No fundo dos oceanos, nas profundezas de cavernas e até mesmo enterrados no solo, existem criaturas que desafiam os limites da vida ao sobreviver em ambientes totalmente desprovidos de luz. Esses animais vivem em um mundo de escuridão, onde a visão muitas vezes se torna desnecessária e outros sentidos são refinados para garantir sua sobrevivência. Alguns animais desenvolvem corpos translúcidos ou despigmentados, já que a coloração não tem utilidade na ausência de luz.
Outros aprimoram sentidos como tato, audição e olfato para explorar o ambiente ao redor. Há ainda aqueles que contam com simbiontes para obter nutrientes ou que evoluíram estratégias de caça altamente especializadas. Confira a seguir alguns exemplos de animais que vivem no escuro e suas incríveis adaptações para sobreviver nestes ambientes.
Peixe-cego Mexicano: como ele sobrevive sem luz?
O peixe-cego mexicano (Astyanax mexicanus), também chamado de tetra-cego, é um peixe de água doce que apresenta duas formas distintas: uma de superfície, com olhos funcionais e coloração prateada, e outra subterrânea, que evoluiu em cavernas e apresenta um olho vestigial. A forma cavernícola desse peixe possui características adaptativas notáveis, como a ausência de pigmentação, tornando-o translúcido ou esbranquiçado, além da degeneração dos olhos durante o desenvolvimento.
Para compensar a cegueira, ele desenvolveu um sistema sensorial apurado por meio da linha lateral, que permite detectar vibrações e mudanças na pressão da água, facilitando a navegação e a busca por alimento em ambientes escuros e com escassez de recursos. Por conta dessa fascinante característica, o Astyanax mexicanus é utilizado em estudos sobre distúrbios visuais humanos, como a degeneração da retina, tornando-se um modelo para compreender a evolução e a plasticidade genética dos organismos.
Quais são as adaptações do peixe diabo-negro?
O peixe diabo-negro (Melanocetus johnsonii) é um predador impressionante da zona de escuridão do oceano. Vivendo a mais de 1.000 metros de profundidade, onde a luz solar não alcança, ele se destaca por sua aparência assustadora. Com dentes longos e uma boca capaz de engolir presas quase do seu próprio tamanho, seu estômago é extremamente flexível, possibilitando ingerir grandes quantidades de comida de uma vez, garantindo reservas para longos períodos sem alimento.

Para sobreviver nesse ambiente extremo, ele desenvolveu adaptações impressionantes, como um corpo escuro e flácido, que o ajuda a se camuflar na escuridão. Sua característica mais marcante é a presença de um filamento bioluminescente, chamado ilício, que se projeta da cabeça e atrai presas ao emitir luz por meio de bactérias simbióticas. Esse mecanismo permite que o diabo-negro cace sem gastar energia perseguindo suas vítimas, uma estratégia essencial em um ambiente com poucos alimentos.
Caranguejo-Yeti: vida nas profundezas oceânicas
O caranguejo-yeti (Kiwa hirsuta) é um crustáceo descoberto em 2005 nas profundezas do Oceano Pacífico, próximo às fontes hidrotermais. Ele vive a mais de 2000 metros de profundidade, em um ambiente extremo sem luz solar e com temperaturas variando drasticamente devido às emissões químicas das fendas oceânicas. Uma de suas características mais marcantes são as pinças cobertas por cerdas semelhantes a pelos, que abrigam colônias de bactérias quimiossintetizantes.
Essas bactérias ajudam a converter os compostos químicos liberados pelas fontes hidrotermais em energia, fornecendo uma fonte alternativa de alimento para o caranguejo, que pode raspá-las e ingeri-las. Além dessa relação simbiótica, o Kiwa hirsuta possui olhos reduzidos e não funcionais, então para se orientar e detectar presas ou perigos, ele depende de suas longas antenas e de sensores táteis e químicos espalhados pelo corpo. Sua coloração esbranquiçada também é um resultado da ausência de luz, pois não há necessidade de pigmentação para camuflagem.
Isópode-Gigante: sobrevivendo nas profundezas
O isópode-gigante (Bathynomus giganteus) é um dos maiores isópodes conhecidos, podendo atingir mais de 50 cm de comprimento. Habita as regiões abissais do oceano, geralmente entre 500 e 2.500 metros de profundidade, onde a comida é extremamente escassa e a pressão é altíssima. Seu formato achatado e sua rígida carapaça o protege de predadores e do ambiente hostil.
O isópode-gigante é um necrófago, o que significa que se alimenta de carcaças de peixes e mamíferos marinhos que afundam até o leito oceânico. Para sobreviver, possui um metabolismo extremamente lento e pode ficar meses sem se alimentar. Seu tamanho avantajado é um exemplo do fenômeno conhecido como gigantismo abissal, comum em invertebrados que vivem nas profundezas.
Grilo-das-Cavernas: explorando o subterrâneo
O grilo-das-cavernas, pertencente à família Rhaphidophoridae, é um inseto adaptado a ambientes subterrâneos onde a umidade e escuridão predominam, como cavernas, túneis e fendas em rochas. Esses grilos possuem pernas traseiras muito longas e antenas extremamente compridas, que os ajudam a se locomover e explorar o ambiente ao redor, mesmo sem depender da visão.
Muitas espécies dessa família têm olhos reduzidos ou ausentes, já que vivem em locais onde a luz é praticamente inexistente. Como compensação, desenvolveram um sistema sensorial apurado, usando suas antenas para detectar obstáculos, vibrações e a presença de outros organismos. Como vivem em locais onde a comida é escassa, os grilos-das-cavernas são oportunistas, alimentando-se de matéria orgânica em decomposição, fezes de morcegos e até mesmo de outros insetos.