O esquema de tráfico de animais silvestres envolveu professores de medicina veterinária, militares e estudantes. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) indiciou 11 pessoas que tiveram envolvimento no caso da naja. Entre eles, o tenente-coronel da PMDF, Clóvis Eduardo Condi, o major do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA), Joaquim Elias Costa Paulino, e a professora de medicina veterinária da Uniceplac, no Gama, Fabiana Sperb Volkweis. A docente teria orientado um estudante a ‘soltar as cobras no mato’.
De acordo com a apuração policial, estudantes formaram uma associação criminosa dentro da própria instituição de ensino. Os alunos chegaram a fazer rifa de cobras. “No decorrer das investigações, concluímos que o comércio de animais está banalizado. Eles acham normal. Um deles chegou a dizer, em depoimento, que era um pet”, afirmou o delegado da 14ª Delegacia de Polícia (Gama) Willian Andrade.
Troca de mensagens analisadas pela polícia revelaram o suposto envolvimento da professora no caso. Ao interlocutor, ela escreve: "Pega as outras cobras venenosas e soltem no mato as que forem nativas daqui". E continua: "Só gelei pensando naquela jararaca. Você está junto?". O interlocutor responde: "Não eu não tenho nenhuma serpente mais". A jararaca é uma espécie de cobra venenosa, nativa do Brasil. A professora foi indiciada por fraude processual.
À época, a universidade abriu um processo interno para apurar a conduta da professora. De acordo com a apuração policial, outros professores da faculdade sabiam da conduta ilegal dos acusados. A reportagem entrou em contato com a instituição e aguarda retorno.
Militares
A participação no esquema também contou com o major do BPMA, Elias Costa. Em 9 de julho, um dia depois de Pedro Henrique ser picado pela naja, o amigo dele, Gabriel Ribeiro de Moura, 24, tentou ocultar a serpente. Em depoimento à Polícia Civil, o jovem afirmou que entregou a cobra aos militares, tendo em vista ‘um acordo de impunidade’. Segundo ele, o policial havia garantido que não o levaria à delegacia. Por conta disso, o major foi indiciado por fraude processual, prevaricação, associação criminosa e coação no curso do processo.
O tenente-coronel da PMDF Clóvis Eduardo Condi, padrasto de Pedro Henrique, teria dado suporte financeiro e material para que a residência servisse de cativeiro para as cobras. Ele foi visto saindo do condomínio onde mora, no Guará 2, com diversas caixas de serpentes logo após o enteado ser picado.
O militar responderá 23 vezes por tráfico de animais silvestres, fraude processual, maus-tratos e associação criminosa. Além disso, a mãe de Pedro Henrique, a advogada Rose Meire dos Santos responderá por fraude processual, corrupção de menores, tráfico de animais, maus-tratos e associação criminosa. No esquema, ela era encarregada de alimentar as serpentes e cuidar da reprodução.
Estudantes
Dos 11 indiciados, seis são estudantes de medicina veterinária e amigos de Pedro Henrique. De acordo com o delegado Willian Andrade, alguns deles participavam da conduta do tráfico desde 2017, mas a maioria ficou encarregada de espalhar e dar sumiço nas cobras após o estudante ser picado pela naja.a profissão. Em um vídeo colhido pela polícia, ele aparece realizando uma cirurgia em uma serpente, dentro de um estabelecimento comercial da família.
Por meio de nota oficial, o Unieplac informou que a comissão interna criada para a análise do Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) dos envolvidos no caso da posse ilegal de animais silvestres segue acompanhando o processo para tomar as medidas administrativas cabíveis. "Mais informações serão fornecidas assim que a apuração interna tiver se esgotado", ressaltou o texto.