Em casa durante a pandemia e sempre conectados, as crianças e os adolescentes estão mais sujeitos aos riscos de choques elétricos. No início do mês, o jovem João Vitor Domat Remus, 13 anos, acabou perdendo a vida depois de encostar na parte metálica de um carregador que estava ligado à tomada. O caso aconteceu em Palmas, capital do Tocantins.
A família aguarda conclusão da perícia sobre o carregador e informou que pretende entrar com uma ação no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) pedindo a suspensão da venda de carregadores sem comprovação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).
O pediatra e coordenador do pronto-socorro e unidade de internação pediátrica do Hospital Águas Claras, Mário Ferreira Carpi, lembra que a atenção médica é fundamental em caso de choques elétricos, que podem variar desde uma leve queimadura a casos mais graves. Ao Correio, ele esclarece dúvidas sobre como os pais devem agir. Veja:
Como podemos prevenir choques elétricos em crianças e adolescentes?
Em crianças pequenas, primordialmente, deve-se usar protetores de tomada. Apesar do padrão específico do Brasil, é importante usar, particularmente para as menores de 5 anos. Outros aspecto importante é não deixar fios desencapados ou emaranhados em casa. Às vezes tem uma mesa com computador, impressora e um monte de fio emaranhado, a criança vai mexer nisso e toma choque. Na rua, é importante ficar longe de onde há fiação elétrica exposta. Cuidado para não soltar pipa onde há fiação elétrica. Com a questão da tecnologia, é quase inevitável que crianças maiores e adolescentes usem celular e tablet. Elas precisam ser educadas e jamais mexer nos equipamentos com a mão molhada. Na hora de colocar para carregar, jamais encostar nos pinos do conector. A ação é educativa. Os pais não vão conseguir impedir que eles tenham acesso a celulares, tablets e computadores. Tomar bastante cuidado para nunca usar esses equipamentos com mão molhada ou áreas úmidas (banheira, chuveiro), porque vai dar danos.
Qual a potência de um choque provocado por um aparelho ligado em tomada?
O choque em tomada, famoso dedinho na tomada, em geral, é de baixa voltagem. Não é comum causar dano muito grande em tomadas comuns. Lógico que depende do aparelho que você está carregando. Temos que considerar também que a voltagem em Brasília é 220V, ou seja, alta. No aparelho, há uma corrente elétrica. Os aparelhos puxam quantidades de energia distintas. Uma TV ou um tablet vão puxar quantidades de energia muito distintas.
O choque pode acontecer na hora que está carregando ou só ao conectar e desconectar?
Sim. O tempo inteiro está puxando energia. É difícil pegar um aparelho carregando e tomar choque por isso, mas pode acontecer. Então não utilize aparelhos enquanto estão sendo carregados. Se for essencial usar o celular, tira do carregador, usa e depois volta a conectar.
O risco é maior se estiver chovendo e trovejando?
Energia elétrica e água não combinam. Se estiver exposto à chuva é mais perigoso. Se está relampejando ou chovendo, existe risco maior de descargas elétricas. Se uma descarga atingir a casa naquele momento e você está mexendo no aparelho conectado, pode haver uma repercussão. Por isso mesmo não use aparelhos enquanto estiverem ligados na tomada.
O que os pais devem fazer se os filhos levarem um choque?
Se aconteceu, procure imediatamente o pronto-socorro para tratamento adequado. A maioria é de pequena gravidade. Nesses casos, é feita limpeza local. Em caso de descargas graves, os pacientes precisam ser monitorados. Quando alguém recebe queimadura elétrica de alta voltagem, ela tem trajeto com entrada e saída. Isso pode ocasionar em lesões de órgãos internos, inclusive no coração, fígado e assim por diante. É muito comum haver lesões musculares. Mesmo que o paciente esteja estável, vamos colher exames de avaliação cardíaca, muscular e monitorar por pelo menos 24h. Evidentemente, choques de alta voltagem podem causar lesões internas e destruição de membros em casos extremos e mais graves. Alta voltagem é muito perigoso.