» CIBELE MOREIRA
O mês de setembro chegou e, com ele, a seca que castiga os brasilienses tende a se intensificar com baixa umidade e temperaturas elevadas. Especialistas e médicos alertam para os cuidados à saúde neste período do ano, principalmente por causar sintomas parecidos com a covid-19, como falta de ar e tosse. Para aliviar a secura, a população tem usado truques simples, como beber bastante água, utilizar toalhas molhadas, umidificador e deixar a casa mais arejada. No fim de semana, muitos aproveitaram para fazer atividades ao ar livre e se refrescar às margens do Lago Paranoá.
O casal de gaúchos Margaret Leivas e Roberto Ghiggi, ambos de 62 anos, mora em Brasília há 27 anos e, a cada ano, eles se adaptam com alternativas para aliviar o incômodo da seca. “O nosso corpo tem a memória do clima mais úmido, então acaba que a gente sente mais cansaço, fadiga, dor de cabeça. Quando mudamos para cá, tínhamos o costume de utilizar muito o umidificador, depois parei. Recentemente, tenho ligado, porque tenho sentido mais o desconforto. Também coloco as roupas para secar quando elas ainda estão mais úmidas. E estou sempre bebendo água. Cada um tem sua garrafinha e fica lembrando o outro para se manter hidratado”, conta Margaret.
Um outro truque que eles utilizam durante a noite é deixar a água empossada no banheiro. “Fecho o ralo e deixo um pouco de água no box. De manhã, o chão está sequinho”, conta Roberto. O banho também ficou mais frio e a aplicação de cremes para hidratar a pele foi intensificada. “O nariz da minha filha, quando era pequena, sangrava muito por conta da secura. Hoje, ela tem 21 anos e não sofre tanto com o clima”, destaca Margaret.
A alimentação foi adaptada para comidas leves, com mais salada, verdura e fruta. “Evitamos frituras e carne vermelha. Sempre procuramos ter cuidado com as refeições”, ressalta a gaúcha. “Muitos amigos, quando vêm nos visitar, reclamam. Mas a gente gosta daqui e aprendeu a conviver com este período, que dura pouco”, afirma. Apaixonados pelos ipês-amarelos, os dois também aproveitam o momento mais ameno do dia para apreciar a vista da árvore típica da seca.
Para Ivania Dolores Bezerra, 29, moradora do Guará II, esta época do ano é quando os cuidados com a hidratação aumentam. “Busco beber muita água, usar creme hidratante e manter os olhos bem hidratados com soro fisiológico. Como eu tenho ressecamento ocular, esse desconforto aumenta”, relata. Ela conta que deixa as janelas sempre abertas para circular o ar e, procura usar roupas leves durante o dia. Neste ano, até o momento, ela tem conseguido manter uma rotina sem tantos problemas com a seca. “Mas, em anos anteriores, sofri bastante. Principalmente com o nariz sangrando, ressecamento dos olhos e falta de ar”, pontua.
Cuidados
Rodrigo Biondi, intensivista do Hospital Brasília, ressalta alguns outros cuidados que o brasiliense tem que se atentar. “É importante manter a hidratação diária com intensidade. Com maior atenção às crianças, que não estão habituadas a tomar muito líquido, e aos idosos, que têm pouca água corpórea e estão mais propensos a ter desidratação”, alerta. “Há outras dicas simples que as pessoas podem adotar, como colocar toalha molhada em alguns pontos da casa, bacias embaixo da cama e o uso de umidificadores. No caso deste último, deve-se ter cuidado em sempre limpar antes de usar”, destaca.
O médico também expõe um outro ponto que precisa de maior atenção. “As pessoas com doenças respiratórias, como asma, bronquite, rinite, devem manter o acompanhamento médico e não abandonar o tratamento. Essas infecções agem com a inalação de poeira e ácaros, que pode ocasionar crises de falta de ar, tosse, coriza. São os mesmos sintomas da covid-19. Não dá para distinguir uma da outra sem fazer exame. Por isso, é importante ter esse cuidado redobrado”, enfatiza.
Neste período de pandemia, a troca das máscaras de proteção facial — item obrigatório para a prevenção da propagação do novo coronavírus — necessita de cuidado redobrado. “Por estar mais seco, as pessoas não percebem que a máscara ficou úmida e precisam trocá-la. A dica é que troque, ao menos, duas vezes no dia. Uma antes do almoço e outra, depois. Assim, traz maior eficácia.”
Para aqueles que fazem exercícios ao ar livre, o melhor horário é perto das 8h e depois das 17h. Deve-se evitar a prática no período das 10h a 16h, quando o sol está mais forte e o suor evapora com facilidade, podendo provocar desidratação grave e insolação. Ingestão de frutas com bastante líquido também é indicada.
