O Distrito Federal destacou-se no combate à covid-19, em julho. A capital do país ficou em primeiro lugar na lista que avalia a quantidade de pessoas testadas nas 27 unidades da Federação. Em julho, 16,7% dos brasilienses fizeram exames para a detecção da covid-19. Dos mais de 3 milhões de moradores do DF, 2,8% receberam resultado positivo até a data do levantamento. Entre as pessoas que fizeram algum exame, a maioria tem curso superior completo ou pós-graduação. As informações são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid-19. O levantamento mostra de que forma a pandemia afetou o país pelos aspectos econômicos, sanitários e educacionais.
O percentual de brasilienses que apresentaram sintomas conjugados da covid-19 foi o segundo maior no país, ficando atrás apenas de Roraima. Entre o total de pessoas que tiveram esses sinais de infecção, 2,2% apresentaram perda de olfato ou paladar; tosse, febre e dificuldade para respirar; ou tosse, febre e dor no peito. Do total da população do DF, 63,2% não têm plano de saúde e dependem da rede pública para receber acompanhamento em caso de contaminação.
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Moradora do Setor de Mansões de Sobradinho, a funcionária pública aposentada Ana Rodrigues, 65 anos, teve covid-19 há cerca de três meses. No terreno onde ela mora, vivem outras duas famílias. Após uma festa de aniversário, cerca de 18 pessoas apresentaram sintomas da doença. Dos nove que testaram positivo, quatro fizeram exames pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Todos tiveram sintomas leves. Só meu genro que passou quatro dias internado. Mas, no hospital, ele tomou as medicações que são do protocolo e ficou bem”, relatou Ana.
Após descobrir os casos, o grupo permaneceu afastado de pessoas de fora da família. Eles desconfiam que a reunião tenha sido o motivo do surto. “Um teve febre; outro, falta de ar. Não sabemos exatamente como foi o contágio, mas imaginamos que foi durante a comemoração. Não tivemos como manter o distanciamento entre nós, porque são três imóveis no mesmo terreno. Mas, para (proteger) a comunidade, fizemos o isolamento. Não saímos de casa de jeito nenhum”, contou a aposentada.
A coleta de dados para a Pnad Covid-19 começou em 4 de maio. As entrevistas ocorreram por telefone, com cerca de 48 mil domicílios brasileiros por semana. Ao fim de um mês, esse total chegou a 193 mil. A amostra é fixa; por isso, as informações dessas residências farão parte do material divulgado até o fim da pesquisa. Os telefones foram selecionados com base nas informações de 211 mil lares, que participaram da Pnad Contínua do primeiro trimestre de 2019. O critério para escolha foram os endereços com número de telefone cadastrado. Os resultados são divulgados, semanalmente, para alguns indicadores, mas os números estaduais e do DF têm publicação mensal.
Deslocamento
Outra informação que a Pnad Covid-19 revela sobre o Distrito Federal é o respeito às medidas de restrição. Em quase metade dos domicílios, a população disse cumprir com as orientações relacionadas ao distanciamento social e saiu apenas por necessidades básicas. Além desse grupo, em 23% dos lares, houve isolamento rigoroso no mês passado. O acesso a produtos de limpeza e proteção, como água sanitária ou desinfetante, álcool 70% ou superior, máscaras e sabão ou detergente, é de mais de 97% nos domicílios brasilienses.
Professora do curso de saúde coletiva do câmpus de Ceilândia da Universidade de Brasília (UnB), Carla Pintas preocupa-se com a retomada de alguns setores por causa da necessidade de deslocamento da população no transporte público. “O DF é uma unidade da Federação com muitos funcionários públicos. Esses serviços estão todos trabalhando em regime de home office, e as universidades e as escolas não estão funcionando. Isso facilitou para termos mais pessoas restritas em casa. Mas a abertura do comércio fez muita gente sair para trabalhar, e não há um controle efetivo da circulação delas”, lembrou.
Renda
As informações divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fazem parte do levantamento Estatísticas Experimentais e dos planos de modernização da agência. Elas estão em fase de testes e passam por constante avaliação. Além de apresentar um retrato do total de pessoas com sintomas associados à síndrome gripal, os dados permitem monitorar os efeitos da pandemia no mercado de trabalho.
A renda média, efetivamente recebida pela população ocupada em julho no DF, foi a maior do país (R$ 3.834). Normalmente, esse total chega a R$ 4.151, também o mais alto do Brasil. Para efeito de comparação, o rendimento médio recebido em nível nacional, no mês passado, foi de R$ 2.077, e o usualmente alcançado é de R$ 2.377. Em relação ao auxílio emergencial — que chegou a 44,1% de residências brasileiras —, o DF teve o terceiro menor número de lares que contaram com o repasse federal, em julho (33%), ficando atrás do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. A quantia média paga foi de R$ 858.
Outro dado mostra que, em cerca de 40 mil domicílios brasilienses, alguém solicitou empréstimo e conseguiu. Moradores de outros 12 mil lares também tentaram, mas não tiveram o pedido aprovado. Para completar, a taxa de desemprego, no mês pesquisado, chegou a 13,3%, mesma porcentagem verificada em nível nacional, na segunda semana de agosto. Presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon/DF), César Bergo assinalou que o cenário é semelhante nas demais unidades da Federação. “O rendimento médio recebido no DF é o maior do país, e o motivo é que, na sua maior parte, os empregos são ligados às instituições públicas, que remuneram acima da média e não promoveram dispensa de funcionários. Mas a situação (do desemprego) agravou-se em razão do isolamento social”, avaliou.