Moradores Lago Norte relatam acidentes com carrapatos

Capivaras têm surgido em áreas urbanas do bairro e deixado parasitas por onde passam: é preciso ter cuidado com a doença do carrapato

Jaqueline Fonseca
postado em 10/08/2020 16:32 / atualizado em 10/08/2020 16:39
Capivaras próximo ao Lago Paranoá no Lago Norte -  (crédito: Raíssa Magalhães)
Capivaras próximo ao Lago Paranoá no Lago Norte - (crédito: Raíssa Magalhães)

Moradores do Lago Norte relatam que as capivaras invadiram a área urbana do bairro. Elas passeiam livremente entre os jardins e gramados residenciais, especialmente nas quadras mais próximas ao Lago Paranoá, da QL 13 a QL 15. A presença das capivaras em si não é um risco, mas os carrapatos que elas trazem e deixam por onde passam podem representar uma ameaça à população.

A publicitária Maria Luisa Cunha, 32 anos, que mora na Asa Norte, foi até a casa da mãe, que fica na QL 15, acompanhada do marido e do filho de 4 anos. A visita terminou com três das quatro pessoas mordidas por carrapatos. Embora isso nunca tivesse acontecido antes, a família optou por não ir ao médico - em função da pandemia - e tratou a ferida com pomada por cinco dias até os sintomas de coceira e vermelhidão reduzirem. “A gente brincou no quintal e dormiu lá. No dia seguinte encontrei os carrapatos nos três porque estávamos nos coçando demais. Tirei os bichos com álcool, igual se faz com cachorro, e já comecei a aplicar a pomada neles”, disse Maria Luísa ao Correio.

Ela também explica que sempre frequentou a região do Lago Norte, áreas verdes como o Parque das Garças e o próprio Lago Paranoá, mas nunca os carrapatos foram tantos como agora.

Natalia Dominici Jangola, 34 anos que mora na QI 11 do Lago Norte, também foi mordida por carrapatos. A produtora de audiovisual percebeu, um dia, depois de visitar uma área verde que acessa o Lago Paranoá, uma picada na cabeça. Ao observar com mais atenção notou a presença de um carrapato no pescoço. Ela arrancou o parasita sem nenhum instrumento, passou álcool e observou se haveria manifestação de febre, o que não aconteceu. Ela também tem um gato e, embora ele não tenha sido mordido, a presença dos carrapatos gera temor. “Fico um pouco preocupada, por conta das doenças, né?”

O veterinário Ricardo Guerra explica que a situação é gravíssima porque o carrapato da capivara é mais nocivo do que o comumente percebido em cães de estimação. “É um carrapato diferente do carrapato do cachorro, mas pode parasitar os cães e, principalmente, o humano. Esse carrapato transmite uma bactéria rickettsia que parasita as hemácias provocando severa anemia de rápida progressão podendo levar à morte, alguns quadros necessitam até de transfusão sanguínea”, garante.

No Centro Integrado de Medicina Veterinária do Lago Norte, a veterinária Camilla Fagundes Beccon relata que está tratando um cachorro que teve uma das doenças provocadas pelo carrapato e, no caso do animal, foi necessária a transfusão. Ela diz ainda que tem percebido um crescimento de pets que aparecem mordidos. “Aumentou o número de animais com picada de carrapato, principalmente os que têm acesso a regiões do lago. Se pegam a doença do carrapato, apresentam febre, dores articulares, coceira na região da picada”, avisa médica veterinária.

Camilla Beccon recomenda que os tutores que forem caminhar com seus pets em regiões comumente frequentadas pelas capivaras passem repelente no animal e, caso seja percebida a presença de carrapatos, o animal seja levado ao veterinário para correta retirada dos parasitas.

Riscos para o homem

O médico dermatologista Joaquim Xavier esclarece que o parasita pode ser altamente perigoso também para os humanos. “Geralmente o risco maior é de infecção local, por abrir uma porta de entrada para contaminação com bactérias. Existe uma doença chamada febre maculosa que pode ser transmitida pelo carrapato, mas é de ocorrência mais rara e é acompanhada de outros sintomas pós-picada como febre maior que 39 graus, calafrios de início súbito, dor de cabeça, náuseas e vômitos, entre outros sintomas. Na pele podem aparecer manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos. Essa doença pode acontecer no período entre 2 e 14 dias após a picada. É mais comum na região Sudeste.”

A família mordida pelos carrapatos apresentou apenas sintomas leves, o que, segundo o médico, é mais frequente. “Eles devem ter tido só uma reação local à picada do carrapato sem maiores complicações que é o mais comum”, diz o dermatologista.

O Instituto Brasília Ambiental (IBRAM) disse, em nota, que não existem casos confirmados da febre maculosa no Distrito Federal e que ainda não foi detectado o agente contaminante da doença por aqui. O Ibram esclareceu ainda que a capivara é um animal nativo da região, portanto, a presença dela é esperada, especialmente próximo ao Lago Paranoá. “A capivara é o maior roedor do mundo e se alimenta basicamente de gramíneas. Ela pode se alimentar também de cultivos agrícolas em propriedades próximas ou às margens de rios, córregos ou lagos. Portanto, entendemos que cabe aos proprietários das terras próximas a estes locais, que se sentem incomodados com a presença desses animais, providenciarem o cercamento de suas áreas impedindo que haja essa visitação indesejada.”

Pressão humana sobre o espaço do animal

A presença das capivaras não é novidade mas Natalia Dominici Jangola considera que desta vez os animais avançaram mais. “Eu notei que depois da obra da ponte do Bragueto aumentou mais. Elas estão mais próximas. Todo lugar que você vê tem na beira do lago, nessas quebrinhas, tá cheio de cocô, elas estão mais perto”, disse a moradora da região.

O biólogo Mateus de Sousa explica que as obras podem ter afugentado os animais para áreas mais calmas por causa do barulho, além da aglomeração de pessoas e máquinas que as construções podem gerar. Ele explicou ainda que a convivência entre as capivaras e os homens pode ser pacífica já que são animais mansos. “Há sim a relação de que a pressão e avanço urbano possam diminuir o espaço delas e aumentar o nosso nível de contato com elas. Elas são inofensivas, desde que respeitemos o espaço delas. Então não precisa atacá-las e não seremos atacados. Elas vão nos evitar, mas se sentirem ameaçadas (filhotes ou encurraladas) elas podem acabar se defendendo” destacou.

Confira a nota do IBRAM na íntegra:
O Instituto Brasília Ambiental informa que a capivara é uma animal nativo, habitando quase todos os biomas brasileiros, portanto é uma espécie protegida por lei, assim como todos os outros animais da fauna nativa. Ela está sempre associada a locais úmidos, como rios, córregos, lagoas, açudes, lagos naturais ou artificiais, pântanos. Está presente também em áreas urbanas onde encontram condições favoráveis ao seu estabelecimento territorial.

Em meio urbano não existe o predador natural, as onças, o que contribui para o crescimento significativo de suas populações, porém a oferta de alimento também é um fator limitante para o aumento número de indivíduos no geral. Às vezes várias espécies se aparecem em diversos ambientes, mas se não houver alimento suficiente disponível, os animais, certamente, não irão se estabelecer.

A capivara é o maior roedor do mundo e se alimenta basicamente de gramíneas. Ela pode se alimentar também de cultivos agrícolas em propriedades próximas ou às margens de rios, córregos ou lagos. Portanto, entendemos que cabe aos proprietários das terras próximas a estes locais, que se sentem incomodados com a presença desses animais, providenciarem o cercamento de suas áreas impedindo que haja essa visitação indesejada.

Quanto à disseminação de doença, o fato do carrapato estrela ser hospedeiro frequente nas capivaras, ainda não foi detectado o agente contaminante para a febre maculosa. Segundo relatório da Secretaria de Saúde, ainda não existem casos confirmados da febre maculosa para o Distrito Federal.

Na oportunidade, informamos ainda que um dos compromissos do Ibram é deixar a população bem informada quanto a questão da convivência harmônica entre humanos e animais silvestres, uma vez que tratamos de todos os assuntos pertinentes à fauna silvestre com o foco também na saúde pública.

 

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