Os caminhos para a descarbonização da indústria

Estudo da CNI divulgado na COP28 estima R$ 40 bi em investimentos, até 2050, para O SETOR atingir neutralidade climática

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postado em 15/12/2023 10:29
Diálogo empresarial para uma economia de baixo carbono -  (crédito: Divulgação/CNI)
Diálogo empresarial para uma economia de baixo carbono - (crédito: Divulgação/CNI)

O setor industrial brasileiro tem feito sua parte, como demonstram as iniciativas apresentadas no espaço da Confederação Nacional da Indústria (CNI), na Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Os esforços mundiais para conter o aquecimento global abaixo de 1,5º C exigem que os países alcancem a neutralidade de emissões até 2050.

Para o futuro, no entanto, há muito ainda a ser feito. De acordo com o estudo “Oportunidades e Riscos da Descarbonização da Indústria Brasileira – Roteiro para uma Estratégia Nacional ”, divulgado na COP28, serão necessários cerca de R$ 40 bilhões em investimentos para que o setor se descarbonize e atinja a neutralidade climática.

O custo estimado foi obtido a partir da revisão de estudos feitos nos últimos anos no Brasil e a partir de consultas a especialistas de cada segmento industrial. Como o país enfrenta entraves, como o custo elevado de capital e o “Custo Brasil”, o valor pode ser ainda mais elevado para tirar do papel os investimentos em novas tecnologias e processos de produção mais limpos.

“Com as condições adequadas, a indústria brasileira pode se tornar um ator significativo na economia global de baixo carbono”, afirma Ricardo Alban. No entanto, para que isso ocorra, “são necessárias condições econômicas e políticas claras e estáveis, para que possamos atrair investimentos e impulsionar inovação em tecnologias.”

Conhecimentos e adaptações

“O Brasil, hoje, retoma a pauta da agenda do clima. Não se trata de opção – há uma necessidade de agir, enfrentar a emergência climática com ações eficazes, com política ambiciosa, e é isso que o governo tem buscado fazer neste ano de 2023. Em 2024, um plano de clima e a mobilização da sociedade devem dar um salto”, afirma Inamara Mélo, coordenadora geral de Adaptação à Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, em painel da CNI na COP28.

Também o coordenador geral de Ciência do Clima e Sustentabilidade do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI), Márcio Rojas, detalhou no painel as ações de sua área, sabendo-se que, atualmente, em 18 ministérios, há estruturas dedicadas à agenda climática. O setor industrial pode ser beneficiado por investimentos do MCTI.

“A gente tem avançado na área de fronteira do conhecimento; lançamos um programa de R$ 50 milhões para pesquisas na área de adaptação. O ministério entende ser importante trabalhar o conhecimento gerado e colocar de forma acessível, para que seja aproveitado pelos tomadores de decisão, inclusive do setor privado”, destacou Rojas.

As propostas apresentadas para descarbonização na COP28, pela CNI, são parte de um projeto nacional que consolide a economia de baixo carbono, baseada em quatro amplos pilares: transição energética, mercado regulado de carbono, economia circular e conservação das florestas.

Transição energética

Com as matrizes energética (47,4%) e elétrica (92%) limpas, o Brasil tem uma posição privilegiada em relação aos demais países. Para se ter uma ideia, em 2021, os países da OCDE atingiram 30,8% de renováveis da matriz elétrica e 11,5% na matriz energética, segundo a Agência Nacional de Energia (IEA).

Há potenciais à espera de investimentos no país, como a ampliação de fontes eólicas, solares e bioenergia, além de novas tecnologias como o hidrogênio verde, obtido a partir de fontes renováveis e biocombustíveis na área de transportes. O Senai, por exemplo, vem avançando em método inovador para produção de SAF (sustainable aviation fuel), substituto dos combustíveis fósseis da aviação. Nesse caso, a aposta é em SAF tendo a glicerina como matéria-prima, de alto valor energético e baixo valor comercial.

Mercado de carbono

“Se, no primeiro ponto, as fontes de energia limpa estarão cada vez mais presentes no horizonte, a regulamentação do mercado de carbono é o ponto central do segundo conjunto de ações, e já segue em discussão no Congresso Nacional”, explica Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI.

Um mercado regulado de carbono é um dos meios de viabilizar recursos financeiros que estimulem o processo de descarbonização e o surgimento de mais fontes de energia limpa, a custos baixos. Em junho deste ano, a CNI apresentou sua proposta de regulamentação para esse mercado, que, segundo o Banco Mundial, movimentou em torno de US$ 95 bilhões em 2022.

Economia circular

No pilar Economia Circular, a CNI sugere a elaboração de uma política nacional com organização de uma base de dados, que contemple todo o Brasil e mapeie as melhores práticas. O conceito de economia circular é aquele capaz de manter o fluxo circular dos recursos, por meio da recuperação, retenção e adição de seus valores, além de contribuir para o desenvolvimento sustentável.

A CNI lançou uma ferramenta, a Rota de Maturidade em Economia Circular, que permite as empresas realizarem uma auto avaliação e receberem um diagnóstico sobre o grau de adoção de práticas de economia circular. Além disso, a empresa recebe uma série de recomendações com o objetivo de apoiar a definição de estratégias e construção de planos de ação para implementação de práticas de Economia Circular.

Conservação florestal e bioeconomia

O pilar de conservação florestal propõe o fortalecimento da gestão de florestas públicas, o uso sustentável da biodiversidade e o estabelecimento das bases técnicas e normativas para o desenvolvimento e avanço da agenda de bioeconomia do país. Nossas florestas e nossa biodiversidade precisam ser tratadas também sob a ótica econômica, segundo a entidade. Ver os “recursos naturais como ativos é fundamental para o avanço econômico do Brasil”, segundo a CNI.

Nesse sentido, é crescente a necessidade de se investir em ecossistemas de inovação, buscando garantir a competitividade do setor industrial. São também propostas a implementação efetiva dos instrumentos previstos no Código Florestal e a aceleração do processo de regularização fundiária.

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