Moradores do assentamento 26 de setembro entraram em confronto com a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) durante o 10º dia da Operação Pronto Emprego. As pessoas da região relatam falta de cuidado por parte dos oficiais.
Lucas Henrique, 25 anos, mora no local há dois anos e meio e afirma que os moradores só entraram em confronto com os policiais para defenderem as moradias. "Muitas famílias aqui são de baixa renda e não têm condições de comprar lotes em outros locais", diz. Para ele, a ação durante a pandemia revela uma falta de empatia. "Estamos passando por um momento crítico, está difícil conseguir emprego e mandam despejar famílias inteiras. Só queríamos um pouco de apoio", considera.
O corretor de imóveis foi atingido por uma bomba de gás lacrimogênio dentro de casa. "Estava tranquilo, não recebi nenhum tipo de notificação nem nada do tipo. Fui surpreendido por uma bomba que passou pela janela", conta Lucas. Quando o jovem saiu de casa para tentar fugir do efeito do gás, foi abordado pela PM. "Assim que me viram, começaram a gritar comigo como se eu tivesse feito algo errado", relata. Ele explica que não quer brigar com os agentes. "Sabemos que eles estão aqui cumprindo ordens, mas chega a ser desumano a forma como somos tratados", completa.
Os manifestantes chegaram a fazer barreiras com fogo e faixas para impedir a passagem de agentes do governo. Outra moradora, sob condição de anonimato, disse que quase teve a casa destruída por um incêndio iniciado no confronto. "Quando vi as chamas pela janela, corri para pedir a ajuda de vizinhos. Por sorte conseguimos apagar antes que chegasse mais perto", conta. A mulher estava com uma criança de cinco anos. "Meu filho começou a chorar, ao mesmo tempo a cavalaria da PM chegou. Foi uma confusão", afirma.
Uma moradora que foi atingida por balas de borracha precisou ir para o Hospital Regional de Taguatinga (HRT). A irmã da ferida informou ao Correio que a casa onde estavam foi derrubada. "A PM chegou e começou a derrubar tudo. Quando vi minha irmã sangrando, sai correndo para levá-la ao hospital", diz.
A mulher, que também não quis se identificar, tem 32 anos e mora no 26 de setembro há mais de 10. "Essas ações já aconteceram antes, mas durante a pandemia é uma falta de respeito. Nós trabalhamos para conseguirmos um lar e, quando conseguímos, tiram de nós", declara. "Nem todos que estão aqui compraram o terreno de forma irregular ou invadiram", completa.
Segundo a Secretaria DF Legal, a iniciativa tem como intuito evitar as ocupações irregulares, fomentando menor impacto econômico, social e ambiental no DF. A ação no assentamento 26 de setembro restringe-se à remoção de edificações em fase inicial, de construções não habitadas e de cercamentos, muros, guaritas, postes, cisternas, poços artesianos clandestinos e bases. Desde o início, já foram liberadas 344.400 m² na região e não há prazo para o término das ações.