Recentemente, o Brasil introduziu mudanças significativas no crédito consignado para trabalhadores do setor privado. A Medida Provisória nº 1.292/2025, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, busca oferecer condições mais vantajosas para o acesso ao crédito. A principal inovação é a possibilidade de usar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a multa rescisória como garantias, o que pode facilitar a quitação de dívidas de forma mais segura.
O mercado de crédito consignado privado, que atualmente tem um saldo de R$ 39,7 bilhões, pode experimentar um crescimento expressivo nos próximos anos. A expectativa é que o saldo total possa atingir R$ 120 bilhões, refletindo a confiança no potencial do novo modelo. No entanto, especialistas advertem que essa medida, embora promissora, não resolverá todos os desafios do setor financeiro.
Estrutura do novo modelo de crédito consignado
Uma das principais características do novo modelo é a integração com plataformas digitais, como o eSocial e a Carteira de Trabalho Digital. Isso permitirá que os trabalhadores acessem ofertas de crédito diretamente de instituições financeiras, promovendo maior concorrência e transparência no mercado.

As parcelas do empréstimo serão descontadas diretamente da folha de pagamento, com um limite de 35% do salário do trabalhador. Além disso, até 10% do saldo do FGTS e a totalidade da multa rescisória podem ser utilizados como garantias, o que pode ajudar a reduzir a inadimplência. No entanto, o modelo ainda enfrenta desafios, como a alta rotatividade no mercado de trabalho.
Implementação do novo sistema de crédito
A implementação do novo sistema de crédito consignado será feita em fases. A partir de março de 2025, tanto bancos públicos quanto privados estarão aptos a oferecer essa nova linha de crédito. Em abril, será possível migrar empréstimos consignados já existentes para o novo modelo. A portabilidade entre diferentes instituições financeiras começará em junho, e em julho, as garantias através do eSocial estarão disponíveis.
Nos primeiros meses, o foco será a quitação de empréstimos não consignados, incentivando a adesão ao novo sistema. Esta transição visa tornar o crédito consignado mais acessível e vantajoso para os trabalhadores do setor privado.
Impactos no setor financeiro
O novo modelo de crédito consignado tem o potencial de aumentar a competição entre as instituições financeiras, eliminando a necessidade de acordos exclusivos entre bancos e empresas. Isso deve facilitar o acesso ao crédito para um número maior de trabalhadores.
Além disso, a nova modalidade pode substituir empréstimos pessoais, que geralmente têm taxas de juros mais altas e maior risco, por uma opção mais segura e com juros reduzidos. Estima-se que entre 45 a 50 milhões de trabalhadores formais poderão se beneficiar, com a possibilidade de mais de 15 milhões de novos contratos no primeiro ano.
Desafios e perspectivas futuras
Embora o potencial de crescimento seja grande, os bancos precisarão adotar estratégias eficazes para conquistar participação nesse novo mercado. Atualmente, instituições como Santander e Itaú dominam o segmento de crédito consignado privado, mas a nova concorrência pode mudar essa dinâmica.
Bradesco e Banco do Brasil, que têm menor participação nesse mercado, possuem espaço para expandir suas operações. No entanto, existe o risco de que o novo crédito consignado acabe canibalizando o mercado de crédito pessoal, especialmente em bancos com grandes carteiras desse tipo de empréstimo.
Em suma, a regulamentação do crédito consignado privado oferece uma oportunidade de inovação e crescimento no mercado financeiro brasileiro. Com uma implementação cuidadosa e estratégias bem definidas, o setor pode se beneficiar significativamente, proporcionando aos trabalhadores acesso a crédito mais acessível e seguro.