Umidade baixa e temperaturas altas combinam com os clubes do Distrito Federal. Embora os espaços estejam abertos, o uso das piscinas está restrito às práticas de atividades desportivas. A liberação ocorreu em 3 de setembro, após divulgação do decreto nº 41.170 do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF). A medida atende uma reivindicação da comunidade de esportes aquáticos da capital federal, que estava sem praticar as atividades desde março, quando o executivo local decidiu implementar medidas de segurança sanitária no combate à disseminação do novo coronavírus.
O uso das piscinas, no entanto, precisa respeitar uma série de protocolos. De acordo com o documento, assinado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), elas devem estar em ambiente aberto, os atletas têm de respeitar o distanciamento de 2,5 metros ao ocupar raias e bordas de forma intercalada. Nos clubes, no máximo duas pessoas podem fazer uso por vez de banheiros e vestiários, que precisam passar por higienização, pelo menos, duas vezes ao dia, interrompendo as atividades, no mínimo, por 30 minutos para a lavagem geral. Os esportistas têm a opção de serem acompanhados por treinadores, mas continua proibido o compartilhamento de equipamentos. Alguns clubes, inclusive, orientam os nadadores a levarem os próprios materiais.
O número de frequentadores nas áreas de circulação fica restrito. A medida estabelece ainda a ocupação máxima de uma pessoa a cada quatro metros da área disponível para treino. Não deve haver contato físico entre frequentadores e funcionários dos clubes, conforme orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de distanciamento social.
No Distrito Federal há mais de 40 clubes. Esse é o número de espaços recreativos filiados ao Sindicato de Clubes e Entidades de Classe Promotoras de Lazer e Esportes do DF (Sinlazer-DF) e, após a liberação de reabertura, todos voltaram a funcionar, seguindo os protocolos de segurança, conforme explica o presidente interino da entidade, Francisco Julho. “Todos estão abrindo, não totalmente. Elaboramos um protocolo e o governo aprovou. Não temos interesse em abrir totalmente. Queremos preservar os sócios e manter a retomada gradual, seguindo as orientações”, afirmou.
Francisco contou que muitos diretores de clubes e associados têm buscado o sindicato pedindo a liberação de todas as atividades. “Os números da doença (covid-19) ainda estão altos, por isso, não queremos que haja atividades que gerem aglomerações, por enquanto”, destacou o presidente do Sinlazer-DF. Alguns esportes não realizados em piscina também estão retornando aos poucos. “No caso do tênis, cada um fica de um lado da quadra. Às vezes, dá para jogar de dupla, mas sempre mantendo o distanciamento. Sinuca também. Futebol, por enquanto, só funcional está autorizado. Competições, não”, informou.
Expectativa
Presidente da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), José Augusto de Oliveira contou que o anseio dos associados é a retomada das atividades e ele afirma que o clube está se preparando para isso. “Temos sentido uma pressão forte dos associados, porque estão sem espaço para lazer há seis meses. Enquanto isso, vemos espaços públicos cheios, outros setores abrindo e sem o cumprimento dos protocolos”, disse. As expectativas, segundo ele, são altas para a reabertura.
A Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Apcef-DF) também liberou as piscinas para os treinos. “Abrimos a escola de natação na última terça-feira. Sempre obedecendo protocolos. Tivemos de mudar muitas coisas, além das orientações do governo, agora, controlamos o tempo de cada um nas piscinas”, informou a diretora do clube Celeste Fonseca.
Diretor de esportes da Apcef-DF, Roberto Goulart explicou que o os atletas precisam fazer uma reserva prévia para praticar natação. O período de treino deve durar apenas uma hora. Em seguida, é realizada a higienização da piscina. Os clubes têm permissão para manter as portas abertas desde julho. “Alguns (associados) reclamam, porque querem entrar na piscina com a família, mas a maioria está ciente do problema que estamos enfrentando e aceita as restrições. O movimento ainda está devagar. Ainda está muito cedo para voltar com tudo, por mais que a gente tome os cuidados. Acho que podemos aguardar mais um mês”, avaliou.
Dono da New Wake, escola de natação que funciona na Apcef-DF, João Paulo Romeu detalhou que a piscina semiolímpica do clube tem seis raias. Antes da pandemia, era permitido a permanência de três alunos em cada uma. Assim, cerca de 18 pessoas treinavam simultaneamente. Com as novas medidas, deve permanecer apenas um atleta por raia, de forma intercalada, diminuindo para três alunos por vez. “Muitos alunos nos procuraram durante a pandemia. Agora, estamos tentando voltar o contato com os que nos procuraram. As pessoas podem se sentir seguras porque é clube, espaço aberto. Além disso, atividade física traz benefício à saúde”, destacou o empresário.