Morador da Asa Sul, André Luiz Teixeira, 29, conta que, antes mesmo de iniciar o período da seca, procurou um pneumologista para tratar a asma. “Agora, estou seguindo o tratamento certinho e nem estou usando a bombinha. Já senti uma melhora”, conta. De acordo com ele, a pandemia acendeu um alerta para os cuidados com a saúde. “Eu fico preocupado em dobro. Aumentei a quantidade de água que tomo e procuro fazer exercícios no horário mais ameno.”
Sem chuva
O Distrito Federal está há mais de 100 dias sem chuva. De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o último registro ocorreu em 25 de maio, quando começou a estiagem. Sem precipitações significativas, o ar tem ficado cada vez mais seco, com a umidade relativa do ar variando abaixo dos 30%, o que deixou a capital em estado de atenção. Segundo o meteorologista do Inmet Heráclio Alves, o mês de setembro deve trazer taxas mais baixas. A menor registrada na história foi de 8%, em 4 de setembro de 2019. “Este mês é característico pela baixa umidade e pouca possibilidade de chuva. A queda ocorre sempre em setembro e se estabiliza em outubro, com a chegada do período chuvoso”, detalha.
Em 26 de agosto deste ano, foi registrado o menor índice de umidade no DF. Com 11%, a região de Brazlândia sofreu com a secura. Ontem, a umidade variou entre 15% e 65% e a temperatura máxima atingiu 30°C. Hoje, o ceú também estará aberto, com poucas nuvens, prevê o Inmet.
O estado de atenção é decretado quando a umidade varia entre 30% e 20%. Caso a umidade relativa do ar fique entre 12% e 20% por três dias consecutivos, é declarado estado de alerta. E, em caso de dois dias seguidos abaixo de 12%, torna-se estado de emergência.
» Linha do tempo
Umidades mais baixa
8%
4 de setembro de 2019
9%
21 de setembro de 2007
10%
7 de agosto de 2002
11%
26 de agosto de 2020
» Orientações importantes
» Lave as mãos com frequência e evite colocá-las na boca e no nariz;
» Procure manter o corpo sempre bem hidratado. Beba bastante água. Na hora do lanche ou da sobremesa, dê preferência a frutas ricas em líquido;
» Aplique soro fisiológico no nariz
e nos olhos;
» Evite a prática de exercícios físicos ao ar livre entre 10h e 17h;
» Use produtos para hidratar
a pele do rosto e do corpo;
» Coloque chapéu e óculos escuros para proteger-se do sol;
» Coloque toalhas molhadas, recipientes com água ou vaporizadores nos quartos;
» Evite aglomerações e permanência prolongada em ambientes fechados ou com ar-condicionado;
» Mantenha a casa limpa e arejada;
» Procure não usar vassouras, que levantam o pó por onde passam. Dê preferência a aspiradores
ou panos úmidos;
Fonte: Defesa Civil
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602 hectares queimados em um dia
As queimadas em vegetação marcaram o fim de semana no Distrito Federal. Entre sábado e ontem, o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF) registrou 128 focos de incêndios florestais na capital. No total, mais de 405 militares atuaram nas ocorrências. Apenas ontem, 602 hectares de área verde foram destruídos.
Parte da mata próxima ao Centro Olímpico da Universidade de Brasília (CO/UnB) pegou fogo ontem e consumiu 62,4 hectares. Até o fechamento desta edição, as causas do incêndio não haviam sido detalhadas. A perícia do CBMDF chegou a ser acionada para investigar se o incêndio de grandes proporções foi criminoso ou resultado da combustão espontânea do cerrado, devido ao calor e à seca.
O fogo começou por volta das 13h de ontem e os bombeiros levaram, em média, três horas para combatê-lo. “Durante a operação, priorizamos, principalmente, proteger as instalações internas do Centro Olímpico, as quadras e o vestiário da piscina. A vegetação é muito densa e isso colaborou para que as chamas se propagassem mais rápido”, explicou o tenente Marcelo Abreu.
Doze militares atuaram na operação e parte deles precisou ir para uma área atrás do Centro Olímpico. “Precisamos desmembrar a equipe. Alguns bombeiros ficaram no terreno mais abaixo, para proteger a parte dos alojamentos”, completou o tenente.
Segundo informações do supervisor de Segurança do local, João Francisco Neto, o incêndio florestal teria começado próximo às margens do Lago Paranoá.
Floresta Nacional
Um outro incêndio ocorreu sábado, na Floresta Nacional de Brasília, em Taguatinga. As chamas destruíram 39 hectares de vegetação. Militares de dois batalhões, um de Taguatinga e outro de Samambaia, levaram três horas para combater o fogo. Na avaliação de Marcelo Abreu, o tempo seco e a baixa umidade relativa do ar contribuem para o aumento das queimadas.