Para quem sofre com hérnia de disco, a dor pode ser paralisante. Em alguns casos, a cirurgia se faz necessária para garantir qualidade de vida ao paciente. Desenvolvida na Coreia do Sul, a intervenção endoscópica de coluna é uma das apostas para minimizar os riscos cirúrgicos e proporcionar uma recuperação mais rápida. A técnica, que já é utilizada em outros países, tem ganhado força no Brasil nos últimos anos. Em Brasília, o procedimento começou a ser aplicado na rede particular e, no mês passado, chegou aos pacientes da rede pública de saúde.
A primeira cirurgia em hospital público utilizando essa técnica ocorreu no mês passado, no Hospital da Região Leste, localizado no Paranoá, unidade da rede pública considerada referência no tratamento ortopédico. O procedimento piloto foi realizado por Breno Frota, médico ortopedista especialista em cirurgia da coluna. Ele viajou a Seul, capital da Coreia do Sul, para especializar-se no método. “Saí daqui sabendo que poderia trazer essa realidade para a rede pública. Poder ajudar as pessoas, que não têm condições de pagar por esse tipo de procedimento”, ressalta o profissional ao Correio.
A cirurgia menos invasiv é feita por um corte de menos de um centímetro na pele, próximo à lesão da hérnia. “Pela incisão de 0,8 centímetro utilizamos um sistema de dilatadores para colocar uma cânula (tubo) de trabalho. Através dela é colocado o aparelho de endoscopia, conectado a uma câmera de vídeo e fonte de luz, permitindo visualização da cirurgia através do monitor. Com isso, é possível tirar o fragmento de disco que causa a dor no paciente”, explica.
Segundo Breno, em comparação ao procedimento tradicional, essa técnica é mais rápida, tem menos sangramento e menos riscos de infecção ao paciente. “Um outro ponto positivo é a possibilidade da anestesia local, o que permite ao paciente ficar consciente durante toda a cirurgia. Isso garante menos risco de lesão no nervo e dá mais segurança em todo o processo.”
A primeira cirurgia endoscópica de coluna na rede pública decorreu de uma demanda na emergência. “Recebemos uma paciente que chegou com urgência no pronto-socorro. Ela sentia muita dor que irradiava para a perna, e não tinha mais força na perna direita. Fizemos os exames e era hérnia de disco. Falei com a direção do hospital e expliquei que dava para fazer com esse procedimento. E, como tinha o equipamento, fui autorizado a fazer”, relata. O resultado positivo gerou um novo parâmetro para o serviço ofertado pelo Hospital da Região Leste.
Gratificante
Para ele, foi gratificante realizar esse procedimento na rede pública. “Foi melhor do que o esperado, e vimos que é totalmente possível. O meu intuito é que isso possa se tornar algo rotineiro para os casos que necessitam desse tipo de procedimento” ressalta o médico. “O diretor do hospital aprovou, e a Secretaria de Saúde mostrou-se interessada em dar seguimento. Precisamos de material na rede pública; o equipamento que temos é o meu pessoal”, pontua. Porém, apesar da falta do equipamento, ele reforça que vai continuar disponibilizando o aparelho para o atendimento aos pacientes. “Tem todo o processo licitatório, e isso demora.” Com a aquisição do material, Breno ressalta que será possível treinar novos profissionais para atuar com a técnica e ampliar o fluxo no atendimento a esses pacientes.
De acordo com o profissional, cerca de 80% do atendimento no pronto-socorro são de pacientes com dor na lombar, relacionados a diversos fatores. Nem todos têm indicação de cirurgia; e esse procedimento só é feito quando o tratamento convencional, como fisioterapia, remédios e acupuntura, não funciona. “Depende de cada caso, tem que ser avaliado por um profissional antes”, alerta.
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal tem o intuito de maximizar essa técnica na rede pública, principalmente no Hospital da Região Leste, unidade referência para esse tipo de tratamento. Em nota, a pasta informou que já adiantou alguns dos processos de compra de materiais e estruturas para o fortalecimento do serviço de coluna do hospital. A expectativa é de colocar o serviço à disposição da população durante todos os dias da semana. A unidade só atende a esse tipo de especialidade, de segunda a sexta-feira.
Ruptura
A hérnia de disco é quando há uma ruptura do disco vertebral, que pode comprimir o nervo, resultando em dor, dormência ou fraqueza nos braços ou nas pernas. A faixa etária que mais tem incidência é de 20 a 40 anos. Os principais fatores ligados são: a genética, o sedentarismo e o sobrepeso, além da má postura da coluna.
“Um outro ponto positivo é a possibilidade da anestesia local, o que permite ao paciente ficar consciente durante toda a cirurgia”
Breno Frota, médico ortopedista
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Procedimento indolor e de rápida recuperação
Para o advogado Roani Pereira do Prado, 39 anos, a cirurgia na coluna pela técnica endoscópica representou melhora de vida. “Era uma dor constante, nada funcionava, nem os remédios fortes, nem a fisioterapia e nem a infiltração. Cheguei a parar no pronto-socorro oito vezes de tanta dor. Só quem tem hérnia de disco sabe, é uma dor que irradia e vai até o pé. Não conseguia fazer nada”, conta o morador de Samambaia, que, mesmo com o tratamento convencional, só conseguiu aliviar o problema.
Ele realizou a cirurgia na rede particular, em meados de maio. “Depois da cirurgia, consegui dormir e trabalhar melhor. Até brinquei com o doutor, que, se eu soubesse, teria feito o procedimento antes”, relata. Ele explica que sofria com a hérnia havia um ano. Ao longo dos meses, a dor foi aumentando, até tornar-se insuportável. Em relação à cirurgia, Roani sentiu-se mais aliviado por ser menos invasiva.
Dor intensa
No caso da Aparecida Fabiana Loiola Silva, 39, a hérnia de disco apareceu de repente e com dor intensa, que paralisou as duas pernas. “Eu estava me arrumando para ir ao trabalho quando senti uma dor muito forte. Minhas pernas perderam a força e precisei ficar deitada durante um bom tempo na cama. A minha sorte é que não estava dirigindo na hora, senão teria me envolvido em um acidente”, relata.
Foram dois meses de espera até a realização da cirurgia na rede particular. “Era uma dor que eu não conseguia dormir, Foi um processo muito sofrido”, afirma. Atualmente, ela tem uma vida bem melhor. “Foi fantástico. A cicatriz é minúscula, nem parece que fiz uma cirurgia”, conta Aparecida, que segue com tratamento de fisioterapia e acupuntura para reforçar a melhora na recuperação.
Para o médico ortopedista cirurgião de coluna vertebral Tadeu Gervazoni Debom, que atua na rede particular do Distrito Federal, a cirurgia de endoscopia de coluna é a técnica do futuro. “Daqui a alguns anos, vai substituir o procedimento convencional”, destaca. Na rede privada, apenas o procedimento, sem as custas médicas, custa em torno de R$ 15 mil.