Antes da pandemia, a bancária Janaína Gomes, 41 anos, praticava natação com frequência. Com o fechamento dos clubes, encontrou na caminhada uma forma de se exercitar. “Logo que os clubes reabriram, fui ver como estavam os cuidados. Como eu nadava com minha filha de 7 anos, queria ver. Mas demoraram a liberar as piscinas e ela não tem idade para frequentar, de acordo com o decreto. Estou indo sozinha”, disse. Ela afirmou que se sente segura com o formato e com os cuidados que os clubes têm adotado, “A disposição das raias, os funcionários sempre com máscara, agendamento das aulas. Tudo isso promove a segurança”, completou. Ela pratica natação duas vezes por semana.
Preparação
Como a medida que permite a reabertura de piscinas para atividades desportivas foi anunciada na última semana, alguns clubes ainda se preparam para receber os atletas. O Brasília Country Club (BCC), por exemplo, está fazendo a higienização, limpeza dos banheiros, definindo muitas coisas para a implantação dos protocolos. “Nossa demanda é grande e os associados pedem para reabrir. O clube é quase uma fazenda, as pessoas chegam cedo e saem tarde. Pedem para reabrir a sauna, que é um espaço quente e não tem perigo de contaminação. Mas, respeitamos a legislação”, afirmou o presidente do BCC, Carlos Henrique de Paula.
A funcionária pública Amanda Santana, 33, tinha o costume de ir ao clube quase todos os finais de semana com as irmãs, de 28 e 26 anos. O hábito teve uma pausa devido a pandemia. Mas, mesmo com a reabertura dos espaços recreativos, elas não se sentem seguras para voltar a frequentar. “Acho que ainda não é o momento. Acredito que daqui um ou dois meses a gente se sinta melhor para ir. Acredito que todos os clubes estão cumprindo os protocolos, mas estamos falando de uma doença pouco conhecida, sempre tem uma novidade. Melhor esperar”, disse.
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Três perguntas para
Hemerson Luz, infectologista
Este é um bom momento para a reabertura das piscinas, mesmo que apenas para atividades desportivas?
Vemos que houve uma estabilidade na taxa de casos, mas ainda temos números elevados no DF. A medida de reabertura das piscinas, mesmo que só para atletas, deve ser seguida de uma série de regras. Os atletas precisam de equipe de apoio, de pessoas que vão trabalhar junto deles. O distanciamento não pode ser esquecido. A equipe deve sempre ser testada também.
A transmissão da covid-19 pode ocorrer dentro da água?
Não temos relatos sobre isso. A transmissão é aérea e em superfícies. Dentro da água o próprio cloro tem ação microbiana, que vai agir ali. O atleta não pode nadar de máscara, obviamente, mas quando sair da piscina tem de que colocar a máscara.
Há alguma recomendação especial para ambientes abertos, como os clubes?
Não. É a mesma dos outros lugares. É manter os mesmos cuidados, porque se torna um ambiente coletivo. O uso da máscara e o distanciamento são essenciais.
O que pode nos clubes
Funcionamento exclusivamente para práticas desportivas;
Uso de piscinas em ambiente aberto;
Treinos com apenas um atleta por raia, respeitada a distância mínima de 2,5 metros entre cada atleta;
Atletas deverão ocupar as raias e bordas de forma intercalada, respeitando o distanciamento mínimo obrigatório;
Limitação de até dois treinadores para acompanhamento dos treinos, um em cada borda (principal e oposta);
Vedado o compartilhamento de material;
Na utilização de vestiários e banheiros, deve-se limitar ao máximo de duas pessoas por vez;
Os atletas poderão ser acompanhados por seus responsáveis;
Caso haja necessidade de utilização de turnos de treinamento para acomodar a equipe, deve-se adotar intervalo de pelo menos quinze minutos entre os grupos, para que se faça assepsia das áreas de uso comum e evitar aglomeração no local de treinamento;
Limpeza e tratamento adequado das piscinas;
Limpeza e desinfecção dos banheiros e vestiários com interrupção das atividades de pelo menos duas vezes ao dia, por pelo menos 30 minutos, para lavagem geral.