Pandemia

Covid-19: DF é região com mais óbitos, proporcionalmente, no país

Taxa de óbitos em decorrência da covid-19 mostra DF na ponta da lista trágica nacional, com 103,8 mortes a cada 100 mil habitantes

Alan Rios
postado em 23/09/2020 11:42 / atualizado em 24/09/2020 09:10
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A. Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A. Press)

O Distrito Federal passou a liderar o ranking trágico do maior número de mortes em decorrência da covid-19 proporcionalmente à população. A cada 100 mil habitantes, são 103,8 mortes na capital, número acima dos dados do Rio de Janeiro, que tem 103,1 mortes por 100 mil pessoas.

Os números foram atualizados com os mais recentes boletins do Ministério da Saúde e levam em conta a população estimada em julho de 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Sala de Situação da Secretaria de Saúde do Distrito Federal mostra que 3.131 pessoas perderam a vida por complicações do novo coronavírus no DF até a noite de ontem.

Do total de óbitos, 59% são de homens e 73,2% são de pessoas com comorbidades cardíacas. Há também 3,9% de mortes de profissionais da saúde. Sobradinho I é a região administrativa com mais óbitos proporcionais e Ceilândia, o local com mais mortes totais.

Outra estatística preocupante é a incidência de casos. A capital é a segunda no país com mais contaminações proporcionais, com 6.147 infecções a cada 100 mil habitantes, atrás apenas de Roraima, com 8.013.

A Secretaria de Saúde comentou os números em nota oficial. "A taxa de mortalidade é um indicador calculado com o número de óbitos em residentes, dividido pela população da região. Considerando esse critério epidemiológico, até ontem (22/9), a taxa de mortalidade no DF é de 92,4 óbitos por 100 mil habitantes. Historicamente o DF recebe pacientes de outras UF, principalmente do entorno, o que pode ser observado no número absoluto de óbitos ocorridos e óbitos em residentes".

A pasta também defendeu que "a estratégia da Diretoria de Vigilância Epidemiológica do DF para captar óbitos tem sido bastante eficiente, garantindo que quase a totalidade dos óbitos suspeitos e confirmados sejam avaliados pela equipe de vigilância".

Especialista

Duas perguntas para Walter Ramalho, professor de epidemiologia da UnB
1. Quando comparado ao cenário nacional, qual é a situação do DF no combate à pandemia?

Temos um trabalho que agregamos dados últimos 7 dias. Na última semana de dados, tivemos 218,9 casos para cada 100 mil habitantes no DF, no agregado. Em primeiro lugar está Roraima, com 279,6 por cada 100 mil, seguido de Goiás com 248,7, Mato Grosso com 227,2 e Tocantins com 225,6. O DF tem ocupado a 5ª colocação na taxa de casos confirmados e isso tem se persistido nas últimas semanas. Esses números diminuíram em relação à semana anterior, quando a gente tinha 232,4 casos por 100 mil pessoas, do dia 9 ao dia 15 de setembro, uma queda em torno de 10%. Isso é bom, não tenho dúvida. Há desaceleração, mas ainda é muito gradual. Esperamos que ela fosse sustentável, o que só acontecerá com maior distanciamento. Agora, se o DF tem ocupado o “top 5” do Brasil, com as cinco maiores taxas dos estados, estamos observando um risco elevado. O número de casos que tivemos aqui na última semana foi semelhante ao dado de contaminações de países que estão apavorados. A Inglaterra voltou a definir restrições, a Espanha também. Tudo isso faz parte de uma flexibilização maior da vida social. Eu mesmo adoro a vida social, aglomerar, ir para bar, mas precisamos nos manter distantes até que tenhamos solução mais definitiva.


2. E quanto às taxas de óbitos, qual a situação do DF?

O DF nesta última semana apresentou taxa de óbito bem elevada. É bom citar que analisar dados da saúde é mais complicado do que da economia, por exemplo, porque temos vários indicadores, não só um grande como o PIB. A taxa de incidência mostra a velocidade de crescimento da doença na população sadia, o que é muito importante para ver a evolução do vírus. A taxa de mortalidade mostra se ele leva muito ao óbito. A letalidade quer dizer que o sistema de saúde capta bem o número de pessoas que vem a adoecer, mas não consegue conter o avanço da doença para solucionar o óbito. Tínhamos no começo do ano uma detecção razoavelmente grande, muitas pessoas com covid-19 grave, que eram internadas. Também foi um período em que quem iria para UTI tinha taxa de mortalidade acima de 50%. Depois, controlamos melhor a mortalidade. Quem vai para UTI hoje tem menor mortalidade, mesmo com sequelas. Todos os indicadores servem para uma determinada reflexão. A taxa de mortalidade está maior do que a incidência, talvez porque o GDF demore mais a liberar a notícia do falecimento do covid, já que passamos por uma rigorosa avaliação do óbito. Tivemos o número de 161 óbitos notificados nessa última semana, mas não quer dizer que todos tenham morrido nesse período. Isso faz com que em algum momento tenha essa explosão de notificação. Mas não quer dizer que a gente não precise se preocupar. Pelo contrário, pois a taxa de mortalidade ainda está muito elevada comparada a outros países. Não podemos baixar a guarda, a doença não passou, continua aqui.

 

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação