Um advogado relata ter sido vítima de tortura por policiais militares do estado de Goiás, em Luziânia (GO). Segundo o jovem de 24 anos, que não quis se identificar, a PM o abordou com violência e cometeu uma série de abusos de autoridade, que foram desde xingamentos até agressões físicas.
O caso aconteceu na noite do último domingo (27/9), quando ele estava com dois amigos na avenida Alfredo Nasser. “Eu tinha acabado de lanchar e ia comprar um energético, quando vieram três viaturas na contramão e eu falei ‘vocês quase me atropelam’. As três pararam e um policial já desceu me dando tapa e jogando spray de pimenta na minha cara, na minha boca”, relatou.
Os dois amigos se aproximaram e tentaram defender o advogado, mas a PM teria algemado e colocado o jovem na viatura. “Me deram chute, murros e me colocaram lá. Pensei que tudo ia se resolver, que iam me levar ao delegado e eu poderia esclarecer tudo, mas pararam no batalhão militar”.
No local, o advogado diz ter sido vítima de mais agressões e ofensas, com teor político e racial. “Começaram a me chamar de viadinho, petista. Eu disse que era petista mesmo e me bateram ainda mais. Pensei que ia morrer ali, gritei pedindo para me levar à delegacia. Mas me jogaram no chão, derramaram água em mim”, diz.
Ainda segundo o relato, os militares voltaram a colocá-lo na viatura e foram a caminho da delegacia, mas não entraram. “Ficamos lá na frente e eles continuaram as agressões. Gritavam: ‘Você vai continuar votando em quem?’. Me deram choque, chute, tapa no rosto e perguntavam de novo em quem eu ia votar. Falavam que eu ia virar homem e votar no Bolsonaro”.
Boletim
O advogado ressalta que os policiais não quiseram dar procedimento à ocorrência, registrando boletim de ocorrência contra ele. Na delegacia, o jovem encontrou os amigos e se disse traumatizado, querendo ir para a casa. Mas, no outro dia, ele voltou à DP para formalizar a denúncia de tortura e fez exames no Instituto de Medicina Legal (IML) para provar as agressões.
O Correio teve acesso ao boletim de ocorrência registrado contra os militares e ao laudo do IML. O exame médico confirma escoriações no punho, nos joelhos e edemas.
“Foi desolador. Já pensei em parar de advogar, ir embora daqui. Vem muita tristeza. Quem faz isso é bandido, ninguém tem o direito de fazer o que fizeram comigo com qualquer cidadão”, afirma. O advogado do jovem, Edimar Vieira, conta que o caso tem inúmeras implicações jurídicas.
“São várias imputações criminais. Homofobia, racismo, intolerância política, abuso de autoridade, tortura. Tem que ser feito uma apuração minuciosa por parte da polícia. Vamos ajuizar danos morais e materiais posteriormente. O Estado tem que se responsabilizar por isso”, conclui.
O Correio procurou a PM de Goiás para dar espaço à visão da corporação sobre o caso, mas não obteve retorno até a última atualização desta matéria.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.