Em meio à seca, uma aquarela colore avenidas, espaços públicos e quadras da capital. Há uma energia boa se aproximando nos próximos dias: a primavera! Com início em 22 de setembro, a estação deixa o inverno para trás e faz a preparação para o verão. Segundo o professor em ecologia da Universidade de Brasília (UnB) Eduardo Bessa, isso significa que as condições de entrada de energia solar começam a se recuperar depois do inverno. “Ou seja, é quando as plantas aproveitam para retomar as folhas e para florir, enquanto os animais se alimentam mais e procuram parceiros para acasalar”, diz.
De acordo com o professor, muitas plantas rebrotam nessa fase. “Acontece que o inverno é muito seco aqui no cerrado. Uma forma de as plantas evitarem perder a pouca água, que existe disponível, é se livrando do órgão vegetal que mais perde água, as folhas”, explica Eduardo. “À medida que a seca vai terminando, as plantas mobilizam as reservas que têm para produzir novas folhas. A que mais me chama a atenção é a sapucaia, uma árvore que tem bastante no Eixão Norte, que nessa época do ano fica rosa vibrante por conta das folhinhas novas”, completa.
A estação das cores vai além dos ipês floridos, que se destacam pela sua beleza e cores vibrantes. De acordo com o Departamento de Parques e Jardins da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), outras espécies florescem no período. São elas: cagaita, cássia rosa, tarumã, fisocalima, sapucaia, sucupira, pequizeiro, jacarandá da Bahia e quaresmeiras.
A pluralidade da flora urbana é motivo de encantamento para os moradores de Brasília. É o caso da professora Andressa Caroline Paiva, 39 anos, que aguarda pela chegada da estação favorita. “É a que mais gosto. É o período de encantamento que nos envolve em todos os aspectos, ao ver a beleza da natureza e sentir o perfume das flores”, ressalta.
A mudança que chega com a estação pode ser percebida nas pessoas, conforme afirma Andressa. “O astral das pessoas muda. A natureza nessa época torna-se mais linda. Aqui em Brasília, uma característica marcante é o florescimento dos ipês. Observou que as pessoas param nas ruas simplesmente para apreciar tamanha beleza? Em que época do ano podemos observar atitudes assim? As pessoas ficam mais leves, felizes e animadas”, acredita.
A beleza desta época do ano é uma oportunidade de tirar fotos marcantes, oportunidade que a professora não deixa passar em branco: “É a oportunidade de garantir fotos de uma beleza imensurável. O colorido deixa qualquer foto mais linda. A primavera exala beleza e podemos ver isso nas fotos, que ficam delicadas e nos deixam mais belos, também. Sem contar com a oportunidade de estar em contato direto com a natureza”, relata. “Aqui em casa nós somos as loucas das fotos. Aproveitamos essa temporada para garantir cliques lindos e especiais”, acrescenta. Entre os locais favoritos de Andressa, estão o Parque da Cidade e a Península dos Ministros.
Para a professora, a chegada da primavera marca dias de esperança, uma vez que sugere a oportunidade de recomeço. “Tem uma frase do Paulo Coelho sobre a primavera que gosto muito. Diz assim: ‘Não se pode dizer para a primavera ‘tomara que chegue logo e dure bastante’. Pode-se apenas dizer: ‘Venha, me abençoe com sua esperança, e fique o máximo de tempo que puder’. Linda, né? Com a primavera, chegam novos tempos. Precisamos nos agarrar a isso”, destaca.
A cientista social Alexandra Carias, 39, celebra o momento que está por vir. “A primavera é importante porque representa o início de um novo ciclo, de nascimento e renascimento. Gosto do clima ameno, de ver as plantas florescerem e da beleza da estação”, diz. “Ter a natureza tão próxima a mim me dá uma sensação enorme de tranquilidade. É um carinho para os meus olhos e para minha alma”, ressalta.
Para Alexandra, a chegada do período muda o astral das pessoas, e a sensação de bem-estar faz-se presente. “Os ambientes e a cidade ficam mais bonitos. E isso gera um encantamento”, acredita. Ela vivencia esse sentimento diariamente ao olhar os pés de ipê-roxo próximo ao prédio onde mora. “É um privilégio e uma satisfação enorme. Eu vim do Rio de Janeiro, e no meu primeiro contato com Brasília senti muita falta de beleza natural. Para mim, acordar e dar de cara com as árvores floridas, o gramado e algumas aves que aparecem é um alento. Sou grata”, completa.
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Agricultura comemora "recomeço"
A chegada da estação também prevê mudanças no setor agrícola. Segundo a engenheira agrônoma e extensionista rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater-DF) Gesinilde Radel Santos, a estação é um período de recomeço. “Os ciclos produtivos de plantios irrigados recomeçam. É o período em que se começa a preparar o solo de grandes áreas”, explica.
De acordo com a engenheira agrônoma, é comum nesse período cultivar soja, milho e feijão. No caso das pequenas áreas irrigadas, encontra-se de tudo um pouco, conforme explica Gesinilde. “Os pequenos agricultores também fazem plantios do que consumirão durante o ano, como milho, batata-doce, abóbora. Dessa forma abastecem seus estoques”, explica.
Para a produção, Gesinilde adverte quanto à importância com o cuidado do solo: “No período mais frio, que antecede a primavera, o solo também fica frio e as plantas demoram mais a responder. Então, nesse período em que o clima, a umidade e a temperatura do solo melhoram, é quando as plantas respondem mais aos tratamentos”, explica. “O cuidado, a adubação e a correção do solo vão fazer com que as plantas respondam uma vez que o clima estará favorável para elas. Com certeza isso trará respostas bem significativas às culturas”, completa.
Mudanças climáticas
A meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Maiane Araújo explica que o momento em que estamos vivendo é a fase de ajuste da estação. Segundo ela, durante o inverno, a área central do Brasil é caracterizada pela massa de ar seco, que se predomina. Sendo assim, as principais características do dia são baixas umidades de ar com temperaturas elevadas. No caso da primavera, o quadro muda: “Passamos pela fase de transição, em que vamos sair do inverno e começar a migrar em direção ao verão. O começo da estação ainda é meio confuso, está se ajustando. Então, ainda podemos ter dias com tardes secas, mas a tendência é de que as chuvas comecem no final de setembro”, afirma.
De acordo com Maiane, o motivo da mudança é a alteração do padrão da circulação de vento. “Essa massa de ar seco começa a perder força e a umidade relativa da região Amazônica começa a migrar para o interior do Brasil. O dia começa a esquentar e a combinação do calor com a alta umidade favorece para a chegada das chuvas”, explica. “É todo um padrão da circulação atmosférica que muda, fazendo com que a massa de ar seco perca a força”, completa.
Segundo a meteorologista, a previsão para os próximos três meses para o Centro-Oeste é regularidade das chuvas. “No caso do Goiás, a previsão é de que as chuvas fiquem ligeiramente abaixo da normalidade. No DF isso não muda”, diz Maiane. A estimativa, segundo a especialista, é de que as temperaturas da capital do Brasil permaneçam dentro da normalidade a ligeiramente acima. “Significa que o dia continua quente, mas sem grandes mudanças”, acredita.
Você sabia?
Inclinação
Se a Terra não se inclinasse em seu eixo, não existiriam as estações. Cada dia teria 12 horas de luz e 12 horas de escuridão. E como o eixo do planeta Terra forma um ângulo com seu plano orbital, existe o verão e o inverno, dias longos e dias curtos. Durante o verão, os dias amanhecem mais cedo e as noites chegam mais tarde. Ao longo dos três meses desta estação, o Sol volta-se lentamente para a direção norte e os raios solares diminuem sua inclinação. No início do outono, os dias e as noites têm a mesma duração: 12 horas. Isso é porque a posição do Sol está exatamente na linha do Equador.
Doenças sazonais
Com o fim do inverno e a chegada da primavera, começa a temporada das doenças relacionadas à estação. O alergista do Hospital Brasília Alexandre Ayres explica que durante a primavera surgem muitas flores e, consequentemente, muitos insetos. Entre eles, há os picadores, como abelhas, vespas e marimbondos, e os sugadores, como mosquitos e pulgas. Além disso, há, também, o surgimento das chuvas intermitentes, típicas da estação. De acordo com Alexandre, o acúmulo de insetos em comunhão com as chuvas pode levar a doenças como dengue, chikungunya e zika.
Outra doença comum são as dermatites de contato, conhecidas como fitofotodermatite, dermatose que ocorre por uma combinação de contato com planta fotossensibilizante e exposição à radiação solar. “Nessa época, as pessoas possuem o hábito de se interessar um pouco mais pela cultura de plantas que, associada ao sol, pode provocar inflamações na pele”, explica o alergista. O especialista também adverte quanto ao uso de defensivos químicos nas plantas. “As pessoas, às vezes, manipulam esses defensivos ao cultivar flores e plantas e, consequentemente, têm irritações na pele”, alerta. Nesses casos, Alexandre aconselha o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) ao cuidar das plantas.
Nesta época, o pólen de flores e gramíneas carregadas pelo vento podem funcionar como um alérgeno. Mas, no caso do DF, o alergista explica que os pólens do cerrado são mais pesados, ou seja, não ficam muito tempo no ar. Sendo assim, é menos comum encontrar esse tipo de reação na capital federal. Alergia respiratória ao pólen das flores é um pouco mais difícil. O que encontramos de forma mais significativa é a alergia ao pólen das gramíneas. O resto não tem relevância clínica, ou seja, não aparece muito no nosso dia a dia”, explica Alexandre. “A região polínica é muito comum no sul do país. Em Brasília, a incidência é muito baixa, confirma.
* Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira