Após três meses, a Secretaria de Justiça e Cidadania do DF (Sejus) encerrou o programa social Sua Vida Vale Muito — Hotelaria Solidária, que atendia idosos de baixa renda que comprovaram apresentar condições inadequadas de moradia durante a pandemia. Sem a hospedagem no Brasília Palace, os contemplados no projeto, todos do grupo de risco do novo coronavírus, retornam para casa, mesmo quando Brasília enfrenta o pico da pandemia. A pasta informou que a iniciativa estava prevista para durar até 90 dias e contava com a capacitação e a orientação dos participantes sobre a doença, possibilitando o retorno para casa.
Publicado no Diário Oficial do DF (DODF), em 20 de abril, o programa requisitava para participação ter 60 anos ou mais; residir no DF; morar em domicílio onde não fosse possível o isolamento domiciliar e/ou estar compartilhando moradia com pessoas infectadas ou suspeitas de infecção pelo coronavírus. Os contemplados também precisavam estar enquadrados na situação de baixa renda e cadastrados nos programas sociais do governo.
Quando os idosos chegaram ao Brasília Palace, a capital registrava 959 casos confirmados da covid-19. Hoje, são 100 mil diagnósticos positivos e, entre os 1220 infectados que não resistiram às complicações do novo coronavírus, 878 tinham mais de 60 anos.
Até 90 dias
Por meio da assessoria de imprensa, a Sejus, responsável por coordenar a iniciativa, informou que o programa social em questão foi planejado e estruturado para durar até 90 dias, “porque todo programa de governo precisa de uma data de início e finalização, para que seja possível destinar o orçamento necessário a executá-lo”. À justificativa, a pasta acrescentou o fato de não haver uma data certa para o fim da pandemia.
Ao contrário de ações que oferecem hospedagens para profissionais da saúde e segurança, a Sua Vida Vale Muito buscou propiciar aos idosos em condição de vulnerabilidade instrução sobre a atual situação vivida pela sociedade, com capacitação e orientação sobre a doença, possibilitando o retorno aos lares de uma forma mais segura. Neste sentido, durante os meses de hospedagem, os contemplados foram orientados sobre a importância do uso da máscara, da higienização das mãos e do distanciamento social, bem como manter as recomendações após o retorno.
“O atendimento foi personalizado, e criamos dois produtos para essa orientação após o desligamento: o Caderno e a Caderneta do Idoso. No caderno, mapeamos os equipamentos públicos que podem ser acessados por eles em sua região, como os Centros de Convivência do Idoso, os Centros Olímpicos, as unidades públicas de saúde. A caderneta do Idoso foi ainda mais distinta, pois nós dividimos os idosos por regiões administrativas e a preenchemos orientando essas pessoas a buscarem serviços oferecidos próximos as suas residências, de modo que pudessem continuar com uma rotina saudável, como as atividades físicas realizadas durante o período de permanência no hotel”.
Investimento e ocupação
Ao todo, o DF tem uma população idosa de 303 mil habitantes, sendo que 14 mil vivem em condições de vulnerabilidade para a covid-19. A estimativa do programa Sua Vida Vale Muito — Hotelaria Solidária era disponibilizar até 300 hospedagens por 90 dias, ao custo de R$ 100 a diária (incluindo quatro refeições e os serviços de hotelaria). Um investimento previsto em de R$ 2,7 milhões.
Questionada se todo o valor estimado foi empenhado no projeto, a pasta informou que não. “Foi feita uma estimativa do valor máximo que poderia alcançar pela ocupação integral, por todos os dias, durante esse período de três meses. Nós iniciamos com capacidade máxima, e chegamos a atender 330 idosos no hotel, mas no decorrer do programa, questões pessoais fizeram com que alguns idosos pedissem esse desligamento. Realizamos cinco chamamentos após isso, mas por segurança, para não comprometer a saúde dos demais idosos que permaneciam, já não cabia mais fazer novas convocações”.
Um dos hotéis mais tradicionais da capital
“Considero simbólico que o hotel mais antigo de Brasília tenha sido usado para salvar as vidas dos brasilienses idosos no aniversário de 60 anos da cidade”, diz Paulo Octavio, que, no final de março, ofereceu a unidade hoteleira ao governador do DF, Ibaneis Rocha.
De acordo com informações da Rede Plaza Brasília, toda a capacidade do Brasília Palace, com 150 quartos para duas pessoas, foi disponibilizada ao convênio. Um total de 10.336 diárias, a maioria com duas pessoas no apartamento, foram utilizadas. Ao todo, o valor gasto pelo GDF durante a vigência do contrato foi de R$ 1.952.566. “Os custos excedentes foram de responsabilidade do hotel, que não teve lucros durante a cessão”.