O dia de ontem foi de despedida. O meu avô, José Edvaldo Cabral, 74 anos, lutou bravamente contra a covid-19. Mas as complicações da doença o levaram para começar uma nova vida, em um lugar onde, certamente, ele continuará a distribuir sorrisos.
Há 34 anos, em 1981, ele pôs os pés em Brasília na companhia da minha avó, Zeneide Cabral, 76, e dos três filhos: minha mãe, Daniele, e os meus tios Alessandra e Rodrigo. Seu Edvaldo era militar e professor de português. Aqui, construiu a carreira, criou a família e viu os quatro netos crescerem. Entre tantas lembranças, guardo a imagem dele lendo, diariamente, o Correio Braziliense. Dizia, com frequência, que, quando, finalmente, fosse aposentado compulsoriamente, se tornaria revisor do jornal.
Para a nossa família, a imagem que fica é a dessa foto: um homem alegre, bem-humorado, piadista e sempre com uma palavra de incentivo. Eu e os meus irmãos — Lucas, Matheus e Camilla — nunca vamos esquecer da infância cheia de alegria, com ele sempre nos fazendo rir. Quando chegávamos à casa dele, o meu avô escondia-se e tínhamos de achá-lo. Dar sustos era outra traquinagem que ele adorava.
Leveza
Ao despedir-se dele, ontem, a vó Zeneide declarou-se mais uma vez: “Você sempre foi e sempre será o amor da vida”. É de cortar o coração mas, ao mesmo tempo, um afago na alma. Das lições que deixa, uma delas é levar a vida com leveza e não se abater. Os desafios chegavam, e ele seguia com tranquilidade. É bem verdade que, nos últimos meses, com horror de pandemia, ele estava bravo por não poder ir à lotérica.
Apesar da tristeza e da saudade imensa, entendemos que a partida foi em paz, acompanhada dos amigos espirituais e com a certeza de que reencontrará os amados em breve. E eu, vô, serei sempre a sua menininha. Com amor, Ailim Cabral.