Com mais de 50% dos votos, a chapa da reitora Márcia Abrahão venceu as eleições para continuar no comando da Universidade de Brasília (UnB). A geóloga recebeu 16.325 votos de técnicos, alunos e professores. Agora, ela terá o nome avaliado pelo Ministério da Educação (MEC). A nomeação ficará a cargo do presidente da República, Jair Bolsonaro. Em entrevista ao Correio, a reitora afirmou que acredita no aval do chefe do Executivo. “A esperança é a melhor possível”, afirmou.
Segundo Márcia, entre os principais desafios para o novo mandato estão a adaptação de professores e alunos na modalidade on-line e a arrecadação de recursos para a universidade. Em relação ao retorno presencial das aulas na instituição, a professora considera que, para este ano, não há previsão para a retomada. “Somente quando for seguro, quando tivermos condições, retornaremos”, ressaltou. Confira os principais trechos da entrevista:
A que atribui a vitória na consulta deste ano?
Primeiro, quero agradecer à oportunidade que tive e a toda a comunidade da UnB, que nos honrou. Tivemos uma votação específica e estamos muito felizes, porque é um reconhecimento da comunidade ao trabalho que a nossa equipe tem feito nos últimos quatro anos. Passamos por momentos difíceis, mas sempre chamamos a comunidade, e não deixamos de investir no que fazemos de melhor, que é o ensino, a pesquisa e a extensão. E os resultados apareceram. A UnB avançou nos indicadores educacionais e ganhou reconhecimento, sem abrir mão da inclusão. Nessas eleições, fizemos uma campanha franca, como tem sido em toda a nossa gestão.
Quais serão os principais desafios do próximo mandato?
O principal desafio será lidar com as consequências da pandemia. O novo coronavírus deixou sequelas econômicas profundas na sociedade, e isso refletirá, também, na universidade. Certamente, vamos ter um contingente de estudantes em situação de vulnerabilidade econômica; então, teremos de investir mais na formação de docentes, técnicos e alunos em novas tecnologias de ensino e aprendizagem. Temos o nosso centro de ensino a distância, onde temos cursos de graduação on-line. Em março, por exemplo, formamos mais de 1 mil professores para o uso da plataforma virtual de atividades. Além disso, como consequência da pandemia, temos perspectivas de dificuldades com arrecadação da própria UnB. De 100% que gastamos, 40% vêm da universidade. Temos de continuar arrecadando. Um outro desafio é a diminuição dos recursos repassados às universidades. Precisamos convencer o Congresso Nacional e o governo federal de que a educação é investimento fundamental para o país se desenvolver.
Quais as prioridades entre as propostas apresentadas durante a campanha?
A prioridade é continuar investindo nas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Temos tido redução dos investimentos pelas partes de fomento. Então, a nossa ideia é oferecer mais bolsas de iniciação científica, de extensão, dar apoio à publicação em periódicos nacionais e internacionais e à nossa própria editora para publicarmos mais livros. Queremos ter mais participação em congressos e apoiar a capacitação dos técnicos. Além disso, vamos trabalhar para ter mais mestrados profissionais e para que o doutorado para os técnicos seja criado. É necessário, ainda, ter maior integração entre o Hospital Universitário de Brasília (HUB) e a universidade. Tudo isso sem perder o foco nos cuidados com as pessoas, promovendo ações de saúde mental e qualidade de vida no trabalho, o que inclui técnicos e docentes.
A universidade tem passado por dificuldades orçamentárias. Nos próximos anos, esse cenário deve se agravar?
Os fatos econômicos mostram a situação difícil no país, mas esperamos que a educação seja preservada, que seja vista com prioridade, até por uma questão estratégica, pois países que priorizaram a educação saíram na frente no combate à pandemia da covid-19. Estamos conseguindo encerrar esse mandato com as contas em dias. Apesar de termos tido uma redução do nosso orçamento perto de 45%, conseguimos aumentar o orçamento das faculdades e institutos em 38%. Então, para mantermos esse caminho, é urgente que os recursos da arrecadação própria possam ser usados pela própria UnB.
Como a UnB vai enfrentar as questões relacionadas à pandemia, principalmente para garantir igualdade de acesso aos estudantes, já que muitos têm dificuldade de conexão à internet e equipamentos para aulas on-line?
Constituímos um comitê de coordenação das ações de recuperação, porque uma das nossas principais reclamações é referente ao retorno das aulas presenciais. Somos 46 mil estudantes, e muitos cursos têm aulas práticas. Fizemos uma pesquisa, que mostrou que 30% dos professores não tinham preparação para dar aulas remotamente. Além disso, 6% dos estudantes não tinham computadores, e 30% deles apresentavam problemas de conectividade com a internet. Outro detalhe é que 70% dos alunos utilizam ônibus para ir à instituição. Se retomarmos as aulas de forma presencial, mesmo parcialmente, ao circular, esses estudantes podem disseminar o vírus para a família e a comunidade. Essa é nossa preocupação. Fizemos editais para que os alunos pudessem se inscrever para receber computadores ou dinheiro para comprar esses equipamentos. Demos R$ 1,5 mil para cada cerca de 3 mil estudantes, e eles mesmo compraram. Também recebemos 800 inscrições de alunos que precisaram de dinheiro para comprar o equipamento de internet. Daqui para a frente, vamos continuar investindo em inclusão digital.
Acredita ser possível a retomada das atividades presenciais sem que haja uma vacina contra a covid-19?
Todos nós estamos aprendendo com essa pandemia. Ainda não temos como saber, e estamos monitorando a evolução do vírus e da curva no DF. A curva não caiu, e não sabemos como ela vai se comportar nos próximos meses. Não podemos colocar a nossa comunidade em risco. Então, com todas essas incertezas, não é possível prever o retorno. O que podemos dizer é que, este ano, não temos previsão de retomada presencialmente, tanto que o calendário acadêmico está remotamente até dezembro. Somente quando for seguro, quando tivermos condições, retornaremos.
Há receio de que o seu nome não seja confirmado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro?
Eu fui nomeada, em 2016, pelo Michel Temer. Sempre há uma expectativa enquanto não sai a nomeação, e nós temos uma ótima expectativa de que o presidente vai respeitar a nossa comunidade. Isso aconteceu em 2016, principalmente, em função da vitória significativa. Então, a universidade sai unida desse processo. A esperança é a melhor possível, para que aconteça de acordo com o que esperamos. Vamos esperar para que a democracia seja respeitada.