Após mais de cinco meses do primeiro diagnóstico da covid-19, a doença segue em alta no Distrito Federal. Apenas ontem, 3.012 pessoas testaram positivo para o novo coronavírus, maior quantidade registrada em 24 horas. Além disso, 29 pessoas morreram no período. Em meio ao aumento diário de casos, o sistema de saúde sofre com a demanda de pacientes. Familiares de um advogado da capital, vítima da enfermidade, reclamam da demora para conseguir um leito de unidade de terapia intensiva (UTI). Ontem, Edilson Neves, 50 anos, avô das gêmeas siamesas Mel e Lis, recebeu as últimas homenagens ao falecer devido à covid-19.
Com os novos registros, o DF chegou a 126.069 infectados e 1.608 óbitos. A Secretaria de Saúde considera que 106.419 pacientes (84%) estão recuperados da covid-19, portanto, há 19.650 casos ativos. A pasta contabiliza a morte de 154 pessoas que moravam em outras unidades da Federação, mas morreram em hospitais do DF.
Ceilândia continua como a região administrativa de maior incidência da doença. No total, a cidade tem 15.754 infectados. Em seguida, aparecem Plano Piloto, com 10.194 notificações, e Taguatinga, com 9.401. Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) (63), Fercal (79) e Varjão (185) são as localidades com a menor quantidade de confirmações.
O crescimento diário de casos afeta diretamente a disponibilidade de UTIs exclusivas para pacientes com a covid-19. Levantamento mais recente da Secretaria de Saúde mostra que 77% do sistema da rede pública estava preenchido ontem. Ao todo, são 548 pacientes e 752 leitos. Na rede privada, a sobrecarga é maior, e a taxa de ocupação chega a 92%. Há 259 internações para 287 vagas.
Atendimento
A morte de um advogado de 41 anos, provocada pelo novo coronavírus, resultou em conflito entre familiares e o sistema de saúde da capital. Eduardo Passos dos Santos ficou internado no Hospital Regional de Ceilândia (HRC) por 10 dias, quando apresentou piora do quadro clínico na terça-feira da semana passada. Ele precisou ser transferido para uma UTI, mas, segundo parentes, o procedimento demorou mais de 12 horas, o que teria sido decisivo para o desfecho fatal.
Ao Correio, Luciana Lopes, 40, mulher de Eduardo, contou que não havia disponibilidade na UTI do HRC, e a vítima esperou por uma vaga em outra unidade de saúde do DF. O advogado, segundo a mulher, aguardou das 21h50 de terça-feira até as 11h do dia seguinte para ser transferido ao leito da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante. Ele deu entrada no local, entretanto, não resistiu.
“Tentei de tudo para realizar a transferência dele o mais rápido possível, liguei para colegas, conhecidos e hospitais de Brasília. Porém, não adiantou de nada”, lamenta Luciana. Além disso, a mulher reclama da falta de transparência em relação ao estado de saúde do marido. “Nós não conseguíamos saber o quadro dele, se estava melhorando ou piorando, foi uma confusão”, queixa-se.
Além da demora para a transferência entre unidades de saúde, Luciana informou que o advogado não tinha comorbidades — outras doenças que agravam os sintomas da covid-19. Segundo ela, Eduardo não fumava, não bebia, nem tinha diabetes, colesterol alto ou asma.
Entretanto, a informação é contestada pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF), responsável pela gestão dos leitos de UTI na capital federal. Em nota, o Iges/DF informou que Eduardo era obeso, hipertenso e diabético e chegou em estado grave à UPA do Núcleo Bandeirante. Segundo o órgão, ele recebeu toda a assistência médica, com suporte necessário, mas, após a solicitação de outra vaga de UTI com suporte dialítico, o paciente morreu. Ainda segundo o texto divulgado pelo Iges/DF, “a fila da regulação de leitos é controlada pela Secretaria de Saúde do DF, e atende de acordo com parâmetros técnicos de gravidade e tipo de leito. Os pacientes que chegam são devidamente classificados e atendidos.”
A Ordem dos Advogados do Brasil — Seccional Distrito Federal (OAB/DF) lamentou a morte de Eduardo e cobrou informações sobre o caso, “com o objetivo de apurar a real situação da saúde no estado em face da pandemia”. O advogado deixou a mulher, com quem era casado havia nove anos e meio, e um bebê, de 1 um mês.