Recentemente, uma equipe de pesquisadores da Itália e da Escócia alegou ter identificado uma vasta rede de estruturas subterrâneas sob o planalto de Gizé, onde se encontram as três maiores pirâmides do Egito. Utilizando uma técnica de radar de alta frequência, semelhante às usadas para mapear o fundo do mar, os cientistas afirmam ter mapeado formações a quase dois mil metros de profundidade.
As imagens obtidas teriam revelado oito pilares enterrados sob a Pirâmide de Quéfren, além de poços cilíndricos e câmaras cúbicas. Segundo os pesquisadores, o conjunto seria cerca de dez vezes maior do que as próprias pirâmides, com múltiplos níveis e túneis interligados. A descoberta foi inicialmente apresentada em um artigo publicado em 2022 e voltou a ganhar destaque após uma apresentação recente na Itália.
Quais são as implicações das descobertas?
Os autores do estudo sugerem que as estruturas poderiam estar relacionadas às míticas “Salas de Amenti”, descritas na tradição egípcia como um reino lendário abaixo da terra. Além disso, eles propõem que haveria pontos de acesso subterrâneo sob as três pirâmides, indicando uma conexão física entre elas por meio de túneis e câmaras.
Se comprovadas, essas descobertas poderiam redefinir o entendimento sobre a função e a construção das pirâmides. A hipótese de que as pirâmides poderiam ter sido construídas como câmaras de ressonância gigantes, com a função de serem preenchidas com água para gerar vibrações de baixa frequência, também foi levantada pelos pesquisadores.

Por que a descoberta gera controvérsia?
Apesar do interesse gerado, a comunidade científica tem recebido a hipótese com ceticismo. Críticos, como o egiptólogo Zahi Hawass, afirmam que as técnicas empregadas pelos autores do estudo não são cientificamente reconhecidas. Ele destaca que a alegação de uso de radar no interior da pirâmide é falsa e que as declarações feitas carecem de base científica.
Outro especialista, Lawrence Conyers, aponta que os equipamentos atuais não têm capacidade para produzir imagens confiáveis a profundidades tão extremas como as alegadas. No entanto, ele reconhece que câmaras menores poderiam, em tese, existir sob a área, dada a importância simbólica do local para as antigas civilizações.
Qual é o status científico da pesquisa?
O estudo que embasa a descoberta não foi revisado por pares, um processo essencial para a validação científica. Além disso, a interpretação proposta pelos autores se afasta de explicações convencionais e não encontra respaldo em pesquisas arqueológicas consolidadas.
A ausência de escavações, a falta de validação externa e a apresentação dos dados fora de publicações especializadas contribuíram para o ceticismo. Apesar disso, o estudo despertou interesse internacional e reacendeu discussões antigas sobre a possibilidade de estruturas ocultas sob o planalto de Gizé.
Para a ciência, a existência de uma cidade subterrânea abaixo das pirâmides do Egito permanece, por ora, apenas como uma especulação não comprovada. A investigação continua, e somente escavações controladas poderão confirmar ou refutar essas alegações intrigantes.