Matéria escrita por Gabriella Collodetti, jornalista do CB Brands, estúdio de conteúdo do Correio Braziliense
No final do mês de abril, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) lançou a página Crédito Consciente com o objetivo de apoiar os empreendedores na tomada de decisões antes de acessar empréstimos. No site, é possível realizar uma jornada que desperta a necessidade de fazer uma leitura mais profunda e análise dos dados financeiros dos empreendimentos. Após ampliar a consciência e segurança empresarial na obtenção de um financiamento, a entidade conduz os empresários para as instituições financeiras.
""A partir do apoio oferecido pelo Sebrae ao longo de todo o processo de tomada de crédito, o empreendedor será capaz de compreender a importância de se capacitar e qualificar sua equipe de modo a alcançar uma gestão mais profissional dos recursos financeiros da empresa. O Sebrae quer ajudar esses empresários a se apropriarem da cultura do planejamento financeiro, recurso que vai proporcionar mais segurança e consciência sobre o seu negócio. E isso vai ajudar a tomar medidas mais assertivas"." Décio Lima, presidente do Sebrae
Com o Fundo de Aval para Micro e Pequenas Empresas (Fampe), o Sebrae entrará como avalista de até 80% da garantia do valor total do empréstimo, isto é, se responsabilizará pelo pagamento do financiamento realizado. Segundo a entidade, isso significa que, com o aporte de R$ 2 bilhões feito no fundo, serão garantidos R$ 30 bilhões de crédito para os pequenos negócios em todo o país nos próximos três anos. A expectativa, com o projeto, é atender um milhão de pequenos negócios.
Na avaliação de Décio, a iniciativa oferece mais segurança para a contratação de crédito justamente por se tratar de uma ação assistida e orientada. Ele explica que o empreendedor, que é a base da economia brasileira, terá todo o suporte da entidade por meio do programa. "A nossa atuação, concedendo o aval, é justamente facilitar, estender a mão e apoiar o empreendedor", destaca. Nesse contexto, o presidente ressalta que os empresários são protagonistas na distribuição de renda no país e, por isso, precisam de cidadania financeira.
"Com essa iniciativa, o Sebrae cumpre com sua missão de promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável das micro e pequenas empresas, fomentando o empreendedorismo para fortalecer a economia nacional", diz. “Paralelamente, o Sebrae vai continuar fazendo o trabalho que tem realizado incansavelmente ao longo dos seus mais de 50 anos de existência: oferecer cursos, treinamentos, consultorias e toda forma de conteúdo possível para permitir que os donos de pequenos negócios se qualifiquem ao longo de toda a jornada do empreendedorismo”, complementa.
Como funciona?
O Sebrae fez uma grande articulação com todos os bancos públicos e privados, associações de crédito e agências de fomento para oferecer o maior programa de crédito da história da entidade. Esforço de todo o Sistema Sebrae, em todos os estados, por meio do fundo de aval, o empreendedor passará a ter crédito assistido e orientado. "Vamos pegar na mão deste pequeno empreendedor, que precisa deste apoio para sair da situação de endividamento", indica Décio.
Na prática, o diferencial da plataforma é a assessoria técnica – com ferramentas como com uma calculadora – que traz o crédito assistido, que vai evitar que o empreendedor caia no endividamento. Por isso, a decisão da tomada de crédito será consciente. O empreendedor avaliará os seus custos e as suas expectativas de faturamento. Para ajudar nessa tarefa, o Sebrae tem todas as ferramentas por meio do portal Crédito Consciente, que traz apoio na hora de organizar as finanças e até de decidir por um empréstimo, se for o caso.
O microempreendedor deve procurar o Sebrae em seus mais de 4,5 mil pontos de atendimento espalhados em quase todos os municípios brasileiros, onde será possível obter informações de como acessar o crédito e orientações para os mais diversos setores da economia e, desta forma, poderá escalar o negócio e proteger o espírito empreendedor do brasileiro.
Na avaliação do presidente, é um grande momento para que esta base da economia brasileira, hoje representada pelos pequenos negócios – que são 95% das empresas brasileiras, 30% do Produto Interno Bruto (PIB), geram 8 de cada 10 empregos do país –, possa atuar, crescer, gerar mais oportunidades e inclusão. "São brasileiros e brasileiras que acordam e geram riquezas nas suas cidades e bairros, que garantem sua própria sobrevivência", informa.
Acredita Brasil
O presidente do Sebrae ressalta a importância do momento que o Brasil está vivendo na área econômica. "Iniciamos 2023 com uma previsão de crescimento do PIB de 0,9% e terminamos o ano com quase 3%. O Brasil contabilizou o maior superávit da balança comercial. Os dados positivos na geração de empregos são o retrato deste novo momento, que tem o presidente Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin na liderança do país", informa.
É neste cenário que o governo federal lançou o Acredita Brasil, do qual o Sebrae faz parte como avalista na tomada de crédito por meio do FAMPE. Atualmente, segundo Décio, os empreendedores de pequenos negócios enfrentam um sistema financeiro que foi feito para as grandes empresas – 6,3 milhões de microempreendedores que estão inviabilizados economicamente. "Por isso, o Sebrae une-se ao Programa Acredita como parceiro estratégico na missão da retomada de um Estado atuante, sendo o maior avalista para aqueles que mais precisam de garantia na hora de negociar com os bancos", pontua.
Histórias que inspiram
- De hobby a fonte de renda
Após 23 anos atuando na área de Recursos Humanos (RH), Ludmila Magalhães decidiu se afastar do seu trabalho devido a um episódio de burnout e empreendeu com um hobby que era uma atividade terapêutica para ela: o origami. Foi assim que a história de LuTsuru Origami começou, no final de 2018.
""O origami surgiu na minha vida num momento de stress emocional. O Monge Sato, que era responsável pelo Templo Budista de Brasília na época, me convidou para participar da Quermesse do Templo. Sabia dobrar somente àquele passarinho tradicional, o Tsuru"" Ludmila Magalhães, empreendedora na área de origamis
Depois, Ludmila começou a dar aulas no Templo e os pedidos foram surgindo. Dois anos depois, sua filha Thais Rangel, na época, estudante de Comunicação na Universidede de Brasília (UnB), criou a logomarca da loja e, ainda, o plano de negócios da marca.
A obtenção de crédito, para Ludmila, é um aspecto de relevância, especialmente por trazer a possibilidade de criação, como o investimento de coleções sazonais para datas comemorativas. Ela ressalta que, nesse contexto, também será possível ter um fundo de reserva e investir em estudos, além de apostar na compra de materiais de maior qualidade.
"Por atuar com arte, existe uma dificuldade na valorização e precificação. Há também a instabilidade financeira. Há meses que consigo um faturamento significativo, principalmente quando atendo pedidos corporativos. Em outros meses, praticamente não consigo honrar com meus gastos fixos mensais. Atuar com criatividade também tem seus desafios em estar sempre criando novidades", pondera.
- Produtos afrobrasileiros originais
Em 2016, o mercado brasileiro recebia a Saúda Afro, criada pode Anderson Rosa. "Muitas amigas minhas estavam passando por transição capilar, e buscavam brincos chamativos que pudessem atrair a atenção para o acessório e não para o processo de aceitação do cabelo natural. Foi quando passei a desenvolver joias que além de elevar a autoestima, também ajudam a contar histórias de referências negras através do design dos produtos", diz.
De acordo com o empresário, uma vasta pesquisa sobre o mercado evidenciou que a maioria dos produtos afrocentrados do mercado, naquela época, eram desenhados e fabricados na China, sem apreço por qualidade e pelos símbolos do Brasil. "Foi então que passamos a criar produtos afrobrasileiros originais", destaca.
Para o empreendedor, no seu negócio, a obtenção de crédito permitirá o investimento em ações de marketing e, também, na aquisição de novos produtos, expandindo a carteira de clientes da marca.
Anderson avalia que, hoje em dia, a sua principal dificuldade é encontrar novos clientes. "Cerca de 80% das nossas vendas são para o varejo. Varejo esse que tem tido pouco poder de compra, o que impacta também as nossas vendas em atacado, pois afeta a revenda", explica.
- O mundo da naturoterapia
Fundadora da marca Casé Velas, Ana Carolina Casé Lopes sempre teve interesse pela área de empreendedorismo. Ainda que tivesse se aventurado em outros nichos, como direito e veterinária, a empresária sentia que algo faltava em sua vida. "Minha paixão sempre foi pelo contato com pessoas, pelos negócios e pela busca constante por algo mais", conta.
Em busca de autoconhecimento e crescimento pessoal, a empreendedora se encantou pelo mundo da naturoterapia. A conexão com o termo “ecologicamente sustentável” e as terapias naturais, como o uso de óleos essenciais, despertou uma nova paixão em sua vida.
"A pandemia trouxe consigo mudanças significativas na sociedade e as pessoas passaram a buscar mais por produtos que proporcionassem autocuidado e bem-estar. Foi nesse contexto que meu amor pelas velas aromáticas floresceu. Mais do que apenas produtos, elas oferecem momentos de relaxamento e conforto, ajudando a aliviar o estresse e a ansiedade do dia a dia", informa.
Com oito meses de negócios - e muitos projetos de expansão - , Ana Carolina tem conhecimento que, na jornada do empreendedorismo, há diversos desafios para serem enfrentados. "Uma das grandes dificuldades é conseguir crédito para investir no nosso negócio. Os bancos muitas vezes pedem muitos documentos e é difícil conseguir dinheiro emprestado", relata.
Por isso, para ela, o suporte na renegociação de dívidas, por exemplo, é uma ferramenta capaz de facilitar a vida dos empresários, capaz de dar uma segunda chance para seguir em frente.