso pelo fato de você ter que descartar todo o material. E a gente não pode aumentar o custo do tratamento para acrescentar o que estamos gastando, então está saindo do nosso bolso. Eu tento orientar meus pacientes com relação a essa pandemia, tentar passar para eles uma segurança. Proteger-se precisa ser uma rotina normal pra todo mundo”, avalia Freitas.
Riscos
O dentista César Augusto de Oliveira Vaz, 48, avalia a situação da mesma maneira. Para ele, manter o consultório aberto está sendo o maior desafio desta pandemia, devido à diminuição nos atendimentos e, consequentemente, diminuição da receita. Ele é casado com uma cirurgiã-dentista e ambos mantêm um rígido protocolo de segurança nos atendimentos.
“Receio a gente tem, mas temos que ir à luta. Tomamos todos os cuidados, graças a Deus, não fui infectado. O risco maior nesses atendimentos não é tanto para o paciente, é mais para o profissional que está atendendo. Infecção cruzada, de paciente para outro, no consultório, é difícil acontecer”, explica.