Em junho, a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) apontou crescimento de 6,6% no setor — o índice está acima da média nacional, que registrou alta de 5%, segundo o IBGE. Os dados do DF mostram que, em 12 meses, o segmento apresentou queda de 5,7%. Os números são reflexo da pandemia do novo coronavírus, que afetou diversos ramos da economia. Em relação ao mesmo mês, em 2019, os serviços de informação e comunicação tiveram a menor baixa. Possivelmente, a adesão ao regime de teletrabalho e a realização de aulas, cursos e consultas médicas virtuais aumentaram a procura por esse tipo de atividade.
Segundo a Codeplan, o segmento com pior performance do período foram os serviços prestados às famílias, que tiveram uma variação negativa de 55,4%. Essa atividade acumula quedas sucessivas. Os demais serviços de profissionais, administrativos e complementares; transporte, serviços auxiliares ao transporte e correios; e outros tiveram queda de 11,1%, 39,6% e 2,8%, respectivamente, no mesmo período de comparação.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio), Francisco Maia, destacou o crescimento dos serviços de entrega e assistência em casa. “Muitos são profissionais autônomos, que cuidam de jardim, piscina, informática. Esse setor não sofreu tanto quanto o comércio varejista. E a retomada dele é mais rápida”, explicou. Segundo ele, o ramo de serviços é o que mais fatura no DF e tem peso na economia maior do que o a indústria. “Algumas empresas tiveram dificuldade para conseguir crédito, e vão se recuperar mais lentamente. Os outros são profissionais autônomos, que, à medida que as atividades voltam, começam a se recuperar”, afirmou Maia.
Queda
A recuperação levantada pela Codeplan, no entanto, não foi sentida pela empresária Viviane Urbano, 40 anos, dona do Viviane Urbano Cabelo e Maquiagem, no Sudoeste. Ela contou que, com a pandemia, o movimento do salão de beleza caiu 70%. O número, segundo ela, está abaixo das expectativas desde a reabertura do comércio. “É assustador. Esperávamos uma volta melhor. Sexta e sábado costumavam ser os dias com mais movimento. Agora, as clientes procuram mais atendimento em dias da semana. Acho que vai começar a voltar quando o número de casos cair no DF. As pessoas não se sentem seguras”, disse. O estabelecimento dela segue os protocolos de segurança, como atendimento com horário marcado, distanciamento das cadeiras, álcool em gel à disposição, funcionários com máscara e luva, entre outros.
Para atrair a clientela, a empresária oferece promoções. Mas, até agora, a estratégia não funcionou. “Não é isso o que as clientes estão procurando. Todas estão em busca de proteção. Quem vem pela primeira vez e vê a estrutura sente-se mais segura. Quem não vem acha que está tudo lotado”, lamenta Viviane. Antes, ela atendia a várias pessoas, simultaneamente. Agora, é uma por vez. “Nem digo que atendemos em horário comercial, porque nos colocamos à disposição do cliente. Se ele pode às 21h, estaremos aqui para atendê-lo. Precisamos de fluxo. Não tem mais feriado, nada. Precisamos trabalhar”, ressaltou a cabeleireira. A previsão dela é de que o movimento ganhe força a partir de novembro.
Em tempos normais, a Maria Joaquina Esmalteria, na Octogonal, abre todos os dias. Com a pandemia, há uma escala. Por se tratar de um serviço não essencial, a procura está abaixo do esperado. “As pessoas estão com receio de contratar serviços em que precisem sair de casa. A retomada será mesmo gradual. Por causa do momento, diminuímos o atendimento para recomeçar aos poucos”, conta a empresária Tatiane Bottesini, 43. A empresa adotou o slogan “Eu Cuido e Você Cuida de Mim” para reforçar os protocolos de segurança e garantir o cumprimento das novas regras. “A gente precisa passar para as clientes que estamos seguindo tudo certinho. Fazemos isso pelas redes sociais. A minha expectativa é de que tudo comece a voltar nos próximos dois meses”, estimou.
Dados do Sindicato dos Salões, Institutos e Centros de Beleza, Estética e Profissionais Autônomos do DF (Simbeleza) mostram que o movimento dos estabelecimentos do setor é de 40% do que era antes da pandemia. “O número é baixo, e isso gera insolvência. Tem estabelecimento que não consegue sobreviver com isso. Muitas não têm receita para pagar as contas, têm contas em aberto. Esperamos que haja melhora do movimento nos próximos meses”, disse o presidente da entidade, Célio Paiva. No DF, cerca de 120 empresas do ramo fecharam na pandemia. “Algumas conseguem sobreviver por mais dois, três meses, no máximo, se o movimento não melhorar”, acrescentou.
Preocupação
Para a costureira Maria Soares, 53, o sentimento é de impotência. Segundo ela, as clientes não saem mais de casa. “As minhas contas estão atrasadas. Tentei empréstimos de todos os tipos para tentar me manter, mas negaram duas vezes. Prometeram facilitar, mas não cumpriram. Infelizmente, estou quase fechando a loja. Não mudou nada de quando estava fechado”, reclamou.
Moradora da Octogonal, a aposentada Juraci Rosa de Lima, 72, não vai para a rua desde o início da pandemia. Mesmo com o funcionamento da maioria das atividades, ela prefere manter o isolamento social. “Não tenho nenhuma comorbidade, mas estou receosa. O número de casos e de mortes me assusta. Estou cuidando de tudo de casa, mesmo. Faço as minhas unhas em casa, do jeito que dá. Melhor a cutícula incomodando do que arriscar a vida”, destacou.
A arquiteta Aline Morais, 30, tem visitado alguns estabelecimentos. Mas tem como critério os protocolos de segurança do local. “Eu ligo antes para saber se tem tudo que garanta minha segurança. Mede temperatura? Tem álcool em gel? Todos estão de máscara? Se a resposta for ‘sim’ para tudo, eu vou. A pandemia não acabou. Saio para o que é necessário e para onde me sinto segura. Não é hora de arriscar”, afirmou.