Publicações de um professor da rede pública do DF têm causado revolta na internet, especialmente entre alunos e ex-alunos do docente. Conforme o Correio apurou, Murilo Vargas leciona espanhol no Centro de Ensino Médio 804, no Recanto das Emas.
Na noite desta quarta-feira (19/07), o professor compartilhou em seu mural do Facebook a imagem de uma mulher negra com cabelo black power e escreveu “cosplay de microfone”. Antes disso, ele fez uma série de outras manifestações que despertaram constrangimento e ira entre os seguidores. O professor insinua que a menina de dez anos estuprada pelo tio não deveria ter feito o aborto e que ela poderia ter se protegido da violência sexual sofrida. Em uma das publicações ele diz “Entre a criança e o bebê, fico com quem era completamente incapaz de se defender”.
Depois do episódio, alunos e ex-alunos se manifestaram e criaram um abaixo assinado requerendo a saída do professor da escola. O pedido já tem mais de 1.600 assinaturas e continua crescendo rapidamente
Na explicação para o pedido, a criadora da petição diz que o professor foi racista, machista e homofóbico. Os alunos querem que Murilo Vargas seja demitido, assim como aconteceu com a professora de São Paulo que disse que o estupro da menina ''não foi nenhuma violência''.
A aluna Camila Loiola, de 18 anos, está no 3° ano achou e a conduta do professor extremamente desrespeitosa e preconceituosa. “É muito triste para mim saber que um homem com essa mentalidade trabalha na área da educação. Ele contribui para a formação da mentalidade dos alunos o que é um grande perigo, uma vez que, ele tem vários posicionamentos extremistas e preconceituosos. Como aluna do CEM 804 eu me recuso a continuar tendo aulas com ele. A escola precisa ser um ambiente acolhedor e respeitável o que se distancia totalmente de qualquer tipo de preconceito”, disse a jovem estudante.
Ela também critica que, mesmo após a repercussão negativa, o professor não se arrependeu. “Além de tudo, não teve a mínima decência de tentar reconhecer o erro ou se desculpar, muito pelo contrário tratou toda a situação como uma piada.
Outro aluno de Murilo, que preferiu não ser identificado por medo de represálias, disse que o professor foi infeliz em seu posicionamento. “Eu me senti muito revoltado e triste com o comentário que ele fez, porque em pleno século 21 ainda existe pessoas que nem ele, sabe?”
Opinião compartilhada por outra aluna, de 17 anos, que também pediu para não ser identificada. Ela reclama que a postura do professor vai contra tudo que é ensinado na escola, que desenvolve ações voltadas ao combate a crimes como racismo e homofobia. “Através de prints de algumas postagens dele vimos atos racista e homofóbicos e nos alunos do 804 não toleramos esse tipo de conduta”.
Ela também desqualifica a atuação de Murilo como professor. “Eu tive aula com ele nos meu 3 anos de ensino médio e, sendo bem sincera, não aprendi nada que já não soubesse, no três anos foi passado o mesmo assunto, repetidamente. Eu acredito muito que o professor faz a aula, um professor ruim, aula ruim.”
Ex-aluna de Murilo, a estudante de Ciências Contábeis Larissa Sousa da Silva, 20 anos
conta que o comportamento inadequado do professor não se limita às redes, tendo sido ofensivo também em sala de aula. “Ele fazia piadas de humor pesado e ninguém dava moral. Ficávamos sem graça por causa disso.”
A situação é reiterada por outra jovem, que preferiu não ser identificada. Ela foi aluna de Murilo há dois anos e disse que o comportamento se agravou no período eleitoral. “Ele deixava claro o posicionamento dele de extrema direita e criticava alunos que tinham ideologia de esquerda. Ele chegou a comentar que 'esquerdista não morre nem com tiro na cabeça pois não tem cérebro para poder matar'”, conta. Ela diz ainda que a diretoria sabia da situação, mas nunca tomou providências.
Procurada, a secretaria de Educação disse que irá apurar o caso. Disse ainda que “reafirma a sua missão educacional de assegurar o respeito à diversidade e à pluralidade na rede pública de ensino e, com isto, contribuir para que se propague em toda a sociedade.
Pelas redes sociais, a escola se pronunciou emitindo uma nota de repúdio. O texto diz que o posicionamento do professor confronta as ações desenvolvidas na escola. “Essas declarações não refletem o pensamento da escola, que sempre prezou pela diversidade e pluralidade de ideias e procurou sempre se pautar pelos princípios da liberdade, como escola formadora do pensamento crítico-reflexivo, independente de partidarismo político, ideologia, raça ou credo. O CEM 804 se orgulha também de ser formado por uma comunidade com imensa pluralidade racial.”
A reportagem tentou contato com o professor Murilo Vargas, mas ele não atendeu.
Este espaço está aberto à manifestação.
NOTA DA ESCOLA NA ÍNTEGRA
O CEM 804 do Recanto das Emas vem a público, por meio de suas redes sociais, manifestar o seu repúdio à declaração com teor que pode ser considerado como racista, proferida por um de seus professores no Facebook particular.
Essas declarações não refletem o pensamento da escola, que sempre prezou pela diversidade e pluralidade de ideias e procurou sempre se pautar pelos princípios da liberdade, como escola formadora do pensamento crítico-reflexivo, independente de partidarismo político, ideologia, raça ou credo.
O CEM 804 se orgulha também de ser formado por uma comunidade com imensa pluralidade racial, tendo se destacado inclusive com projetos de valorização da cultura afrodescendente, como o projeto “Consciência Negra” que é realizado anualmente e abraçado por toda a comunidade. A nossa escola ostenta, com imenso orgulho, o título de escola inclusiva, pelo trabalho que vem desenvolvendo no intuito de reduzir as diferenças, as limitações, proporcionando a todos os alunos um convívio amigável, respeitoso e harmonioso. Mais uma vez reiteramos que a escola não compactua com tais postagens e que, durante o exercício da função deste professor, nunca houve denúncia de atitude semelhante que tivesse chegado formalmente até à direção da escola. Tal fato nos entristece e o CEM 804 se solidariza com aqueles que se sentiram ofendidos de alguma forma